EXPOSIÇÃO
Painéis no Parque de Canudos relembram guerra
Por Verena Paranhos
Depois de ter sido destruída na guerra há 116 anos e posteriormente submersa pelo Açude de Cocorobó, no final da década de 1960, a Velha Canudos e seus personagens ressurgem em painéis iconográficos. As peças, instaladas no Parque Estadual de Canudos (Pec), integram o Projeto de Intervenções Artísticas no Cenário da Guerra de Canudos.
A luta do povo de Antônio Conselheiro permanece viva tanto na busca por melhores condições de vida, quanto na preservação de sua memória. Mas pouca coisa parece ter mudado no panorama de seca e desigualdade social da região, desde que as tropas da então recente república enfrentaram os sertanejos na Bahia.
"A intenção é devolver à comunidade local as imagens e a literatura produzidas sobre a guerra. É um sonho de muitos anos e permite que o visitante do Pec possa entender um pouco do que aconteceu. O parque é muito visitado, mas precisava de alguma coisa que desse mais visibilidade", afirma Claude Santos, fotógrafo idealizador do projeto, que demarca as principais locações do conflito no único cenário de guerra delimitado e estudado no País.
"A comunidade local está encantada e a visitação pública triplicou depois desta iniciativa. O turismo não vai acontecer só porque Canudos (a 413 km de Salvador) é uma cidade histórica, temos que ter elementos configurativos para que as pessoas queiram ver", defende Luiz Paulo Neiva, pró-reitor de Planejamento da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), órgão responsável pela administração do parque de 1.321 hectares.
Painéis de vidro com imagens em preto e branco reconstroem locações históricas do conflito a partir de fotografias de Pierre Verger, Evandro Teixeira, Antônio Olavo, Antenor Júnior, Alfredo Villa-Flôr, Claude Santos e Flávio de Barros. Imagens do artista plástico Trípoli Gaudenzi e o mapa do Arraial de Canudos do coronel Siqueira Menezes também compõem os painéis.
Locações da guerra - Dos 14 cenários mapeados por Claude Santos, que realiza pesquisas na região desde 1986, cinco foram montados no final do ano passado e podem ser visitados a pé ou de carro em uma manhã. A primeira fase de instalação dos painéis foi realizada com verbas da Uneb e de uma Emenda Parlamentar proposta pela senadora Lídice da Mata e espera-se que até o final do ano as demais locações sejam instaladas, com recursos da universidade.
"O Outeiro das Marias (uma das locações) apresenta detalhes de prisioneiras no final da guerra fotografadas por Flávio de Barros, que acompanhou a quarta expedição a Canudos", exemplifica Claude Santos. "Os descendentes diretos dos combatentes já morreram. Mas essas histórias precisam ser contadas. Fica mais fácil por meio de símbolos e imagens, elementos que as pessoas gostam de ver", acrescenta Neiva.
Para o historiador Sérgio Guerra, a iniciativa de valorizar os mais diversos personagens da luta é extremamente rica. "Faz parte da nossa tradição os cultos às personalidades, como Antônio Conselheiro (1830 - 1897) e Euclides da Cunha (1866 - 1909). Mas, para além deles, temos milhares de pessoas, soldados e moradores de Belo Monte (como os conselheiristas chamavam o local) que, do ponto de vista da história social, são mais importantes do que essas personalidades".
Segundo o professor, a intervenção é uma maneira da universidade de certa forma fazer uma reparação social da tragédia. "Quase tudo do tempo da guerra pode ainda ser visto naquela região. As condições sociais são basicamente as mesmas: a seca, as cercas dos latifúndios e a pobreza".
Neste aspecto, Neiva concorda: "O povo de Canudos luta em uma nova batalha contra a pobreza e a desigualdade. Com uma população de aproximadamente 15 mil habitantes (segundo o Censo 2010), mais de 11 mil pessoas se inscreveram no programa Bolsa Família".
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