CULTURA
Artistas ocupam antigo Zanzibar

Por Chico Castro Jr.

Ao lado da Prefeitura, uma cancela com um policial militar controla a passagem para a Ladeira da Misericórdia. Liberada a rota de descida (só para pedestres), chega-se ao antigo Restaurante Coaty (depois Zanzibar), onde um grupo de artistas e intelectuais prepara uma ocupação de dois meses no local, a partir deste sábado, 9.
Sítio histórico abandonado e degradado no centro antigo da cidade, o Coaty foi uma espécie de piloto para um plano de revitalização da área, tocado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) - por sua vez, contratada pelo então prefeito Mário Kertész, no longínquo ano de 1987.
Infelizmente, o plano não decolou. O Coaty se tornou o restaurante Zanzibar, que operou até alguns anos atrás, quando foi deixado de vez. Agora, os membros do Projeto Ativa, liderado pela artista plástica Lanussi Pasquali, promovem uma ocupação artística até o fim de maio no local, em uma ação apoiada via edital do Fundo de Cultura (Secretarias da Fazenda e de Cultura do Governo da Bahia).
Na quinta-feira, alguns artistas, mediadores e operários trabalhavam a todo vapor para a abertura da Ocupação Coaty, em meio à arquitetura desconcertante do local e à paisagem exuberante da Baía de Todos os Santos mais abaixo. "Meu instagram vai bombar!", comemorava o norte-americano/pernambucano Arto Lindsay, ao clicar mais um ângulo inusitado do local.
Arto é um dos artistas que se apresentam ou expõem na Ocupação. Ele vai fazer um número experimental com sua guitarra, acompanhado de Ícaro Sá na percussão. "Acho que Gilberto Monte vem fazer uns ruídos eletrônicos também, mas falta confirmar", diz.
Além dele, artistas como Elaine Tedesco, Fernando Limberger, Lanussi Pasquali, Alexia Zuniga, Joãozito, Klaus W. Eisenlohr, Adriana Araújo, Fábio Gatti e Mayra Lins também desenvolvem obras no local - instalações site specific, no jargão das artes visuais. Até o fim de maio ainda haverá cursos, oficinas, palestras, performances musicais e exposições.
Padrão plissado
Gaúcha residente em Salvador há 15 anos, Lanussi Pasquali espera, com a Ocupação, chamar a atenção para locais como o antigo Zanzibar. "São espaços abandonados com potenciais realmente incríveis, mas que se perdem no meio do crescimento desordenado da cidade", afirma.
"Antes da revitalização de 1987, aqui só havia um muro de contenção. Aí, quando a Lina Bo Bardi assumiu a obra, deu uma folha de palmeira para o Lelé (o arquiteto João Filgueiras Lima) e pediu que ele desenvolvesse a partir daquilo. Daí veio esse padrão 'plissado' que está em todo o complexo arquitetônico", conta.
Prevista para durar dois meses, a Ocupação acaba em junho. Lanussi ainda não sabe o que será do local a partir daí: "Bom, isso não é uma revitalização. É um despertar para o que temos aqui. Torçamos para que algo aconteça, que o poder público ou a iniciativa privada abracem o Coaty".
Palestrante de hoje, a também gaúcha Elaine Tedesco traz à cidade a experiência de ocupações artísticas em Porto Alegre. "Vou falar sobre o (grupo) Arte Construtora, que ocupou nos anos 1990 a Casa da Ilha da Pólvora e fez a diferença na cidade. Esses espaços à deriva nos interessam, é preciso olhar para eles", diz.
"São ocupações com pontos em comum, mas a de Porto Alegre foi há muito tempo já, era outra época", percebe.Assuntando em meio aos artistas e operários, sentindo o clima do local, Arto Lindsay lembrava que chegou a frequentar o antigo Zanzibar.
"Vim aqui mais de uma vez, com certeza", disse, o olhar viajando no entorno. "O Coaty é um palco carregado e dramático para nossa Ocupação. Mas não estamos criando um PDDU alternativo. Não é uma questão de oferecer utopias. É mais uma questão de escutar o passado e o presente da cidade. Vem assistir a nossa escuta", convida.
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