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ÓPERA DESCENTRALIZADA

Salvador recebe evento internacional ‘Ópera em Pauta’

Encontro faz parte da ‘Ocupação Salvador em Ópera’, que vai até o próximo dia 25, em seis espaços da cidade

Por Elis Freire*

19/10/2023 - 0:30 h
‘Ópera dos Terreiros’ fica em cartaz de hoje até o dia 25
‘Ópera dos Terreiros’ fica em cartaz de hoje até o dia 25 -

Com apresentações da Ópera dos Terreiros, programação ampla de mesas de debates e oficinas ministradas por grandes nomes da ópera, Salvador recebe a Ocupação Salvador em Ópera. Entre hoje e o dia 25, o evento conta com a quarta edição do encontro internacional Ópera em Pauta que aconteceu duas vezes em São Paulo e uma vez no Rio de Janeiro.

Este ano, o encontro discute temas como a descentralização e a diversidade na Ópera, com a presença de autoridades do setor cultural do Brasil e da América Latina. Em Salvador, o evento do Fórum Brasileiro de Dança, Ópera e Música de Concerto é realizado em parceria com o NOP – Núcleo de Ópera da Bahia, como parte da Ocupação Salvador em Ópera.

“Finalmente trazer para fora do eixo Rio - São Paulo é muito bem vindo para nós, porque a ópera é uma arte descentralizada. As pessoas têm ideias errôneas de que a ópera é elitista, velha, não é das massas. Mas a ópera, diferente do que muita gente pensa, está na base da nossa história. Então, no Brasil tem compositoras mulheres, pessoas negras que tiveram a história apagada. Nós precisamos ter uma voz e dar voz. Quem faz ópera falar pela ópera”, conta Flávia Furtado, diretora do Fórum de Ópera, Música de Concerto e Dança.

Com início nesta quinta-feira, 19, o Salvador em Ópera chega ao Espaço Cultural Barroquinha, que será palco do ensaio geral da Ópera dos Terreiros, composta por Aldo Brizzi e Jorge Portugal. A apresentação, que traz a história de um Romeu e Julieta entre quilombos no Brasil Imperial, acontece também nos dias 20, 21, 23, 24 e 25 de outubro, sempre às 19h. A ópera será filmada por três cineastas franceses para ser exibida em 2024 na TV francesa.

Ópera em debate

O grande mote desta edição será debater a descentralização da ópera e mostrar como ela é uma arte abrangente, presente em todas as regiões do país. No dia 24, no Teatro Gregório de Mattos, das 15h30 às 18h, ocorrerá a Mesa redonda do Fórum de Mulheres da Ópera Latinoamérica.

Aberta ao público, a mesa receberá pesquisadoras e realizadoras de Ópera como Flávia Furtado – Diretora Executiva do Festival Amazonas de Ópera, Maylla Pita – Diretora de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura de Salvador e Irma Ferreira – do Ubunto Brasileiro.

No dia seguinte, 25 de outubro, o Teatro Gregório de Mattos receberá mesas de debates para discutir Descentralização (a partir das 10h45), Diversidade (a partir das 14h) e Ópera - Brasil e América Latina (15h45). A programação conta com a presença da presidenta da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE) Maria Marighella, do Secretário de Cultura Jesus Roque de Freitas e outros gestores e pesquisadores das artes. Os debates propõem uma troca com os interessados para buscar políticas públicas de incentivo à Ópera.

“Finalmente temos representatividade e nos organizamos como setor para demandar políticas públicas. A grande importância do encontro é fazer cair barreiras e entender que, na arte do século 21, discutir diversidade e descentralização é fundamental para mostrar para governo e empresariado que a ópera tem uma força gigantesca”, afirma Furtado.

“Se eu fosse apostar em uma manifestação que fosse a bola da vez seria a ópera. A ópera tem uma potência de impacto social e cultural. O Brasil precisa investir nesse mercado que o mundo inteiro está investindo. O país tem uma dívida histórica com essa manifestação e um futuro brilhante pela frente”, exulta.

Lirismo afrobrasileiro

Em comemoração ao Dia Nacional da Ópera, o evento acontece sempre próximo ao 25 de outubro para celebrar essa manifestação artística milenar que une dança, teatro e música. Neste ano, a grande representante desta arte será a Ópera dos Terreiros, com elenco composto por Irma Ferreira, Carlos Morais, Carlos Eduardo Santos, Graça Reis, Josehr Santos, Mauricio Virgens, Vanda Otero e Estevão Batista, além do coro da NOP e seis percussionistas.

Unindo o canto lírico, ritmos afro brasileiros e música eletrônica, o espetáculo conta uma história de amor entre um negro banto e uma negra nagô – um espécie de Romeu e Julieta na história dos negros durante a conturbada construção do Brasil – um amor proibido, devido às diferenças de crenças e costumes entre essas duas nações africanas.

“É uma ópera para o povo! A gente quer testemunhar nossa época com óperas que possam ser cantadas nas ruas. Ela é tradicional porque conta uma história como um filme, mas ao mesmo tempo é inovadora porque é uma produção contemporânea que não tem orquestra - parte da música é eletrônica. Além disso, a Ópera dos Terreiros é uma ópera ancestral com 12 percussionistas de raiz afro, em que só a presença deles é muito forte; um dos cantores principais é babalorixá e interpreta Ogum em cena”, afirma Aldo Brizzi, que assina música e libreto (texto a partir do qual são compostos óperas).

“O canto lírico do NOP tem algo de inovador, porque eles tem todo o saber e estudo clássico, mas eles têm um timbre e um swing que transformam a voz deles em algo único. A Ópera dos Terreiros foi escolhida pela televisão francesa para ser gravada e os cantores vão a Paris representar um momento cultural do Brasil nos Jogos Olímpicos. Cantar música lírica com dendê dá mais energia para o canto lírico de tanta tradição”, conta Brizzi.

Além das apresentações e mesas, o Salvador em Ópera traz oportunidades de aprendizado e intercâmbio cultural. As Salas Boca de Brasa, Nelson Maleiro, o Café Nilda Spencer e a Casa do Benin abrigarão nos dias 23 e 24 de outubro oficinas práticas sobre Direção de Cena na Ópera, Produção, Composição, Gestão e Criação de Grupos Orquestrais e Interpretação e Estilo Operístico.

Coordenada pelo Núcleo de Ópera da Bahia, em conjunto com a Fundação Gregório de Mattos, a ocupação artística Salvador em Ópera tem o patrocínio da Secretaria de Cultura do município. Os ingressos para as apresentações estão à venda no Sympla e custam R$ 30 a inteira e R$ 15 reais. As oficinas têm entrada gratuita, mas o público deve se inscrever pelo site da NOP.

Salvador em Ópera / De hoje até dia 25.10 / Espaços da Fundação Gregório de Mattos / Programação completa, inscrições, informações e vendas: nopbahia.wixsite.com/nop-ba

* Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.

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