LITERATURA
Drible na crise
Por Simone Ribeiro
Para o mercado livreiro, 2016 não será lembrado como o ano dos livros de colorir. Primeiro porque essa foi uma febre que passou e ficou lá em 2015; segundo, porque a recessão econômica, somada à instabilidade política, resultou no fechamento de editoras e livrarias e no cancelamento de programas e cortes de verbas por parte do governo. Mas, para um setor já acostumado a desafios, a crise está sendo driblada.
É o que diz o presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Luis Antonio Torelli, que repetirá em 2017 a mesma receita que usou para encarar o "tufão" de 2016: seguir investindo no livro e na leitura, apesar do orçamento restrito. A 24ª Bienal de São Paulo (a maior da América Latina) contrariou a previsão dos mais pessimistas e, por meio do projeto Brazilian Publishers, editoras brasileiras garantiram assento em feiras de livros da Bolonha, Frankfurt e Guadalajara.
Antigamente começávamos pelos gibis, hoje vemos um grande fluxo com youtubers, literatura young adult e fantástica
Mal também acabou a Primavera dos Livros 2016 em Salvador, e a presidente da Libre – entidade que representa os editores independentes brasileiros e promove o evento marcado por lançamentos, encontro com autores, saraus etc –, Raquel Menezes, já iniciava conversas para a edição do próximo ano. "É um lugar que quero sempre agradecer a acolhida. Nossa ideia de levar bibliodiversidade a todos os cantos permanecerá enquanto houver Libre, livro e leitura".
Inovação
Nem a falta de apoio aos projetos para os quais tentou captar patrocínio em 2016 fez o editor Fernando Oberlaender desistir. "Como nossa missão é investir no mercado local, apostamos em traçar estratégias para ampliar a identificação do leitor com nossos títulos, trabalhando melhor os pontos de venda". E a melhor resposta veio com a abertura de um estande da editora baiana Caramurê em um grande shopping da cidade.
Boa notícia
Em 2017, o livreiro pretende expandir negócios até Feira de Santana e aposta em um segmento em franca ascensão: o da literatura jovem adulto. Mailon, Um Cão Que Late Para o Espelho, de Saulo Dourado, e Travessias Urbanas, de Rodrigo Lima, foram os primeiros filhotes do selo FB Publicações. "Os livros são um sucesso e já estão adotados em escolas particulares", festeja.
Na opinião do presidente da Câmara Brasileira do Livro, Luis Antonio Torelli, qualquer movimento que estimule a cultura da leitura é válido. "Antigamente começávamos pelos gibis, hoje vemos um grande fluxo com youtubers, literatura young adult e fantástica. Outro ponto interessante que devemos destacar é o nascimento dos booktubers – youtubers que falam sobre livros. Eles são influenciadores digitais diretamente ligados ao mercado, e estão ganhando cada vez mais força", observa.
Crescimento
Uma das editoras mais importantes do Brasil, dona de 16 selos, a Companhia das Letras conseguiu crescer 9,3% em faturamento em 2016. O fato raro, em ano de recessão, segundo o publisher Otávio Costa, foi graças a um conjunto de ações e lançamentos "fortes", capazes de entender o Brasil e a nossa realidade. Para 2017, a Cia anuncia, entre outros, a história do samba, por Lira Neto (o mesmo autor de Getúlio); uma biografia de Lima Barreto, assinada por Lilia Schwarcz; a poesia completa de Hilda Hilst; o primeiro volume das letras de Bob Dylan; e uma tradução inédita da Bíblia em grego, feita pelo português Frederico Lourenço.
Também no topo das grandes editoras do País, a Rocco deve a dois títulos o seu "prestígio literário e sucesso comercial" no ano que finda: a coletânea Todos os Contos, de Clarice Lispector, e Harry Potter e A Criança Amaldiçoada, a oitava história do menino bruxo de J. K. Rowling. Ano que vem virão o roteiro original do filme Animais Fantásticos e Onde Habitam e lançamentos, digamos assim, mais literários: de Julian Barnes, Jonathan Safran Foer e da estreante Yaa Gyasi. As informações são do Departamento de Comunicação da editora.
Na Bahia, segundo levantamento do site Estante Virtual, o agravamento da crise econômica levou a um aumento de 25% nas vendas de livros usados em comparação a 2015. "O público do Nordeste é voraz por literatura. Eventos realizados com fãs são sempre um sucesso, além de percebermos uma participação grande de leitores da Bahia em nossas redes sociais", atesta o CEO da empresa, Richard Svartman. Como o foco da Estante Virtual não é lançamento, a meta em 2017 é ficar de olho no gosto do cliente. "Notamos que em 2016 os compradores se identificaram muito com temas de não-ficção, como política e economia", sinaliza.
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