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13/01/2016 às 8:06 - há XX semanas | Autor: Rodrigo Sarubbi | Especial para A TARDE

CULTURA

Carlos Henrique Schroeder: "Eu sou um nerd do interior"

Carlos Henrique Schroeder
Carlos Henrique Schroeder -

Maior ficcionista de Santa Catarina em atividade, Carlos Henrique Schroeder é uma legião de almas disputando um só corpo. Escritor, editor e organizador de eventos literários. Publicou nos últimos dois anos os romances "As Fantasias Eletivas" e "A História da Chuva", ambos pela Record e já na segunda edição.

A editora Design, da qual é sócio, publica com frequência alguns dos autores destaque do cenário estadual. Foi por anos o organizador da Feira do Livro de Jaraguá do Sul e é também o idealizador do Festival Nacional do Conto, evento que anualmente recebe parte da nata brasileira das formas breves, pelas quais é confesso apaixonado. Trocamos ideias com esse homem que respira literatura. E que pretende este ano dedicar-se ao boxe e aos filhos.

Como o fato de você ser editor interfere na sua escrita?

Editar livros e revistas literárias me ensinou a ser mais preciso, a ter em mente o objetivo final do processo de escritura e persegui-lo: mas também a ser fiel às minhas obsessões e não às demandas do mercado. Como editor pude entender que o jogo nem sempre é honesto, escritores muito interessantes não são reconhecidos em seu tempo por culpa do imediatismo e da espetacularização, então prefiro ter um projeto de escrita do que uma carreira.

E qual você considera ter sido a sua maior conquista enquanto homem de letras?

Ter conseguido me disciplinar para conseguir ler duas ou três horas por dia. Isso é meu maior orgulho, parece algo fácil, mas para quem tem dois filhos pequenos e uma rotina de trabalho estressante, é uma dádiva. A maior conquista de um escritor, ao meu ver, é poder ler quando e o que quiser.

"História da Chuva" conta histórias do teatro, em especial o de bonecos. Até onde você sentiu que os personagens eram bonecos sob seu comando, e até onde resistiam?

Esse livro me deu muito trabalho, se não fosse a bolsa e o contrato assinado, que me obrigavam a entregar o livro, eu provavelmente desistiria. Já me acovardei algumas vezes diante de uma obra: estou com um romance sobre o poeta Cruz e Souza emperrado, por exemplo, e acho que não sairá. O compromisso fez com que eu não desistisse a cada intempérie que surgia, com que eu abrisse mão de muitas coisas para terminá-lo. E tem também a questão financeira, os recursos que recebi possibilitaram que pudesse ficar mais focado, sem precisar aceitar aquelas toneladas de frilas que equilibram nossas contas. Arthur e Lauro são também a busca de uma imagem: a do artista. As duas epígrafes do livro (Saer e Susanne Langer) tentam até apontar esse caminho, que é tortuoso e infeccioso. Eu gosto dessa palavra, "infecção", e essa é a questão: onde começa a arte e onde termina o mercado? Onde elas se relacionam e se infeccionam? Realizar o perfil de Arthur seria também catalogar os sucessos e fracassos de um artista, e enfrentar duas perguntas: é possível ser imparcial no campo das artes? Até onde vai a liberdade? Durante muito tempo achei que o teatro de animação era a experiência mais radical dentro do teatro, e escrevi esse livro porque não tinha resposta para nenhuma dessas questões.

Até onde você crê que ter entrado em um universo mais amplo do que aquele em que foi criado tem o poder de transformar quem você é?

Eu sou um nerd do interior de Santa Catarina que passou quase quarenta anos dedicados ao livro. Um caipira. Acredito que o território do escritor é a palavra, mas meus fantasmas estão sempre por aqui, em Santa Catarina, então escrevo para confrontá-los. Às vezes funciona, outras, nem tanto. Santiago Nazarian até levantou no ano retrasado o tema da "fuga da cidade" como um recurso dos autores contemporâneos brasileiros. Não sei se é uma tendência, mas moro no interior e estou contaminado por essa paisagem.

De tudo que eu já li seu, Copi (de As Fantasias Eletivas) é a personagem mais fantástica. Como foi o processo de construção dela?

Um romance ou um conto ou um poema podem surgir de uma imagem, de uma música, de uma história ouvida, de uma memória verdadeira ou falsa. Tudo pode ser material para a ficção, e como somos a soma das nossas referências, quanto mais e melhores elas forem, melhor saberemos lidar com o que queremos ou não em nossa escrita. No caso de As Fantasias Eletivas, parti de um ponto muito pessoal: eu já fui recepcionista de hotel, trabalhei em quatro ou cinco hotéis em Balneário Camboriú, e em turnos diferentes. Eu tinha vinte e poucos anos, pouco dinheiro e um senso de observação bem aguçado. Escrevia muitos contos sobre hóspedes, mas sempre acabava jogando fora, pois me sentia como um vampiro. Então escrevi um conto chamado Os Recepcionistas, que está no livro As Certezas e as Palavras, e trata da vida frenética de um recepcionista de hotel. Mas sempre fiquei com a sensação de que não havia exorcizado de vez esse tema. Então ao redor desse conto surgiram algumas obsessões, e eu queria escrever um romance sobre essa época, mas saiu outro absolutamente diferente, mais focado na solidão, na escrita, com um personagem forte como Copi surgindo e tomando conta do livro, deixando de lado Renê, que deveria ser o grande anti-herói do livro. Sim, a travesti-escritora adotou como nome de guerra o pseudônimo ícone argentino Copi que além de grande escritor, louvado por César Aira, Pauls e muitos outros, foi um importante ativista gay. Foi uma forma também de mostrar o quanto a personagem do livro é um espelho sem fim, um espelho da própria escrita.

Projetos?

Não escrever uma linha de ficção em 2016: ler muito, muito, muito. Voltar a fazer boxe e ficar mais tempo com meus filhos. Só.

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