MÚSICA
Reggaeman Edson Gomes solta o verbo em entrevista exclusiva
Por Chico Castro Jr.
Maior artista solo do reggae brasileiro, o cachoeirense Edson Gomes está sempre rodando por aí com seu show, desde os estados do Nordeste até São Paulo. Boa notícia então, saber que, no dia 28 (um domingo), ele dá uma passada em Salvador para um show na Concha Acústica, dentro do Projeto MPB Petrobras.
Além de Edson, ainda rolam apresentações do grupo OQuadro e do DJ Branco. O primeiro é um dos principais nomes do hip hop baiano e lançou um excelente segundo álbum em 2017: Nego Roque (Natura Musical).
Já o DJ Branco vem a ser um dos maiores ativistas deste movimento na Bahia. Não a toa, produz e apresenta, há mais de dez anos, o programa Evolução Hip Hop, na Rádio Educadora FM.
“O que está acontecendo agora já acontece há muito tempo... A política sempre foi essa”
Para Edson Gomes, o evento tem um gosto especial, afinal, é mais um show na Concha Acústica, palco em que já fez várias apresentações históricas ao longo dos seus 35 anos de carreira. “A expectativa é muito boa, pois é uma volta à Concha depois de um longo tempo sem tocar lá – e ainda mais por ser em Salvador, onde toco tao pouco”, diz Edson, em exclusiva por telefone.
“Os organizadores das grandes festas, como a Prefeitura e o Governo do Estado não me relacionam na lista de cantores populares da Bahia, então canto mais em projetos privados como a República do Reggae. Quando toco em Salvador é geralmente assim”, afirma.
No repertório, além dos clássicos de sempre – Malandrinha, Árvore, Sociedade Falida e outros – Edson promete tocar algumas canções inéditas que estarão em seu aguardado próximo álbum: “O repertório é baseado nos meus sucessos e também traz algumas inéditas, como Pleito e Escribas”, adianta o músico.
Sem lançar álbum de inéditas desde Acorde, Levante, Lute (2001), ele tem planos para um disco novo ainda em 2018: “Esse ano tem previsão para um disco novo. Ainda não tenho o título, mas o repertório sim. Só estou decidindo sobre algumas canções, quais entram ou não”, conta.
Nas greves da vida
Um dado divertido sobre Edson Gomes é que, em todos os movimentos de greve organizados por sindicatos locais – não importa em qual categoria de trabalhadores – o carro de som fatalmente estará tocando um playlist completo do cantor. “Greve sem Edson Gomes não é greve”, é a anedota entre os trabalhadores.
Mas o que o próprio Edson pensa disso? Eis aqui: “Olha, eu me sinto homenageado, é claro. Prestigiado, até. Mas também explorado, né? Porque eles usam minhas músicas nos protestos e greves, mas nas festividades deles, não me contratam”.
Como se pode ver, Edson continua afiado, com uma visão crítica muito clara sobre tudo – inclusive sobre a própria cena reggae. “Sim, eu acompanho a cena, mas prefiro não citar nomes. A cena reggae é muita confusão, cada um atira pra um lado, não existe uma unidade, um objetivo”, afirma.
Esse ano tem previsão para um disco novo. Ainda não tenho o título, mas o repertório sim
“As músicas de pagode e axé tem um objetivo, que é o nada. Nós não temos objetivo: o que queremos mudar, alcançar? Não existe, cada um atira para um lado, então basicamente é um ritmo”, acrescenta.
Apesar de assertivo nas opiniões, Edson é um sujeito reservado, longe de ser o tipo de artista que fica se exibindo nas redes sociais em busca de joinhas. “Na verdade, quem lida com minha rede social sou eu mesmo. Não sou de ficar pendurado na internet. É um lance meu mesmo, bem pessoal”, afirma.
Também não adianta perguntar sobre o Brasil pós-golpe: Edson simplesmente não está interessado. “Não acompanho os assuntos da ocasião. O que está acontecendo agora já acontece há muito tempo, só que agora é tudo escancarado. A política sempre foi essa, está à vista pra todo mundo ver. Eu não me envolvo com política”, conclui o reggaeman.
>> Projeto MPB Petrobras com Edson Gomes, OQuadro e Dj Branco / Concha Acústica do Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, s/n - Campo Grande) / Dia 28, 18 horas / R$ 60 e R$ 30
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