AOS 81 ANOS
Caetano Veloso encerra turnê em Salvador com Concha lotada
Último show da turnê “Meu Coco” no Brasil teve homenagem ao compositor Carlos Lyra
Por Lula Bonfim

O último show da turnê “Meu Coco” no Brasil, como não poderia deixar de ser, foi em Salvador. A Concha Acústica esteve lotada mais uma vez neste domingo, 17, para acompanhar a terceira apresentação de Caetano Veloso no final de semana. O público concorreu para ocupar os melhores lugares da arquibancada, que terminou sem espaço até nas escadas.
Na plateia, havia ilustres presenças, como o cantor Magary Lord e os secretários estaduais Bruno Monteiro, da Cultura, e Felipe Freitas, responsável pela pasta de Justiça e Direitos Humanos. Mas o público era composto também por brasileiros desconhecidos, jovens e idosos, de diversas regiões do Nordeste, que viajaram para acompanhar o ídolo tropicalista de 81 anos.
Quando Caetano e a sua banda subiram ao palco, às 19h10, o público foi ao delírio. O santamarense saudou a plateia e deu início ao show emendando duas canções de épocas diferentes: primeiro, a bossa nova “Avarandado”, gravada inicialmente por Gal Costa no disco “Domingo”, que lançou os dois na música brasileira; depois, “Meu Coco”, música-título do álbum mais recente e que também nomeia a turnê.
Caetano ainda tocou o rock “Anjos Tronchos”, também do último álbum, antes de cantar o clássico “Sampa”, primeira canção que fez o público entoar uníssono na Concha Acústica. A música, que homenageia a cidade de São Paulo com todas as suas belezas e contradições, marcou a carreira do baiano e é figurinha carimbada em rodas de samba de todo o Brasil, mesmo com sua poesia requintada.
A Concha Acústica também cantou junto com o artista santamarense outro grande sucesso, que marcou época na voz do “rei” Roberto Carlos. “Muito Romântico” nunca foi muito cantava por Caetano durante a carreira, mas ganhou espaço na atual turnê após anos de pedidos dos fãs.

A apresentação seguiu com o funk “Não Vou Deixar”, composta como uma reação de Caetano à eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018, e com o rock bilíngue “You Don’t Know Me”, que representa a tristeza do baiano durante o exílio em Londres, na Inglaterra, entre o fim dos anos 1960 e o início da década de 1970. Mesmo nos trechos em inglês, boa parte do público cantava a música, que integra o idolatrado álbum “Transa”.
Na sequência, uma pequena alteração do roteiro tradicional do show. Caetano sentou em uma cadeira e apresentou, apenas com voz e violão, a canção “Quando Chegares”, do compositor bossanovista Carlos Lyra, que faleceu neste sábado, 16. A homenagem dava o tom da importância que o movimento bossa nova para a carreira do filho de Dona Canô.
“Trilhos Urbanos”, que relata a Santo Amaro da infância do artista, e a romântica e oriental “Ciclâmen do Líbano” também foram tocadas por Caetano sentado em uma cadeira, mas desta vez acompanhado por sua banda.
O show teve mais uma parada para que Veloso explicasse uma batida de violão que marcou sua carreira e que o faz ser reconhecido em qualquer lugar. O estilo, nomeado por Gilberto Gil como “marcha caetaneada”, chegou a inspirar Djavan na composição de “Sina”, que cita o baiano no verso “como querer caetanear o que há de bom”.
A explicação foi uma introdução para a apresentação da música “A Outra Banda da Terra”, composição de 1983 que homenageia a banda que o acompanhava na época e sobretudo o sotaque das mulheres paulistas que o cercavam durante a turnê de Caetano no interior de São Paulo. O “R” retroflexo, marcante da influência guarani no Brasil, é replicado pelo artista durante a canção, o que arrancou alguns risos da plateia.
“Araçá Azul”, música pouco compreendida pelo grande público, mas que representa o experimentalismo fundamental da carreira de Caetano, e o clássico forró “Cajuína”, uma homenagem ao amigo Torquato Neto e seu pai, deram sequência ao roteiro do show, cumprido com poucas mudanças desde o início da turnê.

Com Caetano já de pé, o público também levantou ao ouvir os primeiros acordes do samba de roda mais famoso do Brasil. “Reconvexo”, imortalizada na voz da irmã Maria Bethânia, foi cantada em coro pelos fãs da família Veloso, que mostraram que a Bahia não desaprendeu a sambar.
“O Leãozinho”, clássico composto por Caetano em homenagem ao baixista Dadi Carvalho, também teve participação intensa da plateia, que voltou a se sentar nas apresentações de “Itapuã”, “Pulsar” e “A Bossa Nova é Foda”, com letra que cita de forma indireta — “o magno instrumento grego antigo” — o já homenageado Carlos Lyra.
Foi com “Baby”, canção tropicalista feita a pedido de Bethânia mas cantada a carreira inteira por Gal Costa, que o público voltou a se levantar para cantar, comportamento que se repetiu na apresentação de “Menino do Rio”.
As animadas “Sem Samba Não Dá” e “Lua de São Jorge” encerraram o tempo regulamentar do show, fazendo o público cantar e dançar, antes de Caetano e sua banda deixarem o palco à espera do pedido de “mais um”.
O público não arredou o pé da Concha Acústica e viu os artistas retornarem ao palco para tocar, no bis, a tranquila e pouco conhecida “Mansidão”, antes das animadas e apoteóticas “Odara” e “A Luz de Tieta”, que fizeram os fãs tirarem o pé do chão, antes do término da apresentação de 1 hora e 27 minutos.
Com o término do último show da turnê “Meu Coco” no Brasil, Caetano agora se encaminha para férias merecidas. O artista, que mora na Zona Sul do Rio de Janeiro, costuma passar suas temporadas de verão em sua casa de Salvador, localizada no Rio Vermelho. Ele só volta a se apresentar em março, com dois shows em Porto Alegre, antes de uma sequência em diversas cidades dos Estados Unidos.
Até lá, quem quiser vê-lo, vai ter que dar plantão na noite do bairro mais boêmio de Salvador ou aguardar um passeio do “vovô” de 81 anos no seu amado Porto da Barra.

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