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TEATRO

Casal negro em crise vive noite cercada por tiros em peça no Goethe

Violência urbana periférica e uma relação afetiva permeiam ‘Ana e Tadeu’

Por Eugênio Afonso

10/05/2025 - 5:00 h
Texto inédito é da dramaturga, atriz e professora baiana Mônica Santana
Texto inédito é da dramaturga, atriz e professora baiana Mônica Santana -

Pode o amor resistir à violência que atravessa a vida de um casal? Esta é a pergunta-chave que define o espetáculo teatral Ana e Tadeu, em cartaz no Teatro do Goethe-Institut (Corredor da Vitória) até o próximo dia 18, sempre de quinta-feira a domingo.

Com texto inédito da dramaturga, atriz e professora baiana Mônica Santana, que também está no elenco e vive a protagonista, o espetáculo conta a história de um casal, morador da periferia, que está se separando em meio a um tiroteio que acontece em seu entorno. Sob direção de Diego Araúja (vencedor do Braskem de Teatro 2019, na categoria texto), quem contracena com Mônica (Isto Não É Uma Mulata) na peça é o ator baiano Antônio Marcelo (Candomblé da Barroquinha), intérprete de Tadeu.

Texto e espetáculo nascem do desejo de discutir sobre uma subjetividade negra em um lugar de intimidade, segundo Mônica. “Pensar essa subjetividade, esse lugar de duas pessoas que se amam, mas ao mesmo tempo estão afetadas por um contexto de violência que as cerca”.

“Observar aspectos que são da dimensão do humano, mas também aspectos que afetam determinadas existências de um modo mais vertical, como o racismo, a violência urbana, os aspectos de classe e raça. Como isso afeta as subjetividades”, alinhava a autora.

Para Diego, o espetáculo tem, como motivação e interesse, expor os efeitos de uma segurança pública frágil, sobretudo com relação à violência urbana que se abate sobre um casal de pessoas negras.

“Como isso afeta a relação dessas pessoas, como essas pessoas ficam com traumas. Como essa violência é capaz de destruir uma família negra periférica. Então, o grande poder do texto escrito por Mônica é expor esse sofrimento devido à violência urbana e à violência institucional também”, comenta o diretor

Trajetória negra

Ana é socióloga e Tadeu, músico. Eles estão juntos há 15 anos e tiveram um filho. A relação dos dois tem seus entreveros, no entanto, a violência urbana – cada vez mais comum nas grandes cidades brasileiras – interfere na vida deles de forma tão brutal que acaba trazendo uma série de acontecimentos capazes de mudar irreversivelmente a vida dos personagens.

Com o casamento arruinado, um dia Tadeu volta para pegar suas coisas e fazer a mudança. Contudo, encontra a casa cercada por um tiroteio. Confinados, Ana e Tadeu aparam as últimas arestas de uma relação cercada de afeto, dor e da própria violência que os atravessa e limita.

“Ana é uma mulher de mais de 40 anos, uma pessoa mais politizada, bastante pragmática, endurecida. Não quero falar algumas coisas porque não quero dar spoiler, já que tem um dado importante que traz uma marca de dor muito grande para ela. De adoecimento, depressão, tristeza, de raiva misturada com impotência. Então, Ana é carregada de muita indignação. Esse é o ponto da personagem”, detalha a dramaturga.

Já Tadeu é um homem negro de pouco mais de 40 anos que está vivendo o fim de uma relação por conta das consequências do contexto em que vive. “É um homem que está tentando escapar da violência, e a forma como ele reage diante disso é muito diferente da de Ana. Eu acho que o bacana é que o espetáculo mostra que cada um enfrenta a violência de uma maneira diferente”, explica Antônio Marcelo.

Texto preciso

De acordo com Mônica, a montagem quer discutir também a condição entrincheirada de duas pessoas negras e de ricas trajetórias, mas que, por habitarem uma comunidade periférica, são obrigadas a lidar com o entrincheiramento imposto pelo próprio território.

“Tem uma coisa que me motivou muito na escrita, e que permeia o espetáculo, que é o fato de hoje, em cidades como Salvador, ter havido um recrudescimento da violência nas periferias, tanto da violência de estado quanto dessas próprias facções em grupos armados”, observa a atriz.

“Então, essa é a condição dos personagens. Isso vai afetando momentos de alegria e de troca. Dificilmente, uma pessoa que vive em Salvador não é afetada por esse cenário que tem se intensificado nos últimos anos”, complementa.

Para Antônio Marcelo, o texto de Mônica é assertivo no que pretende discutir. “Ele vai na veia do problema, na veia da discussão. A dramaturgia é muito bem construída, a história está muito bem amarrada, muito bem contextualizada. Acho que ela foi muito feliz nesse texto, e a encenação dá um ganho. Ela faz o texto ficar ainda mais interessante”, conclui o ator.

Ana e Tadeu conta ainda com direção coreográfica de Neemias Santana, trilha musical composta por Andrea Martins e Ronei Jorge, e tem a DJ Nai Kiese nas operações durante as apresentações.

O figurino é assinado por Alexandre Guimarães, a iluminação é de Caboclo de Cobre, e a cenografia, de Diego Araúja e Erick Saboya. Realização é da Crioula Arte e Cultura e Produtora Árvore.

O projeto foi contemplado nos editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado através da Secretaria de Cultura, via Ministério da Cultura, Governo Federal.

‘Ana e Tadeu’ / Até 18 de maio, de quinta-feira a sábado, às 20h, e domingos, às 19h / Teatro do Goethe-Institut (Av. Sete de Setembro, Vitória) / R$ 40 e R$ 20 / Vendas: Sympla / Classificação indicativa: 16 anos

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