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CULTURA

Benjamin, lição de vida e felicidade

Por Ranulfo Bocayuva*

06/02/2009 - 0:06 h

Generosidade, compreensão e confiança. Ousamos dizer que são alguns dos temas tratados no filme O curioso caso de Benjamin Button, do diretor David Fincher, que conseguiu abordar com originalidade vida e morte ao inverso, ou seja, da velhice para a infância. Estão também intensamente presentes outros temas, como reflexão sobre a vida e sua fragilidade, a dança e os movimentos, o mar e sua imensidão e, principalmente, o tempo e sua volta ao passado, como se fossem fotogramas ou câmera lenta de Eadweard Muybridge, chamado, em 1872, de o “Inventor da imagem animada” no livro de Kevin Mac Donnell.

O que pode ser tão original, afinal? Desconsiderando os méritos dos efeitos especiais, graças às avançadas técnicas cinematográficas, o espectador é levado imediatamente a se simpatizar com o personagem principal, vivido com sensibilidade, autocontrole e despojamento pelo jovem e maduro ator Brad Pitt. Largado e rejeitado por seu pai rico e branco nas escadas de uma casa de Nova Orleans (EUA), em 1918, o bebê doente com cara de velho foi recolhido e amado por Queenie (interpretada por Taraji Henson), caridosa senhora negra com rara alma maternal. Não custa lembrar que, nesta época, os conflitos raciais assolavam a região, que também foi evocada pela narradora da história (Daisy) em seu leito de morte, em 2005, já tendo como pano de fundo o furacão “Katrina”, aliás, numa alusão gratuita e descontextualizada, cuja exclusão do roteiro, possivelmente, em nada afetaria sua qualidade cinematográfica. Ser um bebê velho que regride até morrer jovem é realmente confuso, porque sempre pensamos na morte associada à velhice. Apesar disso, sua vida foi feliz. Magnetizam o espectador, durante 2h47, o amor e a paixão devotados a Benjamin, assim como seus próprios sentimentos em relação a Daisy (vivida pela cativante Cate Blanchett) e Queenie, sua mãe adotiva, que se tornaram suas mais afetivas imagens femininas, sem esquecer, é claro, da descoberta do namoro, caviar e vodca, usufruídos com Elizabeth Abbott (Tilda Swinton) por meio de um destes momentos imprevisíveis num hotel durante noite fria e chuvosa.

E não seria esta sabedoria que já nos ensinavam os filósofos gregos?

“Do mesmo modo, a própria vida não deve ser objeto de apego... Não se trata de desprezar o nosso ser, nem de fazer crer que quanto mais cedo morrermos, melhor. Trata-se, pelo contrário, de perceber que não temos nada mais precioso do que o tempo limitado da nossa existência, mas que, se soubermos vivê-la plenamente, não importa que esse tempo seja mais ou menos longo”, explica o filósofo Roger-Pol Droit na introdução do livro A vida feliz, de Séneca.

Tampouco podemos nos esquecer do capitão Mike (Jared Harris), que confiou em Benjamin, empregando-lhe como auxiliar nas operações de seu barco. Mike não somente lhe ensina o ofício, mas lhe permite descobrir os prazeres do corpo feminino. Torna-se seu guia e amigo, sem julgar seus defeitos.

Fincher foi, certamente, além das 25 páginas originais da história de Scott Fitzgerald para estabelecer no cinema grandiosidade humana através de seus atores, interpretando as dificuldades existenciais e transformando-as em verdadeiros combustíveis para a realização de sonhos e projetos. Talvez, em função da própria vida pessoal do autor, caracterizado como excêntrico, alcoólatra e inconsequente, que desperdiçou muito do seu talento e criatividade, conforme um de seus biógrafos Jeffrey Meyers (citado por Michiko Katumi no artigo “Vida tumultuada e tempos neste lado do paraíso”, publicado no “New York Times”), Fitzgerald tenha justamente recriado tal personagem.

Tudo na vida de Benjamin o levava para destino de tristeza e rejeição. E o filme mostra exatamente o contrário: das suas fraquezas surgem suas forças.

Há, finalmente, duas belíssimas cenas, em momentos diferentes do filme, nas quais os dois principais personagens caem, exemplificando a ideia de superação. Benjamin cai no palco após ser obrigado a caminhar e descobre que pode andar, apesar das suas deficiências físicas. E quando a bailarina Daisy é atropelada numa magnífica sucessão de cenas em câmera lenta “a la Muybridge”, e se vê impedida de voltar a dançar. Após o acidente, ela resolve ensinar balé.

Os dois personagens se encontram, se desencontram e se reencontram, superando juntos a dor de cada um. Uma lição de vida ou de como ser feliz.

RANULFO BOCAYUVA é Jornalista e diretor executivo do Grupo A TARDE

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