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29/09/2021 às 6:06 - há XX semanas | Autor: João Paulo Barreto | Especial para A TARDE

MÚSICA

Miles Davis permanece como símbolo de inovação no jazz

Miles: ele revolucionou o jazz. E depois revolucionou de novo | Foto: Dr. Jean Fortunet | Wikimedia Commons
Miles: ele revolucionou o jazz. E depois revolucionou de novo | Foto: Dr. Jean Fortunet | Wikimedia Commons -

Em 28 de setembro de 1991, Miles Davis morreu devido a um acidente vascular cerebral. Dois meses antes, em 08 de julho, fazia sua última aparição pública. Tal aparição aconteceu na Suíça, no Montreux Jazz Festival, tradicional evento que acontece desde 1967 na homônima cidade europeia. A aparição calhou de ser justamente em um show capitaneado pela lenda viva Quincy Jones, e que viria a se tornar o clássico LP Miles & Quincy Live at Montreaux (1993), lançado postumamente.

No palco, porém, um Miles combalido, distante, com certa dificuldade em concentrar-se nas partituras e no domínio do trompete, instrumento que sempre foi sua ferramenta revolucionária. Ao seu lado, também no trompete, mas servindo de guia para as notas do seu mestre, Wallace Roney, pupilo de Miles, acompanhava o mentor, tocando alguns dos arranjos naquele que seria o último show de Davis.

Havia algo de muito simbólico naquele momento há trinta anos. Miles não gostava de revisitar o passado. Seguia em frente a cada trabalho lançado. Foi assim desde o começo, quando trabalhou com seus ídolos Charlie "Bird" Parker e Dizzy Gillespie em meados da década de 1940, período no qual Miles ainda frequentava o prestigiado conservatório de música Juilliard, em Nova York. Porém, se dedicava com mais paixão não à aulas, que perdia com frequência, mas às noites nos clubes de jazz tocando bebop, uma das variações do gênero. Foi com essa mesma vontade de experimentação (e sentindo não mais conseguir acompanhar a velocidade insana de Parker e Gillespie no bebop) que, nos anos posteriores, Davis focou na criação de um novo grupo.

Com essa formação, e sob a batuta do arranjador Gil Evans, o trompetista trouxe ao mundo o seu primeiro clássico, não por acaso, batizado de Birth of the Cool. Gravado entre 1949 e 1950, as faixas chegaram a ser lançadas individualmente, mas compiladas sob o marcante nome e reunidas como coletânea em 1957.

Nesse período da segunda metade da década de 1940, Miles tocou na França, no Paris International Jazz Festival, fase na qual se maravilhou com a cidade-luz e sua vida cultural, tendo uma percepção de mundo muito diferente daquela que tinha em seu próprio país, onde o racismo era evidente.

Na Europa, viveu um romance com a cantora Juliette Gréco, e conviveu com figuras como Sartre e Picasso.

Ao voltar para a América, foi atingindo como um golpe pela depressão que o levaria a afundar-se na heroína. Conseguiria superar com a ajuda de seu pai. Mas seria algo temporário, infelizmente.

No decorrer dos anos, gravou diversos trabalhos para o selo Prestige (de 1951 a 1961) e, em seguida, para a Columbia (de 1955 a 1976), através da qual traria à vida seus registros musicais mais aclamados, como Kind of Blue (1959); Someday My Prince Will Come (1961); In a Silent Way (1969) e, claro, o período no qual trouxe a fusão com o rock e os shows para multidões. Dessa fase, seu trabalho lançado em 1970, o emblemático do jazz fusion, Bitches Brew é o que mais se destaca.

Imagem ilustrativa da imagem Miles Davis permanece como símbolo de inovação no jazz
Joatan: “Miles me passou que o importante é ser eu mesmo” | Foto: Ailton Cruz | Divulgação

Reencontro com Quincy

Mas, voltando ao simbólico e derradeiro momento de sua vida em 1991, aquele show de julho aconteceu a partir a insistência do amigo de longa data, Quincy Jones.

Após uma década na qual as concessões citadas na linha fina desse texto surgiram em alguns dos seus trabalhos mais ligados ao pop rock (o disco de 1985, You're Under Arrest, trazia versões de hits de Cyndi Lauper e Michael Jackson, para se ter uma ideia), e com seu disco Doo-Bop, lançado em 1992, trazia Miles em um encontro com o hip-hop, tão popular naquele período, não seria de se surpreender que Davis pudesse revisitar alguns de seus clássicos.

O trompetista alagoano – mas radicado na Bahia desde 1987 – Joatan Nascimento lembra do dia que viu aquele momento marcante há trinta anos. "Ali foi uma coisa incrível porque ele quis fazer algo a que se negou a vida inteira. E o Quincy Jones fala uma coisa interessante. Que de alguma forma, Miles sentiu que tinha que fazer aquilo. Talvez porque era uma das poucas coisas que ele não tinha feito na vida e que não seria exatamente negativo, mas, sim, algo a mostrar que Miles é tão maior do que até mesmo alguns conceitos que defendeu a vida toda. Quem esperava que Miles fizesse isso? Quando a vida toda ele dizia que não poderia olhar para o passado?", afirma Joatan, que também atua como professor-doutor de Trompete, Improvisação e Percepção Musical na Escola de Música da UFBA e como músico da Orquestra Sinfônica da Bahia.

Joatan é ainda mais incisivo ao falar da importância daquele momento e em como aquilo foi um símbolo marcante para a despedida de Miles desse mundo. "Ele não podia mais fazer a música que tinha feito. Mas, de repente, Miles vai e faz. Surpreende nesse quesito. E, de fato, ele já não tocava como tocava no anos 1950. Aquele tipo de música que fez com (o produtor e arranjador) Gil Evans. Como instrumentista, é incrível isso. Você, com uma determinada idade, visitar uma coisa que fez lá atrás, quando era mais jovem. Com um outro tempo, um outro ritmo, outra saúde, outra disposição, outro corpo. Eu fiquei muito surpreso quando vi aquilo. Quando o vi tocando e relembrando aquelas coisas. Pouco tempo depois, ele morre. Eu guardei essas palavras do Quincy Jones: 'Miles sabia que tinha que fazer aquilo', desabafa Joatan.

Fidelidade a si mesmo

Miles Davis era um músico fiel à sua própria trajetória e legado. Sua agressividade e frieza tinha muito a ver com o modo como precisou se impor em um país racista e violento como os Estados Unidos.

Soube explorar ao máximo seu poder de criação dentro do jazz e passou a fundi-lo a outros estilos. A sua identificação era voltada para o seu som e somente para ele. Tal identificação dentro de uma fusão com outros estilos musicais também guia a carreira de Joatan, tendo consciência de Brasil e de ser brasileiro destacada sempre como norte.

"Miles me passou uma coisa muito importante que foi ser eu mesmo. Esse é um conceito que eu acho muito valioso. Quando eu penso, vejo e ouço Miles, e comparo com o que acontecia naquela época, Miles era Miles", finaliza Joatan, cuja raiz musical dentro do manacial dos ritmos populares brasileiros ajudou a moldar essa mesma fidelidade.

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