MÚSICA
Mariana de Moraes, neta de Vinicius, lança disco em homenagem ao avô
Obra é lançada no ano em que Vinícius faria 110 anos de idade
Por Eugênio Afonso
A cantora carioca Mariana de Moraes, 54, não ostenta um sobrenome qualquer. Ela é neta do nosso poetinha maior, Vinicius de Moraes (1913-1980). Então, aproveitando o gancho dos 110 anos de nascimento do autor do clássico Eu Sei que Vou te Amar – parceria com Tom Jobim –, Mariana acaba de lançar o disco Vinicius de Mariana, já disponível nas melhores plataformas virtuais de música.
A cantora adverte que, na verdade, esse disco não foi feito para os 110 anos de Vinicius. “Era para ter saído ano passado, mas meu pai, Pedro de Moraes, adoeceu e acabou partindo. Adiamos porque eu pressentia que seriam os últimos momentos com ele. Mas, enfim, é um disco adiado há muito tempo, prometido a mim e a muita gente. Era hora. O tempo das coisas é misterioso”.
Quinto álbum de carreira, com 12 canções pinçadas da obra do poeta, o disco traz arranjos do saudoso João Donato - que toca piano e assina cinco faixas - e participações especiais de Chico Buarque, Mart'nália, o percussionista Robertinho Silva e Camila Pitanga, dentre outros.
“Quis fazer um disco sobre o nosso momento agora e que pudesse dar leveza, trazer alegria e uma afirmação da vida. Um disco que se pudesse dançar e cantar junto. Enfim, cada música foi escolhida para o aqui e agora nosso e do mundo”, confidencia a cantora.
Com um trabalho totalmente dedicado às canções de Vinicius, Mariana confessa que queria um álbum com foco na influência da cultura afro-brasileira. No entanto, preferiu não insistir nos inúmeros clássicos do avô, como alguns afrossambas, e acabou optando por um repertório que não parecesse tão óbvio.
“Na verdade, discordo um pouco, porque Vinicius não tem músicas desconhecidas. E no disco tem alguns sucessos. São sucessos no melhor sentido da palavra. Com Zé Celso Martinez Corrêa e Miúcha, conheci Quando a noite me entende, uma parceria do meu avô com Antônio Maria, cronista genial e amigo, muito amigo, de Vinicius. Essa ninguém conhece”, corrobora Mariana.
Obra extraordinária
Para a intérprete, carregar o sobrenome famoso é uma felicidade. “Uma bênção ser neta de alguém que só espalhou beleza, generosidade e amor. Além de um repertório extraordinário de músicas e poemas. O sobrenome ajuda, mas é dureza a vida do artista, mesmo com sobrenome. Se ele estivesse vivo, talvez minha vida tivesse sido mais fácil. Fazer cultura no Brasil é uma luta, mas eu não trocaria por nenhuma outra profissão. Amo cantar”, argumenta.
Vinicius de Mariana começou a ser gravado em 2021, durante a pandemia. “Nesta época, estávamos muito arrasados, num luto coletivo, massacrados por um governo terrível do qual fomos salvos graças à Bahia e a todo o Nordeste”, faz questão de frisar a cantora que, para a capa do disco, escolheu uma foto em que está, ainda criança, no colo do avô.
Em consonância com todo o Brasil, ela classifica a obra de Vinicius como extraordinária. “Não porque ele é meu avô. Ela é essencial num país que tem uma música fenomenal e centenas de compositores geniais, para mim e para muitas gerações antes e, com certeza, depois de mim”.
E defende a tese de que o poetinha tem despertado a curiosidade da nova geração. “A garotada curte. Aquilo que tem qualidade faz 110 anos. Meu público jovem está crescendo desde que lancei este disco”.
Nobreza de estilos
Apostando nas ilustres parcerias musicais que Vinicius teve ao longo da vida, o repertório do disco acabou ficando assim: com Baden Powell, tem Canto do Caboclo da Pedra Preta, Canto de Xangô e Tristeza e Solidão. Já com Carlos Lyra, além de Maria Moita – primeiro single do disco disponibilizado -, tem também Marcha da Quarta-Feira de Cinzas.
A frutífera colaboração com Tom Jobim aparece na célebre Eu não Existo sem Você. E como Vinicius era rico em parcerias musicais, tem ainda Arrastão e Só me Fez Bem, ambas compostas com Edu Lobo.
De Chico Buarque, outro parceiro constante, Mariana gravou Desalento. O compositor pernambucano Antônio Maria surge com Quando a Noite me Entende, Hermano Silva com a clássica Onde Anda Você, e Pixinguinha fecha o álbum com Mundo Melhor.
Mariana diz ainda que queria ter gravado Insensatez. “Cantar essa música para os poderosos do mundo porque eles são muito insensatos. Estamos destruindo o planeta com nosso consumismo, mas infelizmente discos tem limitação de espaço”.
Animada com a repercussão do trabalho, a neta de Vinicius informa que o disco vai ganhar estrada. “Vamos estrear com a banda original, em São Paulo, nos dias 16 e 17 de novembro. Teremos 11 pessoas no palco, incluindo um naipe de sopros e duas mulheres convidadas. O naipe foi ideia do João Donato ao fazer os arranjos do disco. Ele estava amarradão no disco, queria fazer os shows conosco, era um menino lindo de 88 anos que se foi. Está lá com Vinicius, Caymmi e Tom. Muito bem acompanhado”.
“Amo Tarde em Itapuã e vou cantar nos shows. A canção fala que tudo que a gente precisa, essencialmente, ou é de graça ou custa muito barato: o sol, o mar, um velho calção de banho”, finaliza a cantora, lembrando que Vinicius de Mariana tem 12 faixas, número de Xangô.
Na ficha técnica do disco, constam ainda os nomes do baixista e arranjador Guto Wirtti – responsável, ao lado de Mariana, pela produção musical -, do músico Carlinhos 7 Cordas, da multi-instrumentista Joana Queiroz, da cantora Nina Becker e tem a participação especial da cantora e atriz Clara Buarque (neta de Chico), dentre tantos outros.
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