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LITERATURA

Fernando Gabeira registra sua trajetória em biografia

Por Mariana Paiva

19/01/2013 - 10:08 h
Gabeira
Gabeira -

Do filme Nós que Nos Amávamos Tanto, de Ettore Scola, ao novo livro de Fernando Gabeira, a dúvida é a mesma: qual o lugar do passado politicamente engajado nos dias atuais? Ecologista, ex-deputado federal e ativista político, Gabeira se lança ao desafio de responder à questão em seu livro Onde Está Tudo Aquilo Agora? - Minha Vida na Política.

Editada pela Companhia das Letras, a obra (200 páginas, R$ 29,50) oferece uma espécie de autobiografia politizada para o leitor. De fato, não haveria como ser diferente com Fernando Gabeira, autor de O Que É Isso, Companheiro?, livro no qual ele revelou os bastidores do polêmico sequestro do embaixador Charles Elbrick durante a ditadura militar.

Logo nas primeiras frases do livro, Gabeira deixa claro que não se trata de uma obra de tom nostálgico, mas de uma trajetória política que é revisitada e que continua atuante nos dias de hoje. "No momento em que escrevo, ainda estou vivo. Quero dizer que não esgotei meus papéis históricos", ele escreveu.
Do tempo em que viveu às margens do regime militar no Brasil, Gabeira não guarda nenhum souvenir além das memórias. "O aprendizado foi o de uma revolução fracassada, num momento em que as revoluções do tipo da que defendíamos já estavam em extinção. Compreendi o fim da guerra fria, e conheci e percebi as limitações do socialismo", revela.

O livro narra trechos da biografia de Gabeira como sua prisão após ser descoberto como um dos sequestradores de Charles Elbrick. Baleado nas costas pelos policiais, Gabeira quase morreu e foi submetido a inúmeros interrogatórios, que podiam facilmente se tornar sessões de tortura.

Depois de ser mandado para o exílio na Argélia, Gabeira se lançou num novo desafio: um curso de guerrilha em Cuba. "O treinamento era uma tentativa de superação de minhas limitações. Eu nunca tinha pegado numa arma, então foi necessário superar minha formação de intelectual e me tornar um pouco mais pragmático", diz.

Repetição - Perguntado sobre se faria tudo outra vez, Gabeira começa respondendo com um certeiro "não". Depois acrescenta: "Talvez errasse de uma maneira diferente, não dessa. O fazer diferente tem que ser voltado para o futuro", afirma.

Apesar disso, ele considera a trajetória importante para a história do País. "Tive um processo de luta armada e uma tentativa de me entregar de corpo e alma à democracia. Mas preciso reconhecer os erros: é difícil fazer diferente no período da ditadura. De todos os erros cometidos, lutar contra o regime com armas na mão era o mais sedutor", Gabeira diz.

Atuação - Sobre a pergunta que faz no título do livro, "Onde está tudo aquilo agora?", Fernando Gabeira revela que no momento atual do Brasil é preciso defender não um novo sistema, mas temas.

Ele explica: "A diferença de antes para agora era que eu tinha uma visão de mundo com objetivo claro e um sistema para lutar por ele, o socialismo. Agora não há mais lugar para isto, mas existem vários temas que precisam ser defendidos, como a democracia, a preservação do meio ambiente, a defesa dos direitos humanos e a luta pela paz mundial".

Apesar de acreditar na luta, Gabeira considera limitadas as possibilidades de atuação política. "Nosso Congresso vive um momento de decadência, os setores mais fisiológicos dominaram o Senado. O Congresso parou de votar as grandes questões para votar apenas as Medidas Provisórias do governo", considera.
Para ele, um esquematismo terminou por afastar as pessoas mais honestas da vida política do País. "Não é preciso se modificar para ser eleito constantemente. As pessoas melhores não vão mesmo para a política, mas pode ser que haja uma reconciliação com ela, a partir do surgimento de uma crise que estimule as pessoas a assumirem as rédeas do próprio destino", espera Gabeira.

Ex-deputado, ele conta que não é visto como um político convencional pelas pessoas que encontra na rua. "Ando de chinelo, de bermuda. Ninguém me vê como um cara que está do outro lado, e não se deve ter apego à essa vida política. Há que se ter uma atividade independente dela", afirma.

O cenário é outro, os personagens são outros, mas a luta continua: é o que Gabeira defende em Onde Está Tudo Aquilo Agora?. "Muito ficou para trás, e sobraram os princípios. É uma luta que continua, mas aquela ideia de mudar o mundo se transformou".

Para ele, o que parecia uma grande mudança democrática logo se converteu numa política social generosa. "Os vícios do Partido dos Trabalhadores são os mesmos de antes. Aquele projeto de revolução socialista e da democratização do Brasil avançou de uma forma interessante no campo social, mas no político e no ético, regrediu bastante", conclui.

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