Retrofoguetes volta à cena em grande forma com novo EP

Uma trama pra lá de psicodélica, com um trio de músicos contra um cientista maluco com um fetiche por trajes em látex que invoca um polvo vampiro de outro planeta e emite mensagens de dominação mundial via malignos sinais sonoros hipnóticos. Assim pode ser definido o novo trabalho do trio baiano de música instrumental Retrofoguetes.

Lançado em um chocante compacto verde limão pelo selo norte-americano Otitis Media Records, do Texas, A Nova Onda Hipnótica dos Retrofoguetes é o primeiro trabalho lançado pela cultuada banda baiana desde Enigmascope Vol. 1 (2016) e traz quatro faixas: a faixa-título A Nova Onda Hipnótica dos Retrofoguetes, Mister Peligro, Tentácula e Telemetria.

As três primeiras foram desenvolvidas durante a pandemia e foram produzidas por Tadeu Mascarenhas. Já a última é uma sobra de Enigmascope e foi produzida por André T. Apesar disso, o conjunto de quatro faixas soa perfeitamente coeso e coerente.

Rodando no prato do toca-discos ou sendo decodificado dos zeros e uns dos streamings direto para os fones / caixa de som, A Nova Onda Hipnótica dos Retrofoguetes consegue ao mesmo tempo fazer um retorno às origens surf music do trio e trazer um frescor novo para o som.

Segundo trabalho com o guitarrista argentino / baihense (da cidade de Bahía Banca) Julio Moreno, que assumiu o posto após a saída do fundador Morotó Slim, o EP tem um quê do álbum de estreia, Ativar Retrofoguetes! (2003).

Porém, talvez por já terem se passado 20 anos, pela própria idade mais madura dos músicos, aquela urgência do Ativar! aqui dá lugar a uma certa sabedoria de quem sabe aonde e como quer chegar – ao êxtase que é comum à sonoridade roqueira, mas de uma forma controlada, sem afobamento, com artisticidade.

Liderados pelo baterista fundador Rex, mais Julio e o baixista Fábio Rocha, os Retrofoguetes acionam mais uma vez suas turbinas, a bordo da bela capa do artista visual Edson Rosa. Nada mal para quem passou dois anos de pandemia em rigoroso isolamento.

“Foi estranho, de repente, entender que não era mais possível manter os encontros da banda. Tínhamos muito o que fazer, mas optamos por um confinamento bastante rigoroso, passamos o período inteiro da pandemia sem nos encontrarmos uma única vez sequer”, relata Rex.

“Por sorte, gravamos três temas poucos meses antes da pandemia e foi possível mixar e masterizar essas músicas à distância, então esse período acabou sendo muito produtivo. Acho que a experiência da pandemia, em um contexto político tão extremado, serviu também para confirmar que nós três tínhamos uma forma muito parecida de enxergar as coisas e isso foi muito bom”, acrescenta o músico.

Pervertido e ruberista

Já trabalhar com Tadeu Mascarenhas, um novo produtor – o anterior, André T, produziu todos os trabalhos anteriores do trio – foi um estímulo e um aprendizado a mais: “Cada produtor tem seu método e uma estética própria que acaba permeando o trabalho. Tivemos uma experiência incrível com André, aprendemos muito, mas foi muito bom também trabalhar em um outro formato com Tadeu, foi muito estimulante, nós ficamos muito felizes com o processo e com o resultado”, afirma Rex.

As composições partiram de riffs de guitarra de Julio, que a banda e o produtor foram trabalhando em volta, a fim de construir as faixas: “Dessa vez, Julio trouxe grande parte das ideias, então, eu e Fábio acrescentamos outras, discutimos os arranjos e fechamos os temas. Tadeu também contribuiu bastante com os arranjos de órgão e trouxe a estética que estávamos buscando para o disco”, descreve.

Todas aquelas referências pop / trash que fazem parte do “retroverso” e que convertem os trabalhos da banda em trilhas sonoras para filmes B imaginários seguem intactas em A Nova Onda Hipnótica dos Retrofoguetes, garante o band leader: “Nós sempre pensamos nos temas de uma forma muito imagética. Nesse disco, voltamos ao tema da ficção científica, muito presente principalmente no Ativar Retrofoguetes!, influenciados pelos quadrinhos, séries antigas e filmes de qualidade bastante duvidosa. O disco trilha a história de um vilão pervertido e ruberista que usa a nossa música para abduzir as mentes dos jovens terráqueos”, conta.

Geralmente, artista que lança EP hoje em dia está preparando um álbum cheio novo a sair em breve. Rex, porém, despista: “Sim, seria incrível”, limita-se a responder, sem confirmar nem negar.

Por enquanto ainda não há um show de lançamento agendado para este trabalho, mas Rex garante que depois do Carnaval virá com novidades: “Estamos voltando aos poucos, procurando entender essa nova cena. Programamos uma temporada para depois do Carnaval, mas não pensamos em show de lançamento ainda”.

Dr. Jörgen Rooney

Quem quiser adquirir o compacto físico em vinil tem dois caminhos: ou adquire direto com a banda (contato via Facebook ou Instagram @retrofoguetes) ou no site do selo: otitismediarecords.com. No site está por oito dólares, uma pechincha. Rex tem outra dica: “Dá pra comprar com a gente, mas temos poucas cópias. A distribuidora Reverb Brasil está fazendo a distribuição nacionalmente”, conta.

E afinal, como rolou essa parceria internacional? “Havíamos participado do LP coletânea Surf You Next Tuesday 2, lançado pelo selo texano Otitis Media Records, reunindo bandas de várias partes do mundo. Aí os caras perguntaram se a gente tinha algum material inédito para fazerem um disco só nosso. Tínhamos as três músicas gravadas no Estúdio Casa das Máquinas por Tadeu Mascarenhas e Telemetria, sobra do Enigmascope Vol. 1, produzido por André T. Falei pros caras que só daria pra fazer um compacto e eles toparam”, relata Rex.

“Convidei meu grande parceiro Edson Rosa pra fazer a capa do disquinho e Ronei Jorge escreveu o texto da contracapa. Para garantir uma distribuição nacional (a princípio, o disco só seria distribuído nos EUA), eu fiz uma ponte com a Reverb Brasil e o selo A Meia-Noite Encarnarei no seu Compacto”, acrescenta.

Vale notar que Ronei assina o texto como Dr. Jörgen Rooney, do Conselho Nacional de Comportamento Jovem.

Veterano do rock baiano desde a lendária Os Feios, banda da qual surgiram os Dead Billies e Cascadura, Rex é um dos últimos de sua geração a carregar a tocha ainda acesa deste gênero maldito na Cidade da Bahia. “Eu sempre quis aprender a tocar bateria pra montar uma banda de rock. Depois, passei a montar bandas de rock pra tocar bateria. No início dos anos 1990, criei a Dead Billies e, quando tudo acabou, montei os Retrofoguetes. Nos dois casos, já tinha todo o conceito na cabeça, a estética, os nomes e tal. Acho que fiquei bom nisso”, reflete o baterista.

“Às vezes, me sinto um pouco cansado, esse negócio não é nada fácil, mas acho que ainda tenho gás pra mais alguns anos e, quem sabe, mais algumas bandas”, conclui.

Go, Rex, go!