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Fernando da Rocha Peres lança novo livro em live nesta quinta-feira

Publicado quinta-feira, 18 de março de 2021 às 06:03 h | Autor: Eduarda Uzêda
O poeta, membro da Academia de Letras da Bahia, Fernando da Rocha Peres lança Cantorio e Antigos Poemas | Foto: Rejane Carneiro | Arquivo A TARDE | 29.6.1999
O poeta, membro da Academia de Letras da Bahia, Fernando da Rocha Peres lança Cantorio e Antigos Poemas | Foto: Rejane Carneiro | Arquivo A TARDE | 29.6.1999 -

“Um livro virtual, não físico, merece um lançamento nas nuvens. Assim os leitores e os amigos recebem as minhas poesias vindo do espaço sideral nos seus celulares via WhatsApp ou nos computadores via e-mail”. Com esta bela imagem, o poeta, historiador, professor emérito da Ufba aposentado e membro da Academia de Letras da Bahia Fernando da Rocha Peres lança seu novo livro de poesia.

Trata-se de Cantorio e Antigos Poemas, com lançamento virtual nesta quinta-feira, 18, às 20 horas, por meio da Academia de Letras da Bahia (ALB), via Zoom.

A obra apresenta 25 poemas, sendo 13 inéditos e outros 12 já publicados. Aclamado pelos seus pares, o poeta fala sobre o que o motivou a escrever a atual publicação. “Imerso nesta pandemia, eu resolvi que a única saída para diminuir esta tensão seria através da escrita, porque ficar em casa durante tanto tempo é muito difícil. Aí comecei a escrever poemas criticando condutas da administração federal com relação ao processo pandêmico”, conta.

Defendendo a necessidade de vacinas, o poeta e historiador destaca que o seu maior desafio no processo de elaboração da obra “foi ficar com a cabeça firme para poder produzir durante um ano, isolado do mundo. Eu tive que me superar, criar forças para dar continuidade a esta produção literária”, frisa.

O resultado é uma bela publicação, adornada por lindas imagens e ilustrações, que pode ser lida virtualmente. Editado pela Égua Dor, traz concepção e ilustração da capa de Eidi Feldon, desenho gráfico de Gabriela Nascimento, digitação de Bruno Lopes do Rosário e revisão de Caio Pio Ramilhete. Não faltam trilhas sonoras para os poemas Cantovamos, Cantovida e Cantobio, atração à parte.

Artesão das palavras

Na apresentação, Travesseiros das memórias, a psicanalista e também integrante da Academia de Letras da Bahia Urânia Tourinho Peres afirma: “Gritos de contágio e isolamento, os Cantos de Fernando da Rocha Peres, como toda boa poesia, nos contaminam ao tempo em que nos segregam, pois a voz do poeta é dele, é sua, é única, e de mais ninguém no desafio aos sentidos, sem aspas, não subordinada aos referentes. O poeta inventa para falar de si, transcreve a alma, faz leitura da vida e do mundo, sem citações”.

Mas adiante, Urânia, que, vale lembrar, é a esposa do poeta e ganha poesia em sua homenagem, destaca: “Os cantos denunciam a melancolia que a todos veste e reveste, pois somos congenitamente contaminados pela incerteza de nossos saberes e mantemos virgem a interrogação fundamental: afinal, quem somos e o que somos?”.

Já no texto Vozes ao derredor, Jacyra Andrade Mota, doutora em letras vernáculas, afirma: “Cantorio e antigos poemas, como sugere o título e como explica Fernando da Rocha Peres em seu posfácio, traz dois momentos, o atual – o da pandemia – e um passado, em que se encontram males presentes em todos os tempos”.

A professora e pesquisadora afirma que dos 13 poemas inéditos, cinco se referem direta ou indiretamente à pandemia. “Em Cantoquina, que inicia a série e é dedicado a Esculápio, deus grego da medicina e da cura, o poeta comenta os desacertos no combate ao vírus mortal, que se apossou de todas as terras, terminando com o desejo de que a ciência seja vitoriosa no país que, com Oswaldo Cruz e Manuel Pirajá da Silva, já venceu, no passado, endemias e epidemias”.

Ela destaca que em Cantomemo, dedicado a Urânia, “musa sempre ao seu lado”, o poeta prefere se afastar do presente para voltar ao passado, “na Praça de Aranjuez, longe dos gadanhos da parca (garras da morte), da loucura dos desgovernos que estrangulam a esperança de nosso país brasileiro”.

Fúria de duas viroses

Ela também cita Cantovida, dedicado ao pai do autor, no qual Fernando Peres dá notícias de como está vivendo agora: “Vendo a sombra pandêmica descer sobre a cidade onde habita ainda, com seu mar de Baía deslumbrante!”. Já Cantoviral, “explicita o seu temor pela fúria de duas viroses: a da Covid-19 e outra ‘que estiola a paz do brasileiro’”.

No posfácio do livro, Fernando da Rocha Peres sinaliza que sempre usou sua arte como resistência. “Avalio que sou um velhote dentre os oitentões que ainda faz uma poesia de insurgência...”.

Ele lembra que, “na juventude, participei de um grupo de rapazes e moças contagiados pela insujeição existente e pulsante nas letras e nas artes”, referindo-se à lendária Geração Mapa, que reuniu os então jovens Florisvaldo Mattos, Glauber Rocha, Calazans Neto, Sante Scaldaferri e Joca Teixeira Gomes, entre outros.

Jacyra Andrade Mota destaca nos poemas “a criação de novos vocábulos, com formações mórficas inovadoras, como as que se encontram nos títulos dos poemas, estruturadas a partir do substantivo canto: Cantoquina, Cantovamos, Cantomemo, Cantovida, Cantoviral, Cantotriste, Cantoduro, Cantopia, Cantofundo, Cantosim, Cantogranito, Cantobio e Cantogrito”.

“É ao longo de todos os poemas, como Noitedia, Almapele, Fortevoz, Alegrecidade, Biotempo e muitas outras; ou, com prefixações e sufixações não usuais, como em falastrantes, estranhura, arpurino, cantoar, oranação, satelitares, bestejanças, desrezante, perviver”, acrescenta. Vale conferir.

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