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Memórias e acrílica sobre tela

Saiba como ver as obras, bater papo e ter um retrato pintado por Leonel Mattos

Publicado quinta-feira, 01 de fevereiro de 2024 às 12:39 h | Autor: Israel Risan*
Modelo, artista e obra: o repórter Israel Risan foi retratado e também será parte da futura exposição, quando fechar 200 quadros
Modelo, artista e obra: o repórter Israel Risan foi retratado e também será parte da futura exposição, quando fechar 200 quadros -

Retratar quem passa pelo seu ateliê é a proposta atual do renomado artista plástico Leonel Mattos. Muito mais que uma série de pinturas, seu novo projeto reflete momentos únicos que vive em contato com os admiradores das artes dispostas no seu espaço, localizado na Rua Dr. Pedro Júlio Barbuda, 04, na Saúde. São memórias com o rosto dos visitantes, transferidos à tinta acrílica para telas 30x30.

O projeto Visitantes vai reunir 200 retratos, para uma exposição que Leonel pretende compor futuramente. As obras são, na verdade, uma leitura livre no estilo único do artista, guiada pelo que a pessoa pintada transmite para Leonel. “Eu procuro traduzir o que penso e sinto através da pintura. É o que eu estou fazendo também com as pessoas. Estou traduzindo as pessoas. O retrato através da pintura, que é a linha, forma, cor, textura e nada mais”, explica.

Muito receptivo e preocupado em imergir o visitante ao cenário e histórias que envolvem as obras expostas, o artista também o leva a uma viagem por sua carreira e seu próprio espaço de trabalho. “Eu gosto muito dessa coisa direta com o público. Eu não me contento que as pessoas só olhem meu trabalho. Quero que participem, interajam. Então, essa forma de eu retratar as pessoas é buscando esse calor humano. Porque eu acho que sem público não tem arte”, considera Leonel.

Nesse projeto, o artista reitera que sua proposta não é fazer uma releitura fiel aos traços de que é retratado, como seria uma fotografia, mas uma interpretação livre. “Como a arte é subjetiva e dentro do olhar de cada um, eles vão interpretar que geralmente o público gosta de sempre identificar com o mundo real, o que ele vive. Mas a pintura não é dessa forma”, observa.

Até o fechamento desta matéria, 34 pessoas já foram retratadas por Leonel. Para ser o próximo e ter uma leitura única do seu rosto disposto na exposição, é preciso agendar a visita ao ateliê através do perfil do Instagram (@leonelrochamattosmattos) ou pelo número 71 99961-7470.

Impulso: questionamentos

Nome que ecoa há décadas no cenário artístico brasileiro, Leonel iniciou sua jornada criativa aos 15 anos de idade, marcando o início de uma trajetória notável. Sua carreira decolou em 1971, com sua primeira exposição coletiva na extinta Galeria O Candeeiro, na capital baiana. Desde então, sua arte tem sido reconhecida e celebrada, rendendo-lhe oito prêmios em Salões Oficiais em diversos estados brasileiros.

Leonel Mattos é um contador de histórias visuais, que explora o simbolismo e o imaginário em suas pinturas. Seu fazer é compulsivo e visceral, fundamentado na inteligência intuitiva que guia seu caminho. O trágico não o paralisa; ao contrário, serve como impulso para criar um canto atônito de sensível sonoridade, onde o caos se converte em arte.

“Cada um tem um olhar. Às vezes a arte – você não precisa gostar para que ela seja boa ou ruim. Porque a arte não é bonita e não é feia, nem boa ou ruim. Para que consigamos analisar uma obra de arte, precisamos entender um pouco dos critérios para poder entender também a história da arte, ter um olhar mais aprimorado e assim decifrar o trabalho diferente das pessoas”, explica.

Seu percurso simbólico transcende lógicas, ampliando sua persistência e ações, transformando os dias em somas de buscas e descobertas.

Mais que um artista, Leonel é um visionário cujo trabalho transcende as fronteiras da imaginação, deixando uma marca que não se pode apagar na história da arte brasileira.

“Tenho uma trajetória de linhas e formas, na qual permanecem também os símbolos de antigamente. Eles terminam vindo para aqui com o contemporâneo de uma outra maneira. Então estamos sempre buscando e é como um novelo que se desenrola, vai puxando e ele vai desenrolando”, conta.

O artista não se limita ao espaço tradicional de galerias, também atua como agitador cultural, organizando exposições coletivas em locais alternativos como a Feira de São Joaquim e shoppings, lançando artistas emergentes e convidados conceituados.

Sua abordagem vai além das telas, destacando-se como pioneiro em intervenção urbana e arte interativa. “Eu acho de grande importância a arte estar onde o público está. Por isso que eu fui e levei a arte pra rua, para o shopping. E tô levando sempre e atraindo as pessoas para que venham ao meu ateliê”, reitera.

A multiplicidade de Leonel se reflete não apenas em sua técnica, mas também em seu envolvimento com questões sociais e políticas. Seu trabalho é impulsionado por questionamentos sobre o quanto falta e o quanto basta para atingir suas verdades urgentes. “Eu acho que a gente aprende a ser pintor na escola, a técnica se aprende. Mas é diferente do artista. O artista não só aprende, ele tem um olhar que vem de dentro dele pra fora. Ele consegue ser diferenciado dos demais, então esse é o valor”, pensa. O artista é um agente transformador, que navega pelo caos para encontrar diretrizes para suas criações.

O reconhecimento de seu trabalho estende-se às críticas de renomados especialistas, como Ferreira Gullar, Radha Abramo, Olívio Tavares de Araújo, César Romero, entre outros. Com uma formação autodidata, Mattos sempre buscou soluções plásticas e visuais, resultando em uma obra diversificada que inclui pinturas, desenhos, esculturas, murais e instalações.

O reconhecimento internacional veio quando foi convidado por Pietro Maria Bardi e o crítico Jacob Klintovitz para representar a arte brasileira no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e em Paris.

* Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.

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