LUTO NAS ARTES VISUAIS
Morre a artista Lygia Sampaio, pioneira da renovação da arte na Bahia
Lygia Sampaio foi a única mulher que participou do movimento artístico no estado
Por Da Redação
Morreu, na manhã deste sábado, 15, em sua residência, em Salvador, a artista baiana Lygia Sampaio, pioneira do movimento de renovação das artes na Bahia nas décadas de 1940 e 1950. No momento em que partiu, Lygia estava ao lado da família, segundo parentes.
Em 1940 e 1950, a Bahia passou por um movimento artístico que trouxe o experimentalismo estético que definiu o modernismo nas artes visuais em Salvador. Lygia Sampaio foi a única mulher que participou desse movimento renovador, ao lado de nomes renomados, como Mario Cravo, Caribé, Rubem Valentim e Carlos Bastos.
Lygia ingressou na Escola de Belas Artes em 1948, aos 20 anos, onde desafiou os padrões vigentes da sociedade, aventurando-se em lugares considerados impróprios para uma moça daquela época. A incursão na vida popular urbana de Salvador é visível nas suas pinturas e desenhos.
"No atelier da Barra mostrávamos o que fazíamos, era um ambiente alegre e encorajador. Por vezes saíamos juntos, conversando os nossos assuntos, passeávamos inocentemente pela cidade, do Rio Vermelho a Ribeira e Plataforma, buscando uma intimidade maior, visual e sensitiva, com a cidade que era a nossa fonte de motivos e de inspiração", relata Lygia em depoimento registrado no catálogo da sua exposição de 1981.
Querida no meio artístico: confira depoimentos sobre a artista
“Rever os recentes desenhos de Lygia representa uma retomada de experiências e sensações. Companheira e amiga de tantos anos, possui ainda fresca sua visão do mundo, através do seu desenho levemente colorido, onde os temas de personagens, naturezas-mortas e retratos permanecem estimulantes e vivos”, disse o artista Mario Cravo para Lygia, em 1984.
"Lygia Sampaio: uma presença feminina na retomada da arte que se deu na Bahia na década de 40. Os seus trabalhos eram tirados da vida que vivia, óleos cheios de emoção nos devolviam ruas, becos e gente, numa pintura carnuda e meiga, porque ela era - e é - meiga como as linhas e cores de seu trabalho. No desenho se sente que suas figuras são feitas com carinho, diria com ternura. É só reparar nas suas figuras para sentirmos que a singeleza do traço é emoção decantada, amor à sua gente e aos âmbitos da sua cidade. Lygia não fica só interrogando o cavalete; desenha, ilustra livros e sua força de trabalho envereda pelos caminhos da gravura e de toda técnica que possa enriquecer seu ofício para dar mais força à visão encantada e à eterna descoberta de sua terra, que é um mundo grande, ou - porque não? - um pequeno universo".
Carybé (Salvador, 1984)
Na época em que Lygia Sampaio passou a pertencer ao grupo que rompeu com a pintura dita "acadêmica", eu me encontrava fora do Brasil, só vindo a conhecê-la, já em fase de crescimento, no "Anjo Azul". Num grupo de cactus, ela era a única flor mulher, deste movimento. Suave e tímida, ao mesmo tempo corajosa para a época. Estas qualidades transparecem em sua pintura. Como o seu rosto de Olívia de Havilland, ela esconde uma força e um destino, que rompe barreiras e cria cultura para a sua terra.
Carlos Bastos (Salvador, 1984)
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