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LITERATURA

Livro de contos se inspira em músicas de Caetano Veloso

Por Aline Valadares

12/07/2016 - 7:56 h
Marcus Vinícius
Marcus Vinícius -

A maçã: uma fruta e tantos simbolismos. Ora significa sabedoria, ora representa um eterno pecado. E foi com a frase "A Eternidade da Maçã", da música Pecado Original, de Caetano Veloso, que o escritor baiano Marcus Vinícius Rodrigues nomeou seu novo livro. A obra reúne sete contos sobre a ditadura militar entre os anos de 1964 a 1978 e tem como inspiração as músicas de Caetano.

"O pecado de que se fala no livro não é o mesmo tratado na música. O que se pratica contra a ditadura é escusável, mas não concebo que pessoas que lutaram contra o autoritarismo não sintam culpa por terem sido obrigadas a agir. É como estar numa guerra. Matar é desculpável, mas ainda é matar. Pessoas éticas são obrigadas a conviver com isso", declara Marcus.

"Até mesmo o torturador deveria se sentir angustiado", continua. "Eu queria investigar essas tragédias mais íntimas: a culpa, a desconfiança do amigo, a sensação de se sentir traído, a hesitação antes de agir. Foi isso que me interessou na escrita do livro".

Esse trabalho rendeu a Marcus o Prêmio Nacional da Academia de Letras da Bahia 2016, no valor de R$ 15 mil, que ele receberá nesta terça-feira, 12, às 18 horas, na sede da instituição, em Nazaré. Também faz parte da premiação o lançamento da obra para o público, que acontece na ocasião.

"Quando comecei a escrever o livro, sabia que queria falar sobre a culpa que todas as pessoas envolvidas na luta contra a ditadura poderiam sentir pelos atos que foram obrigadas a praticar", diz o autor.

O estopim que o levou a escrever contos sobre a ditadura foi a música In the Hot Sun of a Christmas Day, de Caetano. "Ouvindo-a, eu senti a angústia do sujeito poético sabendo-se caçado pela repressão. Os caçadores invisíveis. A cena na balaustrada da Praça Castro Alves me veio inteira. Afinal, a música fala sobre um Natal quente, tropical. Foi o primeiro conto pensado, mas não o primeiro a ser escrito. Veio daí a ideia de um livro inspirado em músicas de Caetano", confessa.

Cada capítulo da obra traz a data de um ano referente à ditadura, e é possível perceber a influência do compositor baiano, tanto nos títulos dos contos, que são os mesmos das músicas dele, quanto no próprio decorrer da história.

A canção Clever Boy Samba, por exemplo, é claramente a inspiração para o conto Sob o Sol Quente de Uma Tarde de Natal: a moda do cabelo na testa, a loja Adamastor, a Rua Chile e a expressão "fecha muito mais", utilizada na época.

Apesar de ter 48 anos e de ter sido criança durante o regime militar, Marcus diz se lembrar do que ocorria. "Antes de escrever o livro, eu já tinha muita informação sobre Caetano, tropicalismo, a MPB dos anos 60 e 70. Pesquisei uma ou outra coisa, mas sempre a partir do que eu lembrava de viver ou ler sobre", afirma.

"Chequei se Elis já tinha cabelo curtinho na época, lembrei da moda do sapato cavalo de aço, que me levou a encontrar referências do surgimento da sola de borracha". Um dos fortes do livro é, talvez, o fato de Marcus descrever como deve se sentir o torturador, no caso o Major, no conto A Alma do Diabo. Na história, o Major tem um enfarte e sente seu corpo sufocado, como se estivesse sendo torturado, ao carregar a culpa de ter feito isso com outras pessoas.

Marcus descreve a rotina do militar com propriedade, já que é filho de um e já estudou em Colégio Militar. "É um livro sobre a ditadura militar e que surge num momento em que é preciso refletir", comenta. Contemplado pelo Edital Arte em Toda Parte - Ano III, da Fundação Gregório de Matos, o livro concorreu com 188 inscrições de 20 estados do país.

Marcus estreou na literatura há 15 anos com o livro "Pequeno Inventário das Ausências", vencedor do Prêmio da Fundação Casa de Jorge Amado.

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