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MÚSICA

Dori Caymmi lança disco com texto de Mário Lago

Daniel Oliveira

Por Daniel Oliveira

03/05/2016 - 17:16 h | Atualizada em 21/01/2021 - 0:00
Dori Caymmi
Dori Caymmi -

Na década de 1970, a peça Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana, de Mário Lago (1911 - 2002), foi censurada pelos militares antes mesmo de chegar aos palcos. O texto, inspirado no acontecimento histórico, é o último feito pelo ator, roteirista e compositor para o teatro. Com a proibição, ficou por anos guardado. Somente em 2013, os seus filhos decidiram retomar a obra e convidaram Dori Caymmi para transformá-la em música.

"Graça (filha de Mário Lago) ligou, falou da peça e disse que gostaria que eu musicasse. Ela veio aqui em casa em uma tarde e me mostrou. Eu disse que ficava honrado com o convite, até porque eu adorava Mário", diz Dori. Em pouco tempo, ele começou a fazer as canções e, em 2014, entrou no estúdio para gravar em São Paulo.

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O álbum Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana, lançado em abril através da gravadora Acari Records, traz 14 faixas com arranjos de voz, violão, baixo, percussão e flauta e participações das cantoras Mônica Salmaso e Joyce Moreno. A narração do texto de abertura, que contextualiza o trabalho, é do ator Milton Gonçalves, enquanto o release é assinado pelo secretário de Cultura do Estado da Bahia, Jorge Portugal.

Imagem ilustrativa da imagem Dori Caymmi lança disco com texto de Mário Lago
| Foto: Myriam Vilas Boas | Divulgação

O músico entre as cantoras Joyce e Mônica Salmaso (Foto: Myriam Vilas Boas)

Música, história e ilustração
O ponto de partida criativo foi o encontro de Dori com as ilustrações do baiano Samuka Marinho. O artista gráfico desenhou o rosto de João de Deus Nascimento, Lucas Dantas Torres, Luiz Gonzaga das Virgens e Manoel Faustino dos Santos, enforcados no dia 8 de novembro de 1799 na Praça da Piedade, durante a Revolução dos Alfaiates (ou Conjuração Baiana).

"Eu comecei impressionado com os desenhos de Samuka, que minha mulher, Helena, me mostrou. Mas uma companhia tinha o direito dos retratos. E ele foi muito gentil e fez outros. O clima começa muito disso. E fiz na esperança que a peça seja encenada, mesmo com estudantes de teatro, na data das execuções". As ilustrações dos revolucionários baianos figuram na capa concebida por Elianne Jobim.

Identificados atualmente como os quatro Tiradentes, eles buscavam o rompimento das relações coloniais com Portugal, ou seja, a independência brasileira para a formação da república. Porém, assim como os líderes de outros movimentos emancipacionistas do século 18, tiveram um final trágico.

O vínculo afetivo de Dori com a Bahia tem raiz familiar - o seu pai, Dorival, nasceu em Salvador e cantou a cidade em suas aclamadas canções praieiras. Apesar dessa ligação, ele conta que não conhecia profundamente a Revolução dos Alfaiates antes de ter acesso à peça de Mário Lago. Ao receber o texto da família, fez o mergulho histórico na própria narrativa para a elaboração do disco.

"Estudei no colégio a Sabinada (que ocorreu em Salvador), mas não a Conjuração Baiana. Por isso me detive mais no que Mário escreveu mesmo".

Relação de respeito
Dori conta que conheceu Mário Lago nos anos 1960, em teatros e passeatas que sacudiam o Rio de Janeiro daquela época. "A gente se encontrava muito. Mas não era uma amizade, era mais respeito. Eu tenho muito respeito pela geração que me antecedeu. Se perguntar assim, você era amigo do Tom Jobim? Não, eu tinha mais respeito por ele, Ary Barroso, meu pai, Noel Rosa, Pixinguinha. Não frequentava a roda deles".

Quando o primogênito de Dorival Caymmi compôs a música Alegre Menina, tornando-se parceiro de Jorge Amado, ocorreu o que ele chama de upgrade. "Ele adorou, falou comigo no telefone, ficou emocionado. E aí passei para o banco da frente. Quebrou aquela coisa: 'como vai seu pai e Stella?'", conta com bom humor.

Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana é a primeira trilha sonora de Dori para o teatro. Ele já havia feito a direção musical e os arranjos de espetáculos memoráveis, como Opinião, de Augusto Boal, e Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra. "Foi uma experiência muito bonita e agradável".

Morando em Los Angeles, nos Estados Unidos, há mais de 20 anos, o músico planeja voltar para o Brasil em 2016. Mas nada de capitais, como Rio de Janeiro e Salvador, ou outros centros urbanos. Pretende viver na tranquilidade da serra carioca. "Está sendo difícil ganhar em real e pagar em dólar. O Brasil está vivendo uma fase preocupante, temos muito a temer", comenta, aproveitando para fazer trocadilho com o nome do vice-presidente do país.

Embora tenha passado esse tempo no exterior, o carinho pelos dois estados, dos quais é oficialmente cidadão, permanece. Contudo, Dori não dilui o tom crítico ao citar o modelo de desenvolvimento desses lugares.

"A minha afeição pela Bahia é a mesma do Rio. Sempre me emociona muito. O que não me emociona é o progresso. A gente progride sempre para o lado errado. Por exemplo, em Salvador, sinto falta das jangadas, das canoas, das pescas de rede. Isso estava nos quadros que meu pai pintava, nos desenhos maravilhosos de Carybé. E na minha presença em Itapuã. São coisas que não vejo mais".

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