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Três músicos gravam disco em homenagem a Caetano e Gil

Publicado sexta-feira, 22 de outubro de 2021 às 06:05 h | Autor: Eugênio Afonso
Yacoce Simôes, Armandinho e Marco Lobo comandam o projeto | Foto: Felipe Oliveira | Divulgação
Yacoce Simôes, Armandinho e Marco Lobo comandam o projeto | Foto: Felipe Oliveira | Divulgação -

Gordurinha, que também era baiano, já tinha profetizado: “um baiano é uma boa pedida, dois baianos uma coisa divertida, três baianos uma conversa comprida e quatro baianos um comício na avenida”. Cinco baianos, então, podem significar um caldeirão de talentos, sobretudo quando o assunto é música.

Ano que vem, 2022, é tempo de festejar os 80 anos de idade de dois dos maiores cantores e compositores que esse país já teve o orgulho de produzir. Por acaso, ambos baianos, um santo-amarense e o outro soteropolitano. Estamos falando de Caetano Emanoel Viana Teles Veloso, que nasceu em 7 de agosto, e Gilberto Passos Gil Moreira, de 26 de junho. O ano: 1942.

Indispensável qualquer outra apresentação. Há décadas, Caetano e Gil fazem parte do imaginário nacional com suas inumeráveis pérolas musicais. Para comemorar a data e parabenizar a dupla, três músicos, também baianos – Armandinho Macêdo, Yacoce Simões e Marco Lobo –, gravaram Retocando Gil e Caetano, um disco instrumental só com canções dos mestres, já disponível nas mais importantes plataformas digitais de música. Os três também gravaram um show que pode ser assistido no canal da Biscoito Fino no YouTube.

“Caetano e Gil foram as maiores referências nacionais para quem curtia, nos anos 1960, Beatles e Rolling Stones. Não tínhamos ainda uma referência brasileira com o contexto do que acontecia no mundo. Quando vi Caetano no Festival da Record, em 1967, pensei ‘olha aí o nosso Beatle’. Ele era o cara que trazia todo esse apanhado musical que estava se fazendo no mundo. E depois veio Gil. Aprendemos com eles a fazer música a partir dessas influências sem sair da essência brasileira”, destaca Armandinho.

Onze músicas compõem o repertório do álbum - Os Mais Doces Bábaros (Caetano), Palco (Gil), Menino Deus (Caetano), A Paz (Gil, João Donato), Sampa (Caetano), Toda Menina Baiana (Gil), A Luz de Tieta (Caetano), Tropicália (Caetano), Eu Vim da Bahia (Gil), Marcha da Tietagem (Gil) e Armandinho, canção feita por Caetano em homenagem ao filho de seu Osmar Macedo.

Referência musical

Yacoce, que toca piano no disco e é responsável pela direção musical dos projetos de Armandinho há quase 30 anos, conta que o critério para a seleção das músicas reflete a relação afetiva que os três têm com a obra de Gil e Caetano.

“Todos nós temos uma intimidade muito grande com a obra dos dois porque ela faz parte da nossa vida musical. Caetano e Gil são dois pilares no desenvolvimento de qualquer músico. Gil é responsável por uma grande sofisticação harmônica, uma mudança de paradigma na música popular brasileira, e Caetano tem um significado absurdo pela sua poética”, revela Simões.

No álbum, a voz das canções é naturalmente substituída por instrumentos musicais, como bandolim, guitarra baiana, piano, e a parte percussiva, que ficou por conta de Marco Lobo. “Uso dois atabaques e um set de percuteria com cajon, caixa, hi hat, pratos, panderola, agogôs e alguns efeitos experimentais, como tubos e garrafa pet. Além de vários sons sampleados, como cabaças d’água, surdos etc.”, conta o músico.

Karaokê

E mesmo sendo um projeto de música instrumental, algo que o grande público brasileiro não tem hábito de consumir, Yacoce diz que a repercussão tem sido boa.

“Acho que a gente deixou fluir muito as canções e as pessoas têm comentado que o álbum consegue permear a vida delas e fazer com que elas cantem as músicas como se fosse um karaokê, e isso é muito interessante. Além do mais, através da música instrumental estamos extrapolando a barreira da língua”, pontua o músico, já de olho no mercado internacional.

Prospecção que Marco Lobo confirma. “Não temos uma tradição (de música instrumental) como na Europa e Estados Unidos, mas temos um espaço aqui no Brasil com muitos festivais e jazz clubs que frequentamos, temos o nosso público fiel e quando gravamos este projeto pensamos em levar pro mundo”.

Mesmo Armandinho, um dos maiores guitarristas brasileiros da atualidade, senão o maior, reconhece que as dificuldades de aceitação da música instrumental são reais. No entanto, com relação a esse disco, o músico acredita que o fato do projeto ter músicas conhecidas aumenta e facilita a comunicação com o público.

“Não é a música de maior aceitação, mas toco desde os 10 anos de idade no trio elétrico de forma muito popular e isso facilitou muito minha comunicação como instrumentista. Tenho me saído bem por conta dessa escola de música popular, de rua, de carnaval. É como se a gente estivesse falando todas as línguas porque a música instrumental é compreendida em qualquer lugar”, pontua o guitarrista, que no disco toca bandolim e guitarra baiana.

Caetano Veloso, um dos homenageados, garante que Armandinho é um instrumentista da mais extraordinária tradução de virtuosismo popular da música brasileira.

“Pra mim, ele é um dos músicos mais importantes do Brasil, na verdade, da história da música popular brasileira. Tem uma enorme modéstia pessoal, o que é tocante. Ele nem pensa nisso, o que é muito bonito”, diz o autor de Alegria Alegria no material de divulgação do disco.

E show presencial com o repertório de Retocando Gil e Caetano, vai ter? “Tem tido muito pedido para que a gente consiga circular com esse projeto, e não só no Brasil. A gente tem muita expectativa de que vai poder, após a pandemia, levar as pessoas pessoalmente para nos ver”, informa Simões.

“A expectativa é realmente muito grande, até porque desde que a gente lançou o disco nas redes sociais tem tido uma resposta muito boa das pessoas. Queremos fazer muita coisa ainda presencial”, complementa e finaliza Armandinho.

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