CULTURA
Coletivo DUO de Teatro comemora 13 anos com cinco espetáculos
Companhia encena, agora em abril, o solo Memórias do Fogo, no Teatro Sesc Senac Pelourinho
Por Eugênio Afonso
Em comemoração a 13 anos de atividades, o Coletivo DUO de Teatro está realizando espetáculos em praças públicas e teatros da capital baiana desde janeiro deste ano. Agora em abril, será a vez do solo Memórias do Fogo, que estreia nesta quinta-feira, 6, às 19h, no Teatro Sesc Senac Pelourinho.
Com atuação, direção e dramaturgia de Saulus Castro (integrante e fundador do DUO), e orientação cênica da atriz e diretora Meran Vargens (Qualquer Coisa a Gente Inventa), o espetáculo segue em cartaz no Teatro Sesc Senac Pelourinho - dias 08, 12, 13, 14 e 15, sempre às 19h, mas terá também, nos dias 19 e 20, às 15h, sessões gratuitas e exclusivas para escolas públicas, ONGs e projetos sociais.
Baseado em obras do escritor uruguaio Eduardo Galeano (Veias da América Latina e a trilogia Memórias do Fogo), a encenação, que aborda a exploração do ser humano na construção da América do Sul, é o primeiro trabalho solo de Saulus.
Para Castro, o mote central da peça é gerar reflexão sobre as estruturas de poder. “É o meu desejo de aproximação maior com a obra de Galeano aliado à necessidade de abrir campo a uma percepção ampliada sobre nossas múltiplas origens, e também sobre as múltiplas, duríssimas e contínuas violências no desenvolvimento do continente sulamericano”.
Ainda de acordo com o protagonista, o espetáculo traz histórias espiraladas, mostrando um Brasil que incendeia florestas e biomas. Fala também de homens e mulheres sendo resgatados em situação trabalhista análoga à escravidão, além de indígenas Yanomamis em crise humanitária.
“A nossa história e o desenvolvimento de nosso país são pautados na violência, na vilania, nas ações vis que se intensificam sobremaneira no processo colonizatório. É uma explosão de rebeliões, conflitos, revoltas duramente silenciadas. E neste espetáculo isto se expande para a América do Sul por razões muito próximas, embora com as especificidades de cada lugar”, denuncia Saulus.
O ator informa ainda que “não há uma historinha sendo contada, não há início, meio e fim, não há nada que leve a um estado catártico assim como não há nada que não cheire a queimado. O espetáculo é uma possibilidade de abertura à percepção, não somente ao entendimento e à razão”.
Um país sangrento
Na feitura de Memórias do Fogo, tudo foi pensado e montado com o intuito de radiografar um continente capaz de dizimar corpos vulneráveis. Para o cenário, Zuarte Júnior montou uma grande área circular, de quatro metros de diâmetros, feita com barbantes vermelhos, em uma clara tentativa de ilustrar o sangue derramado e o silenciar de vozes mortas por uma equivocada política econômica e social.
Zuarte garante que a criação da cenografia teve como pano de fundo as questões das veias da América Latina. “Os cordões e o chão vermelho simbolizam sangue indígena. Tudo é prenhe de significados e sentidos. Aparentemente simples, essa imagem tem uma força muito grande”, pontua.
Também com nome na ficha técnica, Luciano Salvador Bahia - um dos músicos que mais prestigiam o teatro baiano - assina a direção musical. “É uma trilha baseada em música pré-hispânica através do trabalho do produtor musical Pepo Lopez. Em cima dele, adaptei o material ao espetáculo. Foi um grande processo de edição, que teve participação de Claudia Cunha, Evelin Buchegger e Antonio Fábio”, conta Bahia.
Já o figurino ficou a cargo de Rino Carvalho e é composto de barbantes brancos, circundando o corpo de Saulus. Segundo o aderecista, a ideia é criar uma metáfora do mercúrio referente à extração de ouro e minério que tem destruído fauna e flora brasileiras.
E além de Memórias do Fogo, mais quatro espetáculos compõem o projeto de circulação DUO 13 anos: Jonas: Dentro do Grande Peixe, O Caminho dos Mascates e os infantis O Barão nas Árvores e Em Busca da Ilha Desconhecida, que serão encenados no interior do estado em maio.
Contemplado pelo Edital Setorial de Teatro em 2019, o DUO 13 anos tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.
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