DANÇA
Balé do Teatro Castro Alves e Reforma Cia de Dança estreiam espetáculo
Inspirada em culturas africanas, indígenas e afro-brasileiras, a obra se ancora no significado da palavra iorubá Eró
Por Israel Risan*
O Balé Teatro Castro Alves (BTCA) e a Reforma Cia de Dança apresentam o espetáculo Eró, a partir de amanhã até domingo (1º de dezembro), na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. A obra marca um encontro entre gerações e explora a concepção do tempo como uma espiral onde passado, presente e futuro coexistem.
Com dramaturgia e direção de Jorge Vermelho, co-direção de Guego Anunciação e coreografia de Henrique Rodovalho, Eró resulta da convivência artística de quatro meses entre o BTCA e a Reforma, por meio do projeto "BTCA Residência".
Para Guilherme Hunder, diretor executivo do BTCA, o espetáculo simboliza uma constante reinvenção.
"O projeto reforça o papel da companhia como promotora de diálogo entre trajetórias e vivências artísticas", afirma Guilherme.
Inspirada em culturas africanas, indígenas e afro-brasileiras, a obra se ancora no significado da palavra iorubá Eró, que remete a calma e apaziguamento.
Segundo Jorge Vermelho, o termo foi integrado à dramaturgia como uma reflexão sobre a urgência do mundo contemporâneo. "É um pedido ao tempo para que desacelere, permitindo que memórias e experiências se entrelacem", explica o diretor.
A montagem também se destaca por unir artistas de diferentes gerações e trajetórias. Henrique Rodovalho destaca o impacto dessa pluralidade na criação coreográfica. "A diversidade de corpos trouxe riqueza aos movimentos, mostrando que a dança não tem idade e que cada trajetória contribui para novas dinâmicas cênicas", pontua o coreógrafo.
Diálogo entre universos
O espetáculo propõe uma releitura do tempo, não como uma linha cronológica, mas como uma rede em que cada ponto se conecta a outro. Para Vermelho, a obra não se limita a recriar ciclos, mas sim a ressignificar a experiência do tempo. "É uma espiral onde o passado ilumina o presente e molda o futuro", diz.
Além de seu significado artístico, Eró reflete o compromisso do BTCA em valorizar a memória do corpo e renovar diálogos estéticos. Para Guego Anunciação, o intercâmbio com o BTCA foi uma experiência de aprendizado mútuo. "Vivenciar essa partilha entre corpos diversos reafirma a dança como um espaço essencial para a sociedade", comenta.
O projeto "BTCA Residência", retomado neste ano, foi central para a criação do espetáculo. Lançado em 2008, o programa promove trocas artísticas e incentiva o diálogo entre diferentes abordagens da dança contemporânea.
Guilherme Hunder considera o retorno do projeto como um marco para a companhia. "Ele reafirma nosso compromisso com a formação e a inovação no campo artístico", declara.
A colaboração entre o BTCA, fundado em 1981, e a Reforma Cia de Dança, ativa desde 2012, une experiências de uma companhia pública consolidada e de um grupo independente focado na difusão da dança contemporânea. Durante a residência, as companhias compartilharam processos criativos e abordagens artísticas que resultaram na concepção de Eró.
Rodovalho destaca o desafio de integrar tradições culturais com a dança contemporânea sem cair no folclórico. "Buscamos criar um diálogo entre universos distintos, preservando as gestualidades características e conectando-as ao vocabulário contemporâneo", explica o coreógrafo.
A dramaturgia do espetáculo foi construída com base na obra de Leda Maria Martins, que defende uma visão de tempo cíclica. Jorge Vermelho ressalta como essa perspectiva influenciou a narrativa.
“A dramaturgia não segue um encadeamento tradicional. Na verdade, ela revisita camadas temporais para compor uma escrita que espelha o conceito de espiral", esclarece.
Transcender o tempo
A cenografia e o uso do espaço cênico também refletem a temática. O palco circular simboliza a ideia de temporalidade espiralar, sendo constantemente transformado pelos movimentos dos bailarinos e pelos elementos visuais e sonoros da obra.
A proposta é criar um ambiente onde diferentes tempos se encontram e se interpenetram.
Anunciação destaca a importância do espetáculo para o cenário da dança na Bahia. "Essa parceria contribui para o fortalecimento da dança contemporânea no estado e mostra como o diálogo entre companhias pode gerar novas perspectivas artísticas", afirma o co-diretor.
Eró também convida o público a refletir sobre o papel da dança na sociedade atual. Para o diretor, a obra reforça que a arte é um espaço de ressignificação e transformação. "A dança permite revisitar memórias e reimaginar futuros, conectando experiências que transcendem o tempo", comenta Vermelho.
Para Jorge Vermelho, o principal legado do espetáculo é a celebração das conexões humanas. "O tempo não é apenas uma medida; é a essência de nossas relações e da nossa existência. Eró é um convite para vivermos essa experiência juntos", conclui o diretor.
O espetáculo será apresentado em três noites consecutivas, com ingressos a preços populares. As sessões acontecem na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, espaço que tem sido palco de iniciativas relevantes para a dança contemporânea na Bahia.
A entrada após o início da sessão é proibida, para garantir a imersão completa do público na experiência proposta pela montagem.
ERÓ / Amanhã, sábado (30) e domingo (1º), 20h / Sala do Coro do Teatro Castro Alves / R$ 20 e R$ 10 / Vendas: Sympla / Classificação 18 anos
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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