ARTES VISUAIS
MAM abre as portas para exposição Encruzilhada
Mostra cruza acervo do próprio Museu de Arte Moderna da Bahia com coleção de arte africana do Solar do Ferrão
Por Eugênio Afonso
Foi justamente pensando no cruzamento de obras artísticas de diferentes matizes e referências, tendo como foco a diáspora africana, que o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) batizou sua mais nova exposição de Encruzilhada. Com vernissage na segunda-feira, 18, às 18h, a mostra vai ocupar os espaços da capela e do casarão do Solar do Unhão.
A ideia é propor um diálogo entre o acervo moderno e contemporâneo do MAM, repleto de quadros, instalações, pinturas, esculturas, fotografias, desenhos e cerâmicas de artistas de várias gerações, como Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Mario Cravo Neto e Marepe, com a Coleção de Arte Africana Claudio Masella, do Solar do Ferrão, formada por objetos que representam etnias de 15 países da África, como máscaras, estatuetas, instrumentos e utensílios confeccionados em materiais que variam entre terracota, madeira, metal e marfim.
Para Pola Ribeiro, gestor cultural e diretor do MAM-Bahia, um dos propósitos da mostra é dar continuidade às celebrações do modernismo brasileiro que completa 100 anos com a semana de arte moderna de 22, momento icônico da cultura nacional.
“A exposição está provocativa e emocionante. Nesse momento, a gente coloca a coleção do museu que trabalha com a simbologia da diáspora africana com a coleção de Claudio Masella. São mais de 300 peças de arte africana de 18 etnias que propõem uma discussão política. Estamos fazendo uma leitura crítica, provocando estudiosos que se debruçam sobre essas questões e, ao mesmo tempo, colocando também o desafio para que novos realizadores de artes visuais possam dialogar com essas obras”, sugere Pola.
Sob a curadoria de Daniel Rangel e do artista visual baiano Ayrson Heráclito, Encruzilhada marca ainda a reunião de artistas de diversos contextos históricos, sociais e raciais, cuja centralidade dos interesses é ativada a partir do universo da cultura popular de matriz africana.
“A proposta é reunir os dois acervos a fim de criar um debate, os diálogos possíveis e as tensões que podem ser promovidas entre as obras. Todo acervo de arte africana foi atravessado por conceitos coloniais, sempre um desejo europeu de ver a arte africana a partir de desígnios criados pelos próprios europeus. É uma encruzilhada confrontar esses acervos com essas questões. A mostra pretende levantar não só as divergências, mas também as convergências desse encontro”, pontua Heráclito.
Segundo Daniel, o propósito da mostra é também propor um diálogo entre a produção moderna e contemporânea do MAM com a coleção de Masella.
“A coleção africana é o ponto de partida para a gente buscar no acervo obras de artistas que representassem o legado da cultura de diferentes etnias africanas para formação da cultura brasileira e, sobretudo, da baiana”, conta o curador do MAM.
Diversidade cultural
O público vai estar diante de trabalhos de artistas negros, africanos de diferentes períodos e sociedades, e também de artistas brancos relacionados ao universo afro-brasileiro, além de obras de pessoas importantes ligadas às religiões de matriz africana, sobretudo ao candomblé.
“Algumas peças foram adquiridas pelo colecionador e retiradas do seu contexto originário. São desde obras compradas no mercado africano a peças saídas dos altares e que foram negociadas no momento da colonização. Tem também obras do modernismo brasileiro, de artistas negros importantes, como Yêdamaria e Emanoel Araújo”, detalha Heráclito.
Pola garante que o público vai se deparar também com uma diversidade de olhares. “São 100 anos de arte baiana exposta e milhares de anos de arte africana que vem do Senegal, da Nigéria, da região do Benin, do Congo, de Moçambique, do Mali, de Camarões. É uma exposição que fala da gente. A ideia dessa encruzilhada é um grande encontro na esquina”, afirma o diretor.
Daniel Rangel arremata afirmando que a encruzilhada entre os acervos fala muito dos tempos atuais, onde um dia quem foi objeto está se transformando em sujeito.
“Ela mostra como as tradições foram ressignificadas na contemporaneidade. Mostra também como a riqueza da cultura africana reflete na nossa produção artística. O público, com certeza, vai se identificar com os trabalhos, pois a Bahia é muito conectada com essa cultura que veio do outro lado do oceano, e essa conexão está evidente na exposição”, conclui Rangel.
Estarão expostas também uma série de obras novas, adquiridas de diferentes artistas baianos – dentre eles Alberto Pitta, Guache Marques, Goya Lopes, Marcia Ganem, Aristides Alves, Nádia Taquary, Adenor Gondim –, que agora são parte do acervo do MAM.
O museu funciona de terça a domingo, das 13h às 18h, e a previsão é que Encruzilhada fique aberta ao público até 14 de agosto. A entrada é gratuita e para mais informações é só acessar mam.ba.gov.br.
Serviço
O quê: Encruzilhada
Onde: Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), Av. Lafayete Coutinho, s/n - Comércio
Quando: 18 de abril a 14 de agosto / terça a domingo, das 13h às 18h
Entrada: Gratuito
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