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CULTURA

Cantora baiana Josyara lança ÀdeusdarÁ, segundo disco de carreira

Álbum já está disponível nos mais importantes tocadores virtuais de música

Por Daniel Farias

28/08/2022 - 0:00 h
Para Josyara, ter a coragem de dizer o que quer com sua música não deixa de ser um grande  ato político
Para Josyara, ter a coragem de dizer o que quer com sua música não deixa de ser um grande ato político -

"Não existe amor sem rebeldia”, diz a cantora e compositor Josyara ao tratar da liberdade, um dos temas mais recorrentes em suas canções. Os movimentos da vida, do tempo, dos encontros e das lutas cotidianas, aliás, sempre inspiraram a artista, desde as suas primeiras composições em Juazeiro, cidade onde nasceu, no norte da Bahia.

"São assuntos que me tocam profundamentes. Não tenho como falar de amor sem falar de liberdade. Assim como não tenho como falar de luta contra as opressões sem falar de amor”, afirma Josyara, que acaba de lançar seu segundo disco, ÀdeusdarÁ, pela gravadora Deckdisc, já disponível nas plataformas digitais.

Em dez músicas, a cantora e compositora passeia por diferentes assuntos, dos sonhos e da saudade à denúncia de crimes ambientais e o combate às diversas formas de opressão, e ritmos musicais com forte presença do seu violão, do eletrônico e da percussão.

"É perceptível que mais do que nunca as liberdades, que foram arduamente conquistadas em forma de direitos, estão ameaçadas pelo governo atual e por diversas instâncias que se sentem fortalecidas em querer exterminar qualquer expressão de liberdade”, ressalta.

Novos contornos

A sua voz marcante e as harmonias do seu violão, centrais em seus trabalho, ganharam novos contornos no processo de criação do disco. Somaram-se os elementos eletrônicos e sintetizadores, que passaram a fazer parte do seu dia a dia durante o período de isolamento na pandemia, quando Josyara dedicou-se aos estudos dessas ferramentas e às experimentações.

"Ao contrário de Mansa Fúria, nesse disco comecei as composições pelas bases, os beats, samples, fui brincando com essas ferramentas eletrônicas e somando às letras e ao violão. O computador me ajudou muito a sistematizar as ideias que surgiam”, conta Josyara, que assina a produção musical do álbum, gravado entre Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro e que tem a participação de dezenas de músicos e musicistas.

“Vi que precisava assumir o que eu queria dizer com minha música e que ter essa coragem era, também, um ato político. Nós temos mulheres na produção musical, mas infelizmente elas ainda são invisibilizadas, não são reconhecidas da mesma forma que os homens. Essa reflexão foi parte importante do movimento de me assumir produtora, ter maior autonomia com meu trabalho, coragem de dar esse passo e me colocar nesse lugar de aprendiz”, acrescenta.

A primeira música feita a partir dessas experimentações caseiras foi ladoAlado, que abre ÀdeusdarÁ e traz a participação da cantora Margareth Menezes. Josyara relata que, na pandemia, uma das formas de aliviar as tensões foi a música, tanto compondo, como ouvindo. Vivendo em São Paulo, em meio ao isolamento, também sentiu saudade de Salvador, de Juazeiro, da Bahia.

Alguns dos discos que embalaram dias e noites reclusos e saudosos são exatamente de Margareth. “A música me ajudou com aquela saudade toda. O Kindala (disco de Margareth, de 1991) é um disco muito forte, muito político, mas que também fala de amor quando ela canta Me abraça e me beija, por exemplo. O Afropopbrasileiro e o Autêntica também foram discos que escutei muito”.

Parceria musical

No processo de criação do disco, Josyara convidou Margareth para dividir o canto na música, que, já no título, ladoAlado, diz tanto das parcerias e do lado a lado, como do ser ‘alado’, que remete à liberdade, assumindo, assim, um lugar político do estar junto. "Margareth é uma das maiores cantoras do Brasil, não tem como não se emocionar quando ela canta. Sou muito fã. Fiz o convite e ela generosamente aceitou. Me sinto muito grata e realizada com essa parceria”, diz.

Na música Ouro&Lama, a cantora e compositora aborda questões ambientais. Ela fez a música a partir do que aconteceu em Brumadinho (MG) e da impunidade dos crimes que continuam devastando nossos rios e florestas. “Notícias de minério ilegal, dos incêndios na Amazônia, da destruição de comunidades inteiras para a construção de hidroelétricas, tudo isso em nome do `progresso`. Que tipo de progresso é esse que o Brasil estampa em sua bandeira?”, questiona.

A canção traz elementos do samba de roda no arranjo e a denúncia política explícita na letra: “Prometeram ouro pra colher, lama pra comer / […] quanto vale ter que exterminar com os povos, as matas?”, pergunta. "É um ritmo que é nosso, do Recôncavo baiano, onde corre o extenso rio Paraguaçu. Eu sou ribeirinha, cresci na beira do São Francisco e me revolta muito ver nossas águas sendo poluídas, nosso povo sendo violentado sistematicamente, seja pela ausência do Estado ou por sua presença criminosa”, fala Josyara.

O disco traz ainda ÀdeusdarÁ, homônima na qual Josyara fala de saudade, de desapego e dos movimentos da vida, enquanto em Essa Cobiça segue pelo xote em uma canção de amor que alude aos vínculos e encontros. Já BerrO é um grito de esperança de que esses tempos difíceis vão passar e que o amanhã brilhará. Fechando o disco, canto à liberdade, música que reafirma o amor, abrindo as portas, enfrentando o medo e as prisões, como base para a construção de um outro futuro.

O lançamento do show dedicado ao disco será realizado no dia 2 de setembro, no Sesc Pompeia, em São Paulo. Por enquanto, não há data confirmada para a capital baiana. “Desejo muito poder circular pelo Brasil com esse disco e levar o quanto antes esse show pra Salvador e outras cidades da Bahia e do Nordeste”, diz a cantora.

Enquanto o espetáculo não chega por aqui, a arte de Josyara continua circulando, em movimento, encontrando corações e mentes. Mobilizando afetos da liberdade. "A arte é uma forma de dizer que não vamos abrir mão de ser e de lutar. A liberdade só existe de fato se for coletiva. E, para isso, devemos observar e aprender com as lutas dos povos indígenas e quilombolas, do povo de santo, dos ribeirinhos da Amazônia, de quem habita este país sob uma outra cosmopercepção de vida e tem muito a nos ensinar", finaliza.

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