MÚSICA
Seu Jorge lança 2º parte de Músicas Para Churrasco
Por Juliana Lisboa

O cenário é o mesmo: o quintal de casa, a laje do vizinho, ou aquela área fechada do condomínio. A linguicinha já acabou e a picanha já está no ponto para ser servida. A galera que já chegou - a Vizinha, o Meu Parceiro e a Amiga da Minha Mulher, por exemplo - faz fila para garantir uma carninha com farofa e vinagrete e aproveita para encher o copo com mais uma cerva gelada.
Enquanto isso, a música continua tocando. Mas não é a mesma música, aquele sambinha do início da festa, porque o churrasco já está com outra cara. A doida já saiu, a vizinha está cuidando do marido que já está bêbado e uma leva nova de gente - como o Motoboy - começa a chegar.
"No final já está todo mundo largado, né? (risos). Mas agora vem chegando mais gente para compor o churrasco. Vem a Bipolar, que é prima da Doida, a Mina Feia, que é amiga da Amiga da Minha Mulher... É uma festa recebendo convidados", explica Seu Jorge, fazendo uma brincadeira ao relacionar personagens-músicas do primeiro volume com outras do segundo.
É sobre a continuação da festa que trata o novo CD de Seu Jorge, o despretensioso Músicas Para Churrasco Volume II. De acordo com o sambista, essa é a segunda parte da trilogia sobre (ou para?) um churrasco entre amigos.
"Todo churrasco tem que ter música e a música tem que acompanhar o churrasco, que vai evoluindo. O som mudou. O samba estava muito presente porque o samba faz parte de mim. Mas o Brasil é um País muito grande, muito maior do que o meu regionalismo. Eu sou do Rio, então eu levo o Rio de Janeiro comigo sempre. Mas Músicas Para Churrasco tem que registrar a versatilidade e espontaneidade do povo brasileiro", decretou.
O disco
Assim como o primeiro álbum, este trata das figurinhas carimbadas nas festas, das situações engraçadas e dos 'perrengues'. No entanto, o estilo soa diferente. Enquanto o primeiro volume pesa mais no samba, este flerta mais com o soul e rhythm & blues, com uma "pegada" do norte-americano Barry White. Nessas faixas, Seu Jorge mostra os vocais - conhecidos pelo tom grave - de uma maneira mais aguda, bastante diferente.
Essa experimentação - ou brincadeira - com outros estilos serve para diferenciar bem um volume do outro. No entanto, se engana quem pensa que o artista resolveu inovar com parcerias. Seu Jorge chamou para o segundo volume colegas tradicionais, como Gabriel Moura, Rogê e Pretinho da Serrinha. "Esses são os meus caras", explicou.
A capa ficou por conta do artista plástico Vik Muniz, que já trabalhou com Seu Jorge antes. O músico disse que foi do amigo a ideia de transformar o encarte num folheto de supermercado. Ou o contrário.
"A primeira ideia dele foi assim: o primeiro volume a gente bota uma cadeira de plástico, dessas de bar. No segundo, duas cadeiras, uma em cima da outra. No terceiro volume, três cadeiras! A ideia era ótima, mas eu tinha combinado com a gravadora que teria minha foto na capa. No segundo disco ele teve essa ideia de usar letras cartazistas de supermercado. E ficou assim!"
Conceitual? Que nada!
Um disco contando uma história ou seguindo um tema não é ideia nova: comum nos anos 1960 e 1970, bandas e artistas nacionais e internacionais, como Pink Floyd, Novos Baianos e até Odair José se aventuraram nesse estilo, batizado de 'conceitual'.
Seu Jorge, no entanto, afasta qualquer intenção de repetir o feito. "As pessoas falaram para mim, no começo, que era um disco conceitual e eu não entendia isso. Eu estava falando de samba, de coisas populares, para gente popular. Nada de coisas amarradas, temáticas alinhadas", explicou. Mas logo ponderou.
"Mas não é errado pensar assim. Sou filho da música brasileira, do Cateano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e do Bezerra da Silva, que serviu muito de inspiração para esse meu disco. Ele cantava crônicas divertidas, falando sobre a favela, sobre traficantes, bicheiros, viciados, para as pessoas rirem. Então, por esse lado, sim, foi um disco muito inspirado nesse formato, conceitual ou não", concluiu.
*A jornalista viajou a convite da Universal Music.
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