DIA MUNDIAL DO ROCK
Marcos Clement: "Salvador ferve e tem espaços para o Rock"
Músico conversou com o Portal A TARDE e avaliou o cenário do rock soteropolitano
Por Matheus Calmon
Marcos Clement teve seu caminho iluminado pelas notas rebeldes de Raul Seixas, um ícone que deixou seu legado imortal na história do rock brasileiro. Na tenra idade de oito anos, quando o destino cruzou seus caminhos, Marcos descobriu a música de Raul, que o envolveu, despertando uma paixão inigualável.
Embalado por canções como 'Eu nasci há dez mil anos atrás', Marcos encontrou o ritmo de sua vida, e desde então, sua jornada tem sido uma ode à força e ao poder do rock. A influência de Raul Seixas, mesmo após sua partida, ainda ecoa nos acordes e versos entoado por Clement, mantendo viva a chama de rebeldia que transcende gerações.
"Eu descobri ele através de uma canção chamada 'Eu nasci há dez mil anos atrás'. Não me despertou para o rock, pois eu não entendia ainda o que era, mas eu gostava daquela música, do que ele dizia e comecei a aprender mais, buscar ouvir mais, principalmente Raul", afirma Clement.
Na adolescência, ele foi influenciado pelo rock internacional e, enquanto aprendia a tocar violão, passou a ouvir também Sepultura, Nirvana, Guns N' Roses, além de Camisa de Vênus, Legião Urbana, o próprio Raul, e Rita Lee.
"São 23 anos aí no rock and roll soteropolitano. Já toquei praticamente todos os bares e casas de shows da cidade. Na época tinha o clube de engenharia, eu fundei uma banda chamada Arapuca e meu primeiro show foi lá".
O músico avalia que da década de 90 para os dias atuais, a capital baiana desceu a ladeira no quesito espaços culturais dedicados ao gênero. A falta de reconhecimento faz com que grandes nomes da música, em todos os estilos, precisem deixar a terra para conseguir um lugar ao sol.
"Por exemplo, na década de 90, com Dois Sapos e Meio, o próprio Inkoma de Pitty, que é hoje é uma referência nacional de rock'n roll, precisou sair daqui para poder ganhar esse destaque maior e essa é uma coisa que a gente pena muito ainda. Pra gente ser reconhecido na nossa própria terra, a gente precisa sair daqui e isso aconteceu com todos e não só do rock, na música em geral", reflete Clement.
"Raul, Pitty, Camisa de Vênus, toda essa turma. Saindo um pouco do rock a gente vai falar de Caetano, Gil, Gal, Bethânia. Todo mundo teve que sair daqui pra poder ter um reconhecimento nacional e um reconhecimento como ídolo da música na sua própria terra".
Outra dificuldade apontada pelo músico refere-se ao mercado musical na cidade e o domínio do axé na indústria musical e nas rádios de Salvador, a falta de acesso do público a outros estilos musicais, as limitações das plataformas digitais para as populações carentes e as dificuldades de fidelização do público para estilos como o rock.
"Tivemos vários adventos aí, principalmente o do axé, nada contra o ritmo, o estilo musical, mas a indústria quando começou a tomar conta da música, eles transformaram em um negócio. Então, quem estava dentro do negócio, Ok, avançou. Aí a gente tem aí o axé fortíssimo e como um ritmo que marca: falou de Salvador, falou de axé e Carnaval".
O que ainda é empurrado no povo é que vem pra Salvador tem que ser festa, música de festa, música de dançar, é música de se namorar, de se divertir, vem pra um Carnaval o ano todo. E esse é um desafio que a gente tem.
Em uma terra tão rica cultural e musicalmente, há espaços para todos os ritmos. Mas são necessários personagens e investimentos do setor público, por exemplo, em editais específicos para esses estilos musicais.
Marcos pontua que Raul Seixas nasceu em Salvador, mas é São Paulo que atrai milhares de pessoas para a passeata em homenagem à sua vida.
"Aqui em Salvador tem vários pontos que podem ser pontos turísticos relacionados à vida de Raul. Tem a casa onde Raul nasceu, nas Mercês, o Cine Roma, onde ele fez muitos shows, o colégio São Bento, onde Raul estudou, a casa de Raul na Graça, tem o cemitério onde ele está enterrado. Ele é daqui, tem esse circuito todo que a gente pode criar até como circuito turístico em datas comemorativas. A gente tem o Dia Municipal do Rock, que é no aniversário de Raul. Então, é uma forma da gente também atrair turistas, fazer a economia da cidade girar, porque se São Paulo, onde Raul viveu, mas não tem referência direta".
Neste mês do rock, Marcos Clement considera que há de se comemorar o gênero estar e se manter na resistência. "Algumas ações estão sendo feitas nesse período, alguns eventos marcam o dia do rock, mas nada que seja de grande expressão, de grande repercussão. Não tem nenhum grande evento, além dos pequenos e pontuais".
"Rock and roll é irreverência, ir contra imposições colocadas...Raul mesmo, a maioria das músicas não são rock and roll no ritmo, mas ele tinha aquele espírito de rebeldia, de ir contra as imposições colocadas. O rock está aqui para isso, para ser a mosca na sopa, para continuar indo de encontro a imposições. Ele está aí para nos fazer pensar nas letras, mensagens, rebeldia. Lembrando que a gente tem o direito de fazer o que quiser, mas tudo tem consequência. Esse é o espírito do rock, para mim".
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes