MÚSICA
Baiano Giovani Cidreira, o Gio, lança terceiro disco de estúdio
Por Daniel Oliveira

O cantor, compositor e multi-instrumentista baiano Giovani Cidreira, ou, como vem assinando em sua nova fase, Gio, lançou no fim de julho Nebulosa Baby, terceiro disco de estúdio, disponível em todas as plataformas digitais. O trabalho começou a ser gravado em São Paulo há quase três anos e se conecta a outros dois lançamentos, a websérie Nebulosa e ao álbum visual homônimo do disco. Ambos podem ser vistos no YouTube do artista.
“Juntos é que eles formam o poderoso megazord. Nebulosa Baby é uma história, um recorte, um filme. Não é só um disco”, diz Gio. As três produções (disco, websérie e álbum social) são trabalhos em que os vínculos com o bairro de Valéria, local onde nasceu, as ligações ancestrais e espirituais, ficam mais explícitas conjuntamente.
O processo de construir essa narrativa “fractal”, de pedaços que formam o todo, não foi simples, envolveu colaboração e parceria. “É difícil ser nordestino e gravar disco. O que as estruturas impõem para a gente é um grande não, uma placa de parar”, afirma.
No processo, Gio remexeu fotografias, lugares, conectando músicas e afetos, pessoas e lembranças, com todo o cuidado e também com as limitações colocadas pelo contexto e a necessidade de distanciamento social. Junto às canções do disco, construiu uma estética de formatos e histórias interligadas, que pode ser enquadrada em experimental – conceito que, para o artista, demanda certas nuances, uma vez que forma a própria tradição da música brasileira.
Tradição experimental
“O que fiz foi utilizar as ferramentas dispostas no meu tempo para trabalhar. A nossa tradição brasileira já é muito experimental. O que fiz a vida inteira foi transformar as dificuldades em linguagem. E foi isso que fiz com Benke na Mixstake e também no Nebulosa Baby”, explica, fazendo referência ao coprodutor Benke Ferraz, guitarrista da banda Boogarins, parceiro de Gio há alguns anos.
O disco Nebulosa Baby também traz a participação de artistas como Jup do Bairro, Ava Rocha, Josyara, Luiza Lian, Dinho Almeida, Alice Caymmi, Vandal, Luê, Jadsa Castro, entre outras. Gio explica que tem buscado fazer trabalhos conjuntos com pessoas comprometidas com a realidade e com a mudança do estado das coisas. E, nesse processo, não importa o veículo ou o formato. “O lance é a gente fazer aquilo que gosta e acredita”, complementa.
No repertório do novo disco, treze músicas compostas nos últimos anos, algumas já apresentadas em disco, como no Mixstake, mais voltado para o eletrônico, o R&B, com samples, e também em outras parcerias de Giovani. Nebulosa Baby é um disco mais orgânico, no qual o artista reforça as suas ligações com matrizes da música brasileira setentista, dos tropicalistas ao Clube da Esquina, ao mesmo tempo em que traz fortes relações com referências contemporâneas. O artista conta que tem ouvido muito Jup do Bairro, Rico Dalasam, Don L e, fora do país, o rapper e produtor Drake, por exemplo.
“Algumas coisas mudaram não só musicalmente. A minha aproximação com outro tipo de literatura, não só Drummond e nossos poetas. Passei a ler Frantz Fanon, Djamila Ribeiro. Coisas que mexeram com essa minha fase de desconstrução, longe de casa, vivendo em São Paulo”, explica Gio.
Repertório e parcerias
O disco começa com a voz de Jup do Bairro falando sobre enquadramentos redutores também de resistências, novas possibilidades de criação, invenção e transformação: “Não sei o que vai ser daqui para frente, mas estou escrevendo essa história”, fala Jup, na letra.
A faixa Sangue Negro traz a afirmação étnico-racial, junto a beats e guitarras, enquanto Nebulosa, uma das faixas mais marcantes do disco, aborda solidão, superficialidade e deslocamentos. Entrelaçados, composição de Zé Nigro, de acordo com Gio, vincula-se ao “conceito dos fractais”. A música já havia sido lançada, com outra estética, no disco Mixstake.
Já Saudade de Casa foi feita em uma viagem de Gio para o Rio de Janeiro junto com a cantora e compositora Josyara. “Toda vez que estou com Josyara, faço uma música. Fala sobre estar longe de casa, rememorando os nossos, os nordestinos. Cada vez que a gente se afasta mais do nosso lugar, nos conectamos mais com ele”, diz Gio.
Composição gravada por Liniker e que ganhou um novo arranjo em Nebulosa Baby, Claridades conta com participação de Luê. As participações continuam em Pode Me Odiar, com a cantora e compositora Alice Caymmi. “Ela é da família e uma grande influenciadora do meu trabalho desde que conheci Rainha dos Raios (segundo disco de Alice)”, conta Gio.
Em mais um álbum forte, profundo, minucioso, Giovani agrega mais camadas à sua trajetória. Faz isso a partir de diálogos com diferentes sonoridades, tomadas de posição e parcerias tão diversas como os temas abordados no trabalho, sempre em fractal.
“O disco é uma celebração das nossas habilidades, da nossa intuição. Coisa que a gente aprende com os ancestrais, com a nossa ligação com a terra, o espiritual. E, nesse sentido, Nebulosa é também uma resposta de uma pessoa que veio de Valéria”, sintetiza Gio.
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