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CULTURA

Couro de Gato faz um bom tamborim e HQ

Por Chico Castro Jr.

04/11/2017 - 10:35 h
Descobrindo o samba: gente do povo testando os sons na gravura de João Sánchez
Descobrindo o samba: gente do povo testando os sons na gravura de João Sánchez -

Expressão máxima da musicalidade brasileira – e do espírito nativo – o samba ainda foi pouco abordado pelos quadrinistas. É de se comemorar, portanto, o lançamento de Couro de Gato, de Carlos Patati (roteiro) e João Sánchez (arte).

Lançado pela Veneta, a HQ é um voo livre sobre as origens do gênero, resgatando alguns dos pioneiros e as histórias – o que equivale dizer que também conta um pouco da história do Rio de Janeiro no início do século 20 e, portanto, também do Brasil.

Produzida ao longo de 10 anos, a obra tem na arte de Sánchez tanto um dos pontos fortes quanto um ponto fraco. Explica-se: inicialmente, a ideia era fazer a HQ inteirinha em xilogravura (técnica de gravura em madeira), especialidade do artista. “Para meu espanto, depois de pesquisada e escrita, a primeira das três partes iguais do livro estava pronta em um ano! Toda em xilogravura! No entanto, a vida anda, o sujeito não pode desprezar a oportunidade de viajar e aprender”, diz Patati no prefácio.

“João criou um estilo ‘xiloderivado’ para prosseguir. Ele desenhou quando pôde, e as duas outras HQs se esticaram longamente, sem que me faltasse notícia delas. Tudo junto, foram 10 anos!”, conta.

Aí é que está: o primeiro capítulo, todo em majestosa xilografia [como se pode ver na reprodução ao lado] acostuma “mal” os olhos do leitor que, quando chega nas duas outras partes, depara-se com uma arte que, apesar de bonita, simplesmente não está à altura.

Isto prejudica um pouco a experiência da leitura, ainda que fique claro, conforme as páginas avançam, que o artista foi esquentando, evoluindo no estilo “xiloderivado”, produzindo, sim, belas páginas mais ao final do livro.

Veteranos de guerra

Descontado este desequilíbrio, a HQ em si vale a leitura (e a apreciação da arte). Como já foi dito, ela traz três histórias independentes entre si, ligadas pelo próprio tema e um personagem recorrente, o fictício Camunguelo, um violeiro e compositor de sambas, contemporâneo dos pioneiros que vão aparecendo na história, como Mano Elói, Tia Ciata (que não aparece, mas é várias vezes citada), Ismael Silva, Cartola, Noel Rosa etc.

A primeira HQ, com as gravuras absolutamente deslumbrantes, ambientada em 1901, mostra a população de ex-escravos sofrendo o diabo ao voltar das guerras do Paraguai e de Canudos, iludidos pela promessa do governo de uma casa para cada soldado, nunca cumprida.

E aí vemos a origem das favelas (nome da plantinha que vinha nas botas dos soldados chegados de Canudos). Visto hoje, o episódio é uma amarga lição de história, que explica (em parte) o caos vivido pela Cidade Maravilhosa mais de um século depois, fruto, como sempre, do descaso histórico do Estado para com as populações mais pobres.

O segundo episódio também traz uma forte carga histórica, ao enfocar a última noite do Morro do Castelo, área de fundação da cidade e que foi abaixo em 1922, a mando do então prefeito Carlos Sampaio, para se livrar da população proletária que lá vivia e deixar a cidade “bacana” para as comemorações do Centenário da Independência.

Na HQ, vemos Camunguelo e a namorada, na véspera da demolição do morro, relembrando episódios como a Revolta da Chibata (1910) e o exílio forçado de revoltosos para Belém, além da lenda do tesouro jesuíta que até hoje cerca a história do Morro.

A terceira HQ é um encontro em um botequim, já em 1930, de Camunguelo com Noel, Cartola e Ismael. O papo gira em torno da venda de sambas, muito comum então, para os cantores do rádio.

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