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LITERATURA

Poeta e historiador baiano Fernando da Rocha Peres lança novo livro

Em '5 Fabulações Edênicas', autor versa sobre religião, Brasil e tempos de pandemia

Por Bruno Santana*

25/07/2022 - 6:00 h
Católico não praticante, ele "reconta" cinco passagens do Velho Testamento como Liras
Católico não praticante, ele "reconta" cinco passagens do Velho Testamento como Liras | Foto: Xando Pereira | Ag, A TARDE

Fernando estava sozinho. Da solidão, surgiu a introspecção, e da introspecção, surgiu o ímpeto de revisitar um dos textos mais lidos, seguidos, analisados e escrutinados da história da humanidade: a Bíblia Sagrada.

Para qualquer outra pessoa, tal resgate seria uma oportunidade de se reconectar a alguma espiritualidade perdida e perseverar em tempos difíceis. Para Fernando, entretanto, as vias que se abriam com aquele reencontro tornam-se muito mais ambiciosas: nos olhares e nas palavras de um poeta, o texto sagrado pode ser reinterpretado, reencenado, regurgitado, ressignificado.

Essa é, grosso modo, a história da origem de 5 Fabulações Edênicas, novo livro de poemas do escritor e historiador baiano Fernando da Rocha Peres. Um dos expoentes da chamada Geração Mapa, Fernando - junto com imortais como Glauber Rocha, Calasans Neto, Florisvaldo Mattos e Hélio Pólvora - contribuiu e segue contribuindo para desvendar incógnitas que se apresentam à humanidade em esferas tão distintas, desde a cultura e a arte baiana até as angústias do curso da humanidade e da própria natureza humana, como é o caso aqui.

"A solidão leva o sujeito a buscar, nos seus confins, as origens", explica Fernando, que escreveu os cinco poemas que compõem o livro isolado em casa, durante a pandemia da COVID-19. "A partir daí eu resolvi revisitar o Velho Testamento, principalmente, e dele saíram esses poemas que têm também uma conotação de atualidade, de vínculo ao que se está a percorrer neste país", detalha Peres.

Momentos de Tensão

A biografia de Fernando o precede: em 1957, fundou, junto com Glauber Rocha, Calasans Neto e Paulo Gil Soares, a revista Mapa. Em apenas três edições lançadas ao longo de um ano, a publicação reuniu um grupo notável de intelectuais e artistas baianos, eternizando em suas páginas textos jornalísticos, ensaios, histórias, poemas e outras formas de expressão que ajudaram a desvendar a Bahia e influenciaram movimentos posteriores, como o Tropicalismo.

O grupo fundou também a Editora Macunaíma, braço editorial da revista que sobreviveu (e, mais de seis décadas depois, ainda sobrevive) à curta duração do periódico, além de ter ajudado a organizar As Jogralescas, coletivo teatral que encenou diversos poemas da primeira geração do Modernismo brasileiro.

Nesta veia, Fernando publicou, ao longo das décadas seguintes, coletâneas como Poemas Bissextos (1972) e Mr. Lexo-Tan e Outros Poemas (1996), sendo membro da Academia de Letras da Bahia desde 1988. Além disso, ele é professor emérito da UFBA desde 2008, tendo ensinado por 40 anos no Departamento de História da instituição - entre suas produções acadêmicas, destaca-se a Memória da Sé (1974), uma reconstituição da Igreja da Sé da Bahia e a sua demolição em 1933, num contexto de amplas reformas urbanísticas sofridas por Salvador no período.

Para uma figura que está há mais de meio século acompanhando as marés da sociedade na Bahia e no Brasil, Fernando caracteriza o momento atual com um grau inquietante de hesitação. Questionado sobre a situação do país - enquanto território político, caldeirão cultural e arena de disputas -, o historiador é cauteloso.

"Nós estamos vivendo um momento de incerteza e de dificuldades enormes, provocadas pelo sistema organizacional do país", opina Fernando, que volta a citar a solidão que levou à escrita da sua nova obra. "Esta solidão me levou também a observar com mais atenção ainda as dificuldades que estamos atravessado, com uma impossibilidade de se resolver determinados problemas e na expectativa de um processo eleitoral que - talvez - comece a resolver essas questões", conclui.

Cinco Liras

Fernando, que se define como católico não praticante, concebeu sua mais nova obra como uma "recontagem" de cinco passagens do Velho Testamento - aqui, apropriadamente chamadas de Liras.

Na "Lira das Origens", o poeta reencena a criação do universo e da vida, enquanto a "Lira adâmica" verseja o início da linguagem e o ato de nomear todas as coisas - e, portanto, dar sentido a elas. A "Lira da Interdição", por sua vez, traz à tona o fruto proibido que simboliza os limites e suas transgressões. A "Lira diluviana" resgata a façanha de Noé e o começo de um novo tempo, enquanto a "Lira babélica" encerra a coletânea com uma reimaginação da Torre de Babel, da falta de comunicação e da ausência de sentido.

A ideia, segundo o autor, é trazer aos textos uma reinterpretação que possa inseri-los em contextos da atualidade - daí as fabulações presentes no título da obra. "A fábula é narrativa, a fábula pode ser em prosa mas também em verso, e eu vejo o texto do Velho Testamento como uma fabulação religiosa", explica Fernando. "A partir daí, eu resolvi fazer esses poemas, que denominei de Liras, no sentido literal da palavra - são textos curtos, em verso. Me parece que em verso eles adquirem uma melhor concisão".

A escolha das cinco passagens adaptadas na obra, naturalmente, não é aleatória: ficam evidentes, ao longo da curta narrativa, os paralelos apontados implicitamente pelo autor entre as histórias bíblicas citadas e inquietações deveras contemporâneas.

É possível, ao longo da leitura, se deparar com temas como a comunicação (ou a falta dela), a cooperação entre pessoas, o desrespeito aos limites, a destruição da natureza e o sentimento de confusão inerente ao mundo de agora - o que não é nenhuma surpresa, considerando a ampla produção acadêmica de Fernando.

Os interessados podem adquirir 5 Fabulações Edênicas enviando uma mensagem para [email protected].

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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