Centenário de Frans Krajcberg é celebrado com homenagens

Pintor, escultor, gravador e fotógrafo, Frans Krajcberg (1921-2017), se vivo fosse, teria feito 100 anos no último dia 12. Nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, o artista plástico destacou-se pelo ativismo ecológico, que associa arte e defesa do meio ambiente em suas obras com elementos da natureza, como raízes, cipós, caules e troncos de árvores.

No que depender dos amigos, artistas, ativistas e admiradores, seu centenário não passará em branco. “A obra de Krajcberg, para mim, representa o renascimento de tudo que foi queimado e destruído, transformado em arte em suas mãos. Tem um valor imensurável no Brasil e no mundo, pois é de uma contemporaneidade total, além de uma afirmação do seu amor à vida e à Terra”, afirma Jô Queiroz, curadora e organizadora do projeto O Mundo de Frans Krajcberg, que é realizado em parceria com o museu do artista, localizado em Nova Viçosa, a 500 quilômetros da capital.

“Como amiga, me senti no dever de organizar seu centenário com o objetivo de divulgar e dar continuidade ao seu legado, apresentando a cada vez mais pessoas suas obras e sua luta”, acrescenta. O sítio Natura, que abriga o Museu Artístico e Ecológico Frans Krajcberg, fica em área remanescente de mata atlântica, próximo ao Parque Marinho dos Abrolhos.

A programação do evento, em função das dificuldades impostas pela pandemia, ainda está mais no âmbito das ideias do que no das ações práticas, mas, de acordo com Jô Queiroz, estão previstas “várias ações interativas, como experiências imersivas em sua obra, eventos virtuais, híbridos e sustentáveis, com a participação de artistas, educadores e ativistas”, afirma.

Jô afirma que deste mês até junho, está previsto um videomapping homenagem produzido pelos VJs Spetto e Gabiru, num ambiente virtual para as redes sociais. Projeções de imagens de obras e frases de Krajcberg estarão em espaços públicos icônicos de Salvador, a exemplo do Elevador Lacerda, Rio de Janeiro, São Paulo, Ouro Preto, Itabirito (Minas Gerais) e em Nova Viçosa, na Bahia.

Lives

Ela afirma também que, até junho a ideia é realizar lives com uma série de encontros online com artistas, ativistas, educadores e especialistas sobre o meio ambiente e sua sustentabilidade. Entre os nomes Mario Mantovani, presidente da SOS Mata Atlântica, Almir Suruí, líder da Tribo Suruí, o ator Victor Fasano, além do ativista João Meirelles.

Entre julho e agosto deste ano haverá o lançamento da música e videoclipe Grito no Silêncio, do compositor Octavio Liochi, inspirados na obra de Krajcberg. Já a partir de outubro se pensa em realizar visitas guiadas às obras e ao acervo do artista, mas tudo depende do panorama de controle do coronavírus. O mesmo vale para as exposições que se pretende fazer em vários museus do país, mas que ainda não estão “amarradas”.

Oficinas no Museu de Frans Krajcberg, incluindo de reciclagem de lixo e replantio de mudas, também estão programadas a partir de novembro, mas também depende do comportamento do vírus. Vale lembrar da preocupação constante de Frans Krajcberg com a questão ambiental.

“O Brasil, cuja maior riqueza é a natureza, está próximo de se tornar um país de caatingas e cerrados, com exceção de alguns parques e monumentos ecológicos. Estamos próximos do completo esgotamento dos nossos recursos naturais”, afirmou o artista na obra Natura, um estudo fotográfico em que retrata as queimadas e a devastação, publicado em 1987.

“Ele devotava toda sua vida e energia em prol da preservação da natureza, toda sua arte traduzia uma revolta contra a destruição, e ele nos ensinava a olhar para o futuro e construir um mundo mais saudável”, finaliza Jô, que lembra que o público pode acompanhar novidades pelo Instagram @krajcberg100anos.

Crianças

Carla Ogawa, curadora de arte, produtora-executiva de exposições e professora, afirma que em 2008 teve um contato maior com Krajcberg, chegando a ir a Nova Viçosa, pois foi contratada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo para fazer um nicho para as obras do artista.

“Todo um andar foi dedicado às obras de Krajcberg, e o que mais me impressionou foi a popularidade dele com o público, que parava para conversar com ele, principalmente as crianças. Trabalho há mais de 20 anos na área de museus e bienais e me chamou a atenção esta receptividade”, diz.

“O legado de Krajcberg é eterno. Ele amava a floresta e tudo que nela habita. A obra dele trazia esta beleza, este impacto”, frisa. O artista plástico, premiado na Bienal de Veneza, na Bienal de São Paulo e no Salão de Arte Moderna, entre outros, foi muito importante no panorama da arte brasileira e desenvolveu um poderoso trabalho de ativismo com suas obras em pintura, escultura e fotografia.

Ao visitar Nova Viçosa, no extremo sul da Bahia, o artista se encantou e decidiu lá viver até o fim da sua vida. Adquiriu 76 hectares de terra numa área de mata atlântica, construiu sua casa sobre uma árvore e continuou sua luta pela manutenção da vida. Deixa saudades.