SALVADOR
Exposição 'Raízes' explora ancestralidade e afrofuturismo no Muncab
Mostra coletiva reúne mais de 200 obras de 80 artistas negros
Por Isabela Cardoso
Em meio à mistura de culturas entre países, ancestralidade e afrofuturismo, o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador, foi palco de um evento memorável com a abertura da exposição coletiva "Raízes: Começo, Meio e Começo", nesta sexta-feira, 19.
Desde as 18h, o museu estava repleto de visitantes e grande parte deles estavam vestidos com roupas brancas, famosa tradição baiana às sextas-feiras - remetente a fundamentos do Candomblé. Com mais de 200 obras de 80 artistas negros, como Emanoel Araújo, Heitor dos Prazeres, Lita Cerqueira e Juarez Paraíso, a exposição enaltece as tecnologias das matrizes africanas que moldaram a construção identitária do Brasil.
A coleção “Olhos D’Água” da estilista Mônica Anjos, feita em homenagem à grande escritora Conceição Evaristo, também estava presente na abertura do evento. Os interessados nas peças têm a oportunidade de adquiri-las na loja pop-up no Muncab.
A abertura oficial contou com a presença do secretário de Cultura, Bruno Monteiro, que elogiou a iniciativa como uma valorização da história baiana e de toda a sua formação cultural.
“A partir dessas riquezas ancestrais que nos constituem enquanto seres culturais, enquanto uma sociedade. Mesmo não sendo um evento do poder público, a gente vê com muito entusiasmo essa rede de eventos, de acontecimentos culturais, de promoções culturais que acontecem. Isso demonstra um momento que nós vivemos de grande valorização da cultura, com uma grande rede pública e privada que atua em parceria, mas com exposições, com uma programação muito intensa, que com certeza nos enriquece muito, sobretudo no nosso reconhecimento identitário”, disse o secretário, ao Portal A TARDE.
A exposição teve a curadoria de Jamile Coelho e Jil Soares. Em entrevista exclusiva, Coelho destacou a importância de investir em espaços museais, com exposições que reafirmam a memória ancestral afro-brasileira.
“Cada vez que a gente vê um museu abrindo, cada vez que a gente vê uma exposição abrindo e a gente vê esse público todo se deslocando em uma sexta-feira à noite para um espaço museal, a gente reafirma que cultura é como Gilberto Gil fala, ‘cultura não é extraordinária, cultura é ordinária’. Cultura tem que estar na mesa de todo brasileiro. Então acho que é essa primeira afirmação, sobretudo pro povo negro que construiu esse país, que tem todas essas lutas pra conquistar direitos básicos. Então, a gente fala desses direitos inerentes ao ser humano que a gente tem que lutar e reivindicar todos os dias. Raízes fala sobre isso, mas fala de um processo de reafirmação das nossas contribuições”, comentou Jamile.
Marcos Costa, um dos artistas participantes da exposição, expressou a sensação de expor sua obra no local e trouxe a perspectiva do Baobá, figura principal do seu quadro exposto.
“Para mim, é uma grande celebração estar aqui, com o meu trabalho, em meio a muitos outros artistas que eu respeito e admiro muito. Meu trabalho traz a história do Baobá, como uma grande árvore, com alusão às comunidades pelas casinhas que formam a árvore. Essa conexão com as favelas, os nossos diferentes grupos sociais que se aglomeram nas comunidades periféricas. Esse baobá traz esse diálogo entre o passado e o presente”, pontuou o artista.
Jess Vieira, estudante de arte-terapia e também expositora do Raízes, descreveu suas obras em meio ao sentido da busca de pertencimento da exposição.
“Minha pesquisa se baseia em corpo-território, corpo-território-água. Eu venho do cerrado, hoje vivo do lado do mar, mas sempre penso nessa coisa da água, essa conectividade do rio e do mar. Eu acho que é sempre bom pensar no que a gente tem como corpo, sendo natureza. Acho que é sempre esse convite de olhar pra dentro de si, sempre essa busca do que é seu, porque a gente já vive muito lotada de tudo e se perde muito fácil”, disse Jess.
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