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LITERATURA

Fechamento de grandes livrarias mostra mudanças no setor

Por Gabriel Andrade

11/07/2021 - 6:00 h
Livraria Cultura encerrou suas atividades em Salvador neste mês de Julho | Foto: Divulgação
Livraria Cultura encerrou suas atividades em Salvador neste mês de Julho | Foto: Divulgação -

Em setembro de 2020, a Livraria Saraiva anunciou o fechamento de todas as unidades em Salvador. Quase 10 meses depois, a Livraria Cultura decidiu encerrar a única unidade na Bahia, localizada no Shopping Salvador. Esses fechamentos marcam o fim de uma era nas grandes livrarias na Bahia e no Brasil como um todo.

A pandemia pode ter acelerado o processo, mas o encerramento das atividades destas grandes redes já era esperado por figuras do mercado literário. Para o editor da Caramurê, Fernando Oberlaender, o modelo de negócios como o da Cultura ou Saraiva está morrendo.

“Isso já era muito esperado, porque esse modelo de grandes livrarias acabou, pode ter alguma ou outra tentando, mas não vai durar muito. Elas vão quebrar, não tenha dúvida. Para vender o que elas vendem, que é best-seller, o marketplace é muito mais eficiente, então quebrar é a tendência”, analisa.

O editor explica que o livro impresso é pensado em uma economia de escala. Ou seja, quanto mais unidades, maior a margem de lucro. “Se você faz mil livros, você tem um preço; 10 mil, outro preço. Em dado momento, as grandes plataformas de marketplace falam para as grandes editoras: ‘quero comprar 6 mil livros seus, mas só vou pagar 30% do valor'”, conta.

Recuperação judicial

"O dono da editora via que conseguia lucrar assim. Mas e a livraria, como fica? A Amazon consegue vender por um preço muito menor que as livrarias e, assim, começou a competir com a própria livraria, que não tem essa força”, relata Oberlaender.

A autora Brenda Sales também é uma defensora da livraria como uma experiência, mas sente que as opções de lugares assim estão diminuindo. “Eu, por exemplo, gostava muito de entrar na livraria e acabava comprando sem ter necessariamente a pretensão, mas não sinto tanto essa vontade de comprar livros físicos pelo e-commerce”, afirma.

“Quando soube do fechamento, fiquei arrasada. Vários amigos meus começaram a me mandar a notícia, sabiam como eu gostava muito de frequentar aquela livraria. Fiquei muito triste ao perceber que, após a pandemia, Salvador não terá suas livrarias mais importantes, que mais possuíam acervo”, diz.

Ela, que já passou muitas tardes na Cultura, conta que vai sentir falta do espaço: “Comecei a passar tardes inteiras na Livraria Cultura, escolhendo livros, comprando-os, lendo na própria livraria. Eu pedia sempre soda italiana e de maçã verde na cafeteria e tomava enquanto lia. Eram momentos genuinamente especiais que faziam parte de quem eu era e de quem eu me tornei”.

Para entender melhor o fechamento da Cultura é preciso saber que a dívida acumulada, até 2018, ano em que a empresa entrou com o pedido de recuperação judicial, era de R$ 285 milhões. Na crise sanitária, a rede de livrarias perdeu cerca de 70% do faturamento. Das 13 lojas que mantinha, restaram apenas cinco.

Para Fernando, a tendência é cada vez mais ter livrarias focadas em nichos e que forneçam uma vivência na leitura, não apenas os livros em si. “As livrarias de nicho vão começar a surgir com mais força. Por exemplo, um cara que escreve um livro, que não tem atração nacional, em uma livraria de nicho ele vai conseguir achar seu público. Para mim [o fechamento da Cultura] não altera o mercado, o que tinha que alterar já alterou”, completou.

Ele relata ainda um certo descaso das redes com as livrarias baianas, fazendo com que, no fim das contas, as grandes livrarias pouco fizessem com que o mercado editorial e a literatura baiana se desenvolvessem. “Tem uma coisa muito importante sobre o mercado baiano, que as distribuidoras não trabalham com a gente [editoras baianas]. Eles só vêm quando querem vender para o governo do estado ou prefeitura. O que acontece é que eles distribuem para editoras do sul”, conta.

Segundo Oberlaender, as próprias editoras do estado precisavam fazer esse trabalho de fomento e distribuição das obras.

Novas livrarias

Apesar dos fechamentos, novas livrarias como a ‘Leitura’, que passou a ocupar alguns espaços antes da Saraiva, têm se expandido no mercado. Escariz, Nobel e a tradicional LDM são nomes que resistem às mudanças no mercado e buscam novas formas de se manter de portas abertas.

Atualmente, a Cultura e Saraiva, ambas em processo de reestruturação, fecharam definitivamente as portas de 42 lojas, fazendo a Leitura assumir a liderança, com mais de 80 endereços para os amantes da literatura.

Na opinião de Fernando Oberlaender, essas empresas vão precisar diversificar a gama de produtos para continuar funcionando. “São livrarias que têm essa tendência, de serem mais focadas na papelaria, vão vender livros, mas também caderno, brinquedo”, completa.

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