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16/11/2023 às 8:00 - há XX semanas | Autor: Tamires Silva*

CONEXÃO SAGRADA

Fabiana Cozza faz show com manifesto anti-racista no Centro

Com ingressos esgotados, paulistana faz três dias de show do álbum ‘Dos Santos’

Imagem ilustrativa da imagem Fabiana Cozza faz show com manifesto anti-racista no Centro
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Uma das vozes mais belas surgidas na música brasileira nas últimas décadas, Fabiana Cozza traz o show Dos Santos à Caixa Cultural. O trabalho é descrito pela artista como um manifesto poético antirracista. Ao mesmo tempo, é o lançamento da artista como compositora. As três apresentações programadas de hoje até sábado já estão com ingressos esgotados.

A cantora paulistana lançou Dos Santos, seu oitavo e penúltimo álbum, em setembro de 2020 em meio à pandemia. Manifesto poético-musical-antirracista, cuja cultura do sagrado afro-brasileiro é sua inspiração e matriz, tem sua singularidade justamente na pluralidade de artistas e compositores oriundos de sete Estados brasileiros e da Guiné Bissau, convidados por Cozza a participarem do trabalho – mas não só: também na abordagem afro-indigena sagrada explorada nas canções: o álbum é uma obra de amor e valorização das liturgias e filosofias banto e iorubá que dialogam com a herança negra em diáspora criada nos terreiros de candomblé, umbanda, jurema e demais cultos de tradição afro.

“Eu escolhi compositores e artistas com os quais eu já havia tido uma relação de admiração e amizade, e assim fui pensando no orixá ou entidade que essas pessoas poderiam escrever a respeito. Dessa forma eu fui selecionando minhas parcerias, do ponto de vista musical tivemos um álbum bastante econômico, tivemos diversas mulheres na percussão, tivemos Jurandir Santana, como guitarra e a voz de Cristiano Cunha junto com a minha”, descreve Fabiana.

“É um disco de reza e de sensibilidades, afinal é apenas no silêncio que se reza. Há de se fazer mais silêncio para se ter espaço para refletir no que cada um dos compositores escreveu. Os ritmos que envolvem esse álbum são ritmos ligados a essa liturgia sagrada dos terreiros afro-indígenas brasileiros: o samba de cabula, os toques Ijexá, o agueré, entre outros. Esse é um trabalho que tem essencialmente o baixo, o contrabaixo e o tambor, além de sinos, chocalhos e outros instrumentos de percussão”, acrescenta.

Fabiana acredita que, graças a um recado recebido via leitura dos búzios, conseguiu concluir a obra ainda no início da pandemia: “A gente construiu uma parte desse disco antes da pandemia, e o restante eu consegui terminar no primeiro semestre de 2020, em grande parte eu consegui concluir esse trabalho graças à ter recebido um recado sagrado num jogo de búzios no meu terreiro, onde me foi dito que esse trabalho seria muito importante para muita gente. E eu acredito que de fato foi, pois até hoje eu recebo recados e bilhetes agradecendo pessoas que tiveram esse álbum como um acalanto, como um refúgio durante a pandemia”, revela.

Para a artista, esse trabalho se tornou essencial, não só como um refúgio espitirual para as comunidades afro-indígenas mas também visto a fragilidade que a democracia brasileira enfrentou nos últimos quatro anos, além de ataques que espaços e pessoas ligadas à religiões africanas e indígenas vêm sofrendo. "Esse álbum é dedicado às culturas de matrizes afro-indígenas ligadas ao sagrado. Ele é dedicado a diferentes composições em reverência à poética e a cultura dos orixás, os caboclos, entidades divinas desse universo afro-indigena brasileiro”.

“Eu sou uma pessoa ligada ao candomblé e Jurema, e tenho me indignado em relação ao terrorismo praticado contra terreiro e pessoas de santo, como matriarcas, babalorixás, pessoas de santo, pessoas que frequentam casas de candomblé, de umbanda ou diferentes territorios negros indígenas brasileiros. Eu acho que isso precisa ter uma intervenção muito severa do estado. Essa perseguição já dura séculos e se intensifica nos dias atuais travestida de intolerância, mas isso é na verdade terrorismo, uma vez que você destrói terreiros, mata pessoas, isso precisa acabar. Eu sinto que se tivesse uma contribuição que eu pudesse dar para esse problema político é o meu álbum que é na verdade um manifesto poético antirracista”, reivindica Fabiana.

Trabalho constante

Fabiana também destaca a importância que a arte tem para a sociedade como um todo, mas principalmente na sensibilização do homem como ser humano. A cantora enfatiza, porém, o sucateamento que a cultura sofreu no governo anterior e reforça a necessidade de haver uma constância nos recursos disponibilizados à produção artístico-cultural.

“A realidade de ser uma artista negra no brasil não foge da realidade racista que é ser um profissional negro em qualquer área. A questão do racismo está posta em todos os ofícios, em todas as situações, etc. Os obstáculos são todos aqueles que já se conhece, ainda por cima estando em um país que não teve ministério da cultura por quatro anos. Um país onde as políticas públicas relacionadas à arte são quase como estar implorando para ter alguma verba de incentivo para que seja possível realizar um trabalho, um projeto. Ao meu ver deveria ter obrigatoriamente de forma constante, verbas fixas talvez, para os artistas poderem trabalhar. Afinal a arte é pensamento, é reflexão, é cidadania, é educação”, afirma a artista.

“Tem muitos papéis que o artista desempenha, o artista desempenha o papel de sensibilização das pessoas, de conscientização talvez, mas sobretudo de despertar uma sensibilidade na sua relação com o cotidiano, com as pessoas. Então eu acho que a arte serve como uma lupa para a gente poder encontrar e enxergar, sob outras óticas, o cotidiano e entender um pouco mais sobre a nossa história, a nossa origem e plantar e prospectar o nosso futuro”, acredita.

Para Fabiana, o ofício do artista não se resume a subir no palco, é cotidiano, como qualquer outro. “A contribuição do artista não é sazonal e nem deve ser focada em datas específicas. Trabalhamos cotidianamente, mesmo quando não estamos no palco. O palco é um pedaço muito pequeno do labor artístico. Existe uma elaboração conceitual que exige de nós uma dedicação, uma disciplina que está fora do palco. Eu acho que uma vida sem arte, sem artista, um país que não ouve seus artistas, se torna mais violento, mais materialista, menos criativo, um país que prospecta futuros de forma estreita e reduzida”, diz.

Por fim, a cantora conta do retorno que seu trabalho tem trazido, relata que o público descreve o show como sendo uma experiência sensorial muito profunda. “O que a gente tenta fazer nesse espetáculo efetivamente é traduzir com toda minha paixão e todo o talento dos músicos que me acompanham, essa atmosfera de criação e de reinvenção do espaço sagrado em relação às religiões de matrizes afro-indígenas brasileiras”, afirma.

“Eu digo reinvenção porque ninguém vai transpor um xirê ou um culto ou uma manifestação que acontece dentro de espaços sagrados para o palco. Mas é nossa intenção, através e inspirados por essas culturas, essas forças da natureza, pelo que se vive dentro do terreiro, criarmos um universo paralelo ao cotidiano para que as pessoas possam se encantar e saírem bem dali”, conclui..

Além dos shows, a temporada na Caixa Cultural Salvador conta com uma série de bate-papos e encontros. Já houve encontro com alunos da Escola de Música da Ufba (na terça-feira 14) e um bate-papo online com Tiganá Santana, Virginia Rodrigues e Sandra Simões (ontem).

Amanhã, o pós-show terá conversa aberta ao público com os músicos Fi Maróstica, Fábio Leal e Cleber Almeida sobre Dos Santos.

Sábado, ela recebe o cantor, professor de história e Ogã do Illê Axé Odé Ye Ye Ibomin, Carlos Barros e Iuri Passos, Alagbê do Terreiro do Gantois, músico, arranjador e professor da Faculdade de Música da Ufba, que participam do bate-papo com a plateia.

Fabiana Cozza: ‘Dos Santos’ / Hoje, amanhã (20H) e sábado (19h) / Caixa Cultural Salvador (R. Carlos Gomes, 57, Centro) / Ingressos esgotados

*Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.

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