MÚSICA
Guitarrista de Pitty retorna a Salvador e inaugura produtora
O cantor, compositor e guitarrista Martin Mendonça passo 18 anos em São Paulo
Por Júlia Lobo*
De volta para Salvador desde o mês de junho, o cantor, compositor e guitarrista Martin Mendonça, 45, veio com a mala cheia de planos e projetos. Em outubro realizou a estreia do novo selo Praia dos Artistas com o lançamento do primeiro álbum da banda Eugênio (SP), Dentro da caixa, fora do mundo, produzido por ele.
As primeiras experiências de Martin como produtor foram antes mesmo de ir embora para São Paulo, em 2003. Após integrar a cena do rock baiano em formações clássicas do rock baiano como Malefactor e Cascadura, o guitarrista produziu bandas das quais participou e, sempre que podia, dos próprios amigos. Já em terras paulistas, Mendonça foi convidado, em 2005, para fazer parte da banda de Pitty, com quem segue até hoje.
“Eu tinha uma curiosidade muito grande de estar desse outro lado (produção), então a história do selo é um desejo antigo, foi bem coisa de realização de desejo mesmo, de fazer as minhas coisas sem tantos intermediários, principalmente quando fossem coisas mais pessoais e também para muitos artistas menores. Depois que a gente terminava de trabalhar, eles estavam com o produto na mão, iam correr atrás de selos para lançarem, alguém que se interessasse”, diz Martin.
A produtora fica localizada na Boca do Rio, perto da Praia dos Artistas, daí vem o nome. Além disso, é o lugar onde Mendonça cresceu. Seu pai o levava desde pequeno para correr naquela areia.
Agora, o espaço volta com ainda mais afetividade. O home studio montado no apartamento e o selo é uma sociedade com a companheira de 16 anos, Juana Diniz. Pesquisadora e profissional da comunicação, ela é responsável pela divulgação e contato da produtora e quem também traz o interesse de abrir o leque de atuação do projeto.

Arte por todo canto
O casal planeja um espaço dedicado à cultura e arte em geral, indo da música à gastronomia. Para abrir os trabalhos não podia ser diferente, já que a carreira de Martin foi construída na musicalidade.
O álbum Dentro da Caixa, Fora Do Mundo, da banda sorocabana Eugênio, fez a estreia do selo. O guitarrista conheceu o grupo durante uma turnê com Pitty, quando os jovens músicos fizeram a abertura do show da cantora baiana na sua Sorocaba (SP) natal.
“Acredito que assistia todos os shows das bandas de abertura, chegava sempre mais cedo, às vezes não conseguia assistir eles inteiros, mas eu assisti o show da Eugênio e foi meio que amor à primeira vista. Adorei o som deles, aí a gente se comunicou depois e eu sempre ia conversar, passar as impressões que tive durante a apresentação e, nessa conversa já ficou uma espécie de promessa de backstage, que a gente ia trabalhar junto”, conta Mendonça.
A ideia da Eugênio, formada por Paulo Lins, Sthé Caroline, Murilo Shoji e Ludmilla Marolli, era fazer um EP, mas ele gostava tanto das canções que propôs escreverem mais duas e, assim, lançarem um álbum. O desafio foi aceito e o resultado foram nove músicas que falam sobre a empatia em um mundo cada vez mais individualista.
Disponível nas principais plataformas de streaming, Dentro Da Caixa, Fora Do Mundo passeia por sonoridades diversas, como o rock alternativo de Radiohead e a brasilidade afetiva dos Novos Baianos e Tom Zé. A banda também lançou o clipe de Bem Vindo, uma das canções do álbum.
“O que sempre me chamou mais atenção é a autenticidade deles, eu acho a banda muito verdadeira, as pessoas muito transparentes, como se fossem quase um contraponto a essa coisa que a gente está tendo agora, esse excesso de produção, excesso de pose, de tudo milimetricamente calculado, desde som até a postura e as fotos. A Eugênio sempre me pareceu que traz um frescor, uma contrapartida com isso da coisa imperfeita, caótica às vezes”, reconhece o músico.
Os planos com o grupo e com novos trabalhos são muitos, mas também cautelosos. Com a retomada da programação de shows pelo Brasil, o guitarrista sai em turnê com Pitty em 2022, e a primeira apresentação acontece aqui em Salvador, no dia 15 de janeiro. Além disso, gravar o próprio disco e aumentar o espaço físico da produtora para reunir mais artistas no local estão no planejamento.
“Estou recebendo convites para produzir jovens talentos e fico muito empolgado, tenho recebido discos ótimos, com muito potencial, espero fazer muitos sons, receber muita gente aqui na sede da Praia dos Artistas, espero produzir, provocar muita arte bonita no mundo”, anseia Martin.
O retorno para Salvador também era um desejo, que foi impulsionado pela pandemia. Com dois filhos, ele e Juana sentiam falta de ter a família por perto.
A saudade uniu o útil ao agradável e Martin trouxe música na mala, e ainda vai levar mais para o Brasil inteiro.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes