MÚSICA
Após Caraíva, Criolo traz "Boca de Lobo" para Salvador
Por Keyla Pereira | Fotos: Caroline Bittencourt

Uma conversa intimista, com direito a risos e discussões políticas. Esse é um breve resumo do que foi a entrevista cedida pelo rapper Criolo para a reportagem do Portal A TARDE na manhã desta quarta-feira, 12. Durante a conversa, o artista contou sobre seus projetos, o valor do rap e projetos futuros, incluindo uma visita a Salvador.
Criolo estará na Bahia no dia 31 de dezembro, mais precisamente em Caraíva, em Porto Seguro (a 636 quilômetros de Salvador). O cantor participará do Réveillon em solo baiano no Bar da Praia, à beira-mar. A festa irá começar, às 22h, no dia 31 de dezembro e tem previsão para encerrar, às 6h, do dia primeiro de janeiro. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla.
Em relação ao show, Criolo não esconde a importância de estar em uma cidade baiana: "A Bahia é muito especial. Senti isso desde a primeira vez que pisei aí". Segundo o artista, a apresentação em Caraíva será mais focada no rap, passeando pelos álbuns já publicados, como "Nó Na Orelha", "Convoque Seu Buda", "Ainda Há Tempo", entre outros. "Mas também irei passear em outros ritmos, sendo que o foco principal será o rap", explica.
"Boca de Lobo" em Salvador
Durante a conversa, Criolo já adiantou que vai matar a saudade de Salvador em breve. "Vou estar na Concha Acústica [do Teatro Castro Alves], no dia 18 de janeiro, com a turnê Boca de Lobo", conta. Perguntado sobre as parcerias que podem surgir nesta apresentação, o rapper explica: "Estamos analisando algumas participações, mas nada confirmado ainda".
Para você que é fã e já ficou ansioso, a reportagem do Portal A TARDE já lhe dá todos os detalhes: o show acontecerá, às 19h, e os ingressos já estão à venda da bilheteria do TCA, nos SACs do Shopping Barra e do Shopping Bela Vista, além da plataforma Ingresso Rápido. Para o primeiro lote, os valores são de R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

As denúncias, a mensagem e a repercussão de "Boca de Lobo"
O clipe da canção "Boca de Lobo" foi lançado no dia 30 de setembro deste ano. No mesmo período o Brasil era marcado por uma série de discussões sobre política, sociedade e foi o momento em que muitos brasileiros relembravam os fatos que marcaram os últimos anos na sociedade. Isso porque o dia da eleição estava às portas.
Aí surge Criolo e a "Boca de Lobo": coberta de referências como a Dengue, escândalo da merenda em São Paulo, os "paneleiros" que protestaram contra o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, incêndio do Museu Nacional, o desastre de Mariana e demais situações que chocaram o Brasil e o mundo.
"Construí a música com base na linha do tempo dos acontecimentos. É uma forma de dizer: 'não esquecemos disso, não vamos cair nessa conversa'. Ao todo são quase 100 referências usadas nessa canção", explica Criolo.
Além disso, o rapper explica que a música vai além de uma "resposta às autoridades", mas também uma mensagem aos ouvintes: "É uma forma de promover um diálogo e despertar uma reflexão através de fatos reais representados na letra".
A repercussão? A melhor possível. Horas após a divulgação do clipe, diversos veículos midiáticos refletiam sobre a letra e apontavam as referências e a mensagem por trás delas. Entre os fãs, amigos e familiares de Criolo não foi diferente. "Foi um impacto muito forte. Acaber de vir de um projeto voltado ao Samba com referências dos anos 40 e agora surjo com um rap com influência dos anos 80. As pessoas se perguntavam: 'uma canção com referência dos anos 80?'. Isso impactou as pessoas", relata.
A música foi escrita por Criolo, tendo como produtora a Saigon e o clipe dirigido por Denis Cisma. E além de todas as referências e a mensagem para a sociedade refletir, Criolo diz que mais um recado foi dado: "Com essa queda econômica muitos acabaram vivendo o que já vivemos há muito tempo. Através de 'Boca de Lobo' eu quis dizer trazer a mensagem de acolhimento, explicar que estamos juntos. Nós que viemos da favela já lidamos com a desigualdade e por isso quis dizer que vamos lutar juntos, essa luta vai muito mais que a cor da pele, será desenvolvida com o dia a dia, nós vamos conquistar um ambiente com paz, amor".
"Estamos em um período de transição, com corações magoados, são mais de 50 anos em que a sociedade vive com a desvalorização, com pessoas de coração mau. Vivemos num momento em que as pessoas estão cansadas de serem enganadas", acrescenta o artista.

A desvalorização do rap e os exemplos
A entrevista não poderia deixar despercebida uma temática tão importante quanto a importância do rap e sua desvalorização diante da sociedade. Esse ritmo musical - embora tenha conquistado muitos ouvintes -, ainda é visto com preconceito, com descriminalização.
Ao ser questionado sobre como vê a opinião alheia sobre isso, Criolo é realista: "Eu acredito que não é um ritmo legítimo brasileiro. O rap vem das favelas, do povo que conta a verdade e isso é um fator determinante. De 2010 para cá estamos vendo muitas pessoas conquistando seus lucros através da sua cultura. Aos poucos vão se quebrando as resistências, mas não o preconceito".
Enquanto falava daqueles que conquistaram seu espaço através do rap, Criolo aproveitou para elogiar a carreira do seu amigo rapper Emicida. "Tenho muito orgulho do Emicida que começou com praticamente nada e hoje é MC, faz freestyle e é apresentador. Ele conquistou e hoje gera empregos para aqueles que vieram de onde ele veio. Ele e o irmão [Evandro Fióti], crescendo criando tudo de forma independente", elogia Criolo.
"E ao ver isso, as pessoas ficam sem entender e perguntam: 'Como um preto pode ser capa da Forbbes?'; 'Como um preto pode estar em diversos jornais falando sobre cultura", comenta o artista.
As referências musicais vêm de casa
Dona Maria Vilani Gomes e seu Cleon Gomes criaram Criolo no melhor berço musical possível. A reportagem perguntou a Criolo sobre quem o inspirou no âmbito musical e ele foi bem enfático: "Eu cresci ouvindo os gostos musicais dos meus pais. A gente tinha um radinho que tocava AM e foi assim que cresci, além das músicas de infância, que me acompanharam. Também cresci ouvindo os rappers locais como os MCs Thaide, Pepeu e os que eram de bairro, que não tinham espaço na mídia".
"Também comecei a ouvir música jamaicana, eu também ouvia Whitney Houston, eu amo a Whitney! Quer que eu te dê a real? (sic) Eu ouvia música de preto, baseada na cultura de preto", explicou o artista, que também acrescentou: "Comecei a conhecer os demais artistas com a chegada do vinil, não era um acesso fácil".
A Música Popular Brasileira e seus presentes
"Há futuras parcerias?", foi o que a reportagem perguntou para Criolo. Sua resposta? Gratidão! "Eu não posso pedir nada a MPB, porque ela me deu muitos presentes. Eu já cantei com Milton Nascimento, Caetano Veloso, Tom Zé, Ney Matogrosso, que até gravou uma música minha "Freguês da Meia-Noite" e fiquei muito grato. Ai, foi tanta gente... Mano Brown, Monarco para a Portela, Chico Buarque. Foi tanta coisa linda que a música me deu", conta.

Em 2017, Criolo apostou no samba e produziu um álbum intitulado "Espiral de Ilusão", composta por 10 canções e com muitas críticas sociais. Além disso, o artista é autor de "Banca de Jornal", conhecida na voz de Tom Zé e em 2016 Criolo gravou "Até Amanhã", canção inclusa em no projeto póstumo "Se Assoprar, Posso Acender de Novo", de Adoniran Barbosa.
O artista conta que os fãs receberam bem o samba em seus projetos. "Eles amaram! Muitos nem costumavam ouvir o ritmo e passaram a consumir a partir deste projeto. Muitos pais me agradeciam após os shows, foram tantas pessoas agradecendo e alguns até me contaram que começaram a me ouvir a partir deste trabalho", relata Criolo.
E será que o artista possui um ritmo para seguir eternamente? É claro que não! "Continuo experimentando os ritmos, sempre aprendendo um pouco", explica, que também acrescenta quem em 2019 os fãs podem esperar por novidades, há muitos planejamentos para o ano que vem.
Ao fim, no momento de se despedir dessa conversa tão leve e intimista, o artista deseja boas energias aos baianos: "Muita luz e amor ao povo baiano. Sempre que vou à Bahia sinto muito amor. Ao pessoal de Caraíva, aguardo vocês para o show".
Enquanto o show não chega, confira o clipe "Boca de Lobo":
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