MÚSICA
Gravadora Kuarup relança clássicos da MPB
Por Marcos Dias

Com 72 horas de lançado, em 1976, o disco Imyra, Tayra, Ipy, do cantor e compositor Taiguara, foi banido das lojas. Um dos artistas mais censurados pela ditadura, morto em 1996, ele não chegou a ver o disco relançado no País.
Mas num destes golpes do tempo e da memória, a gravadora Kuarup agora o reestabelece. O músico reuniu uma orquestra com 80 integrantes, sob a sua batuta e a de Hermeto Paschoal, numa ode ao universo indígena.
Desde que começou a relançar álbuns do seu valioso acervo, em 2011, a gravadora criada em 1977 tem feito a alegria de antigos fãs e abre caminho para que os mais novos conheçam um valioso acervo com mais de 200 títulos.
Neste terceiro lote, também estão disponíveis álbuns como Dois Irmãos (1992), de Paulo Moura e Raphael Rabello; Teca Calazans e Heraldo Monte (2003) e Chico Lobo (2000) , além de Xangai e Quarteto da Paraíba, que fazem uma sincera homenagem a músicos como Pedro Osmar, Zé Ramalho, Sivuca e Jackson do Pandeiro, entre outros, no disco Um Abraço pra Ti Pequenina.
Mercado
Nem a pirataria nem novas formas de consumo da música fizeram a Kuarup abrir mão da brasilidade que a consagrou e do formato físico dos CDs, graças a uma parceria de distribuição com a Sony Music.
De acordo com o diretor artístico da Kuarup, Rodolfo Zanke, o mercado para as independentes ficou maior de duas décadas para cá, tanto no Brasil como no exterior.
Foram repensados os custos com gravação, estúdio, músicos e a administração das independentes, na opinião dele, ficou mais fácil, permitindo que artistas possam criar e apresentar novos projetos.
"Para as gravadoras pequenas, em algumas situações, a perda da cultura das pessoas comprarem o CD físico acabou prejudicando novos projetos e rumos. Mas somos uma gravadora de médio porte, temos que pensar numa estrutura musical e artística que envolva outros dividendos", diz Zanke.
Entre as novas frentes, além de comercializar música no formato digital, também pensaram no mercado publicitário e música sob encomenda e a produção de shows.
"A gente entende que o disco físico tem a venda parecida com a de um livro. Coisa de duas a quatro mil cópias, ou se um artista é mais conhecido, 10 mil. A gente teve que se readequar ao mercado para poder conseguir sobreviver da venda da música em geral".
Dona da maior coleção de títulos do maestro Villa-Lobos no País, felizmente, a gravadora não se amesquinhou com artistas de puro apelo popular ou que sigam tendências forjadas.
Talento e autenticidade confirmam-se nos novos nomes do cast, como o cantor e compositor santista Bruno de La Rosa. Em seu primeiro álbum, produzido e dirigido por Marcos Alma, Vasta Cidade, Festa de Alguém, ele faz uma síntese das suas influências, como Chico Buarque e Edu Lobo, sem anacronismo e com equilíbrio incomum.
"Foi uma construção tentando ser o mais verdadeiro possível", diz o jovem artista de 26 anos, que contou com participações de Toquinho e Renato Teixeira. "Não tive nenhuma intenção de soar antigo ou retrô, como muita coisa agora está acontecendo".
Outra novidade vem de Minas Gerais: o cantor e compositor Marco Aur, que lançou um delicioso disco infantil, No Maior Pique. Para que não se lamente como as crianças estão entregues a caça-níqueis que as embrutecem tão cedo.
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