MAM-BA inaugura Espaço Lina com a mostra Museu de Dona Lina
Lina Bo Bardi foi a primeira diretora do museu que revolucionou a discussão sobre arte e cultura no país
“Lina Bo Bardi foi um provocadora, não só aqui na Bahia, mas em todos os lugares”, diz Pola Ribeiro, diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia, sobre a primeira diretora do museu que, vinda para o Brasil durante a 2ª Guerra Mundial, revolucionou a discussão sobre arte e cultura no país.
Além de sua contribuição histórica, criando e gerindo o projeto de restauro do Solar do Unhão, Lina também é a mente por trás de projetos como o MASP e o SESC Pompeia em São Paulo, sendo homenageada com o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2021. Em sua homenagem, o MAM abre neste sábado, 15, sua mais nova sala, o Espaço Lina.
“Ela vem desde o começo da nossa gestão sendo um farol. Temos um tripé no MAM que é Lina, o local em que o museu está instalado, no Solar do Unhão, e a coleção do museu. Lina entra na nossa filosofia como sendo aquela que traz o questionamento do lugar do museu, ela o pensa como escola”, acrescenta Daniel Rangel, curador do museu.
O Espaço Lina foi concebido com a colaboração do Instituto Bardi, de São Paulo, e abrigará exposições frutos dessa parceria, com temas focados em design, arquitetura, arte moderna e popular. O curador explica que o processo de concepção teve uma participação fundamental de Renato Anelli, professor da USP e conselheiro do Instituto Bardi: “Ele fez uma linha do tempo sobre Lina em seu centenário no MASP, que foi o ponto de partida da nossa pesquisa”, conta Rangel.
“A primeira exposição, Museu de Dona Lina, já traz essa reaproximação do pensamento dela com o Solar do Unhão, que era unir a arte moderna com a arte popular no mesmo espaço”, explica Daniel. “Não é um espaço estático, uma sala que só vai ter uma exposição. Queremos trabalhar seu legado conceitual. É um espaço para a gente ver os desdobramentos de seu pensamento não só no passado como no presente também”.
Pola dá seus dois centavos sobre essa questão: “É um espaço onde a gente possa estar sempre com o pensamento em discussão, em crise, em diálogo. É um pensamento sobre arquitetura, museu, memória, patrimônio, restauro, cultura baiana, até moda”!
Para ele, o Espaço Lina “não é um altar, está mais para um tubo de ensaio”.
O diretor salienta como a arquiteta, que também chegou a escrever artigos para o jornal A TARDE, sempre trouxe o questionamento sobre os padrões da arte.
Ele cita o projeto de restauro do MAM e sua escada, que descreve como “uma mistura de moderno com a tecnologia popular do carro de boi”.
Museu agregador
Para a dupla, a filosofia de vida e arte de Lina Bo Bardi é a bússola por trás do MAM.
“Ela ensinou essa dimensão humana e contemporânea, desierarquizada que norteia as nossas exposições. É um museu de arte popular ou de arte moderna? Nós diminuímos essas fronteiras. Precisamos tirar as coisas da caixinha, colocar a vida em primeiro lugar, as relações reais, efetivas, que têm complexidade, troca”, reflete Pola.
“Lina teve um posicionamento perante a questão artística que é muito importante na atualidade. Ela quebra os paradigmas de uma arte acadêmica, da elite, e do museu como um espaço para refletir esse espaço da elite. O museu dela é como um espaço aberto para as pessoas, para o povo, para a arte do povo. Não é só como um local de chancela, como também de troca e aprendizado”, declara Daniel.
Eles enxergam nisso uma das razões do MAM ter se tornado um motor cultural de Salvador, com um público jovem que o frequenta passionalmente. “O público do museu não é só quem vai para a exposição. É quem vai dar aula, quem vai para o cinema, ver o pôr do sol. É muito agregador, algo muito necessário numa sociedade como essa que a gente tá vivendo, muito de polos. Esse pensamento rompe com os dois lados porque mostra que tudo é um grande lado só. A gente tá dentro desse caldeirão”, diz Daniel.
Pola acredita que essa é a força do museu. “A relevância de um museu não vem de público, vem de públicos. Todos são públicos. Nosso desafio é desenvolver linguagens para que quem vem para o cinema vá ver o pôr do sol, quem vem pro pôr do sol venha ver a exposição, e quem vem à exposição venha à praia. E também para que isso não seja por uma imposição, mas por estar feliz naquele lugar”, diz.
“O espaço do Museu de Arte Moderna da Bahia é de diálogo entre Cidade Alta e Cidade Baixa, entre Salvador e Recôncavo, entre a Bahia Marina e a comunidade do Unhão. Tudo isso nos remete ao pensamento de Lina”, conclui Pola.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.