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APLAUSOSDE PÉ

A Bahia perde Harildo Déda

Ele foi um dos maiores atores e diretores das artes cênicas locais desde a segunda metade do século passado

Por Eugênio Afonso

20/09/2023 - 0:30 h
Harildo foi mestre de boa parte da classe artística do teatro baiano
Harildo foi mestre de boa parte da classe artística do teatro baiano -

Foi-se um ícone das artes cênicas baianas. O ator e diretor sergipano/baiano Harildo Déda saiu de cena, ontem, aos 83 anos. Respeitado, reverenciado e amado por toda a classe artística baiana, Harildo estava internado no Hospital Português com a saúde bastante debilitada e morreu em decorrência de falência múltipla dos órgãos.

Ontem pela manhã, o diretor recebeu diversas e justas homenagens no Teatro Martim Gonçalves - Escola de Teatro da Ufba -, onde era professor aposentado. Em seguida, o corpo seguiu para Simão Dias (Sergipe), cidade em que nasceu e onde será enterrado. Até o fechamento desta matéria, não tinha sido informado o horário do funeral.

Ao completar 80 anos, Harildo ganhou uma homenagem da Fundação Gregório de Matos, que batizou uma das salas do novo prédio, no Espaço Cultural Boca de Brasa (Barroquinha), com seu nome.

Ao longo de mais de 60 anos de estrada, mestre Harildo construiu uma carreira de destaque no teatro, cinema e TV. Foram mais de 70 trabalhos como ator e mais de 20 como diretor. Entre eles, as séries televisivas O Pagador de Promessas, Dona Flor e seus Dois Maridos, Carga Pesada – todas da Rede Globo –, além de filmes como Tieta do Agreste (Cacá Diegues), Central do Brasil (Walter Salles), Cidade Baixa e Quincas Berro D'água (os dois últimos de Sérgio Machado).

Mas o palco foi a sua grande casa. Harildo encenou e dirigiu espetáculos dos mais consagrados e conceituados dramaturgos, tanto nacionais quanto internacionais. Atuou, dentre outros, em , Em Alto Mar, de Slowomir Mrozeck, Dias Felizes, Fim de Partida e A Última Gravação, todas de Samuel Beckett.

E sob sua direção, foram encenadas as peças O Jardim das Cerejeiras, de Tcheckov, Os Pequenos Burgueses, de Gorki, O Tempo e os Conways, de J. B. Priestley, Hamlet e Macbeth, ambas de Shakespeare, Longa Jornada Noite Adentro, de Eugene O'Neill, e muitas e muitas outras.

O ator Gideon Rosa diz que ele adorava os clássicos.

Um dos últimos espetáculos de Harildo foi Em Família, de Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, com direção de Marcelo Flores. Seu personagem – Souza – era um homem que vivia as agruras da velhice em uma sociedade marcada pelas relações do capital e a marginalização dos idosos.

A peça estreou em 2018 e, entre idas e vindas, esteve em cartaz até 2020.

Curioso é que Em Família estreou em 19 de setembro de 2018. E, coincidentemente ou não, exatos cinco anos depois, Harildo se despede da vida terrena e segue para encenar este e tantos outros espetáculos em outros espaços cênicos.

Ao mestre com carinho

Déda nasceu em 1939 e já aos 12 anos veio morar em Salvador. Foi professor da Escola de Teatro da Ufba e mestre da maioria dos atores e atrizes da Bahia desde a segunda metade do século passado. Quase todos passaram pelas mãos habilidosas deste sergipano que adotou a Bahia ainda criança.

Para o diretor de teatro e presidente da Fundação Gregório de Matos, Fernando Guerreiro, Harildo era um amado amigo, mestre, companheiro de ofício que atravessou a cortina e foi brilhar nos palcos da outra dimensão. “Sua vida se confunde com suas peças, seus personagens, seus alunos. Homem de fibra, pertence a uma geração que criou o teatro na Bahia com resistência e determinação. Descanse em paz, mestre, pois sua vida estará sempre presente em cada aluno e aluna que você, cuidadosamente, formou”.

Com a partida de Harildo, a consternação no meio artístico baiano é geral, mas o povo de teatro é quem mais vai sentir falta do mestre da arte de dar vida a tantos personagens. Aquele que imprimia beleza às mazelas da vida, indo das tragédias aos dramas e comédias.

“É um eterno professor da arte que o conduziu durante toda sua existência aqui entre nós. Tem um legado de discípulos fecundos. Dos meus aprendizados com ele, reverbera a percepção do centro físico que cada personagem tem e por onde encarna e emana sua essência. Harildo é vivo, muito VIVO”, exclama a atriz e diretora Meran Vargens.

A atriz Andrea Elia diz que quem passou por ele terá sempre um coração de estudante. “Os recursos que ele, em sua alquimia, se valia para tirar de cada ator e atriz a virada de chave necessária para uma atuação mais verdadeira fazem dele um homem de teatro, senhor dos palcos, mestre de gerações. Que honra tê-lo conhecido, e quem o conheceu, conheceu o teatro… adentrou os mistérios da atuação. Certamente, sua morada se faz no plano elevado dos mestres e no coração de cada um de nós. Evoé, Harildo”.

Já para o diretor de teatro Gil Vicente Tavares, “a dimensão de Harildo, a partir de hoje, vai se ampliar cada dia mais, ao se perceber que o teatro que ele fazia e as gerações que formou ficarão órfãos de uma peça fundamental do teatro baiano. Que seu legado seja celebrado e semeado pelo bem das artes cênicas, tão cambaleantes atualmente”.

Orfandade

Diante de tantos depoimentos saudosos, é fácil perceber que Déda foi um grande mestre e que os atores baianos estão agora, de certa forma, um tanto órfãos. “Harildo sempre foi o nosso pai no teatro, aquele que nos guiava nesse terreno movediço que é a arte de interpretar. Tive a honra de protagonizar Hamlet e Macbeth – dois personagens de Shakespeare – sob a direção do mestre. Estamos todos destruídos, mas continuaremos aqui, ‘vivendo e achando bom’, que era sua resposta quando perguntávamos como ele estava. Viva Harildo Deda”, destaca, emocionado, o ator e diretor Marcelo Praddo.

Para o diretor Djalma Thurler, Harildo cumpriu a missão que ele mesmo escolheu. “Meu bom ranzinza se foi, lutou bravamente até o último momento. Harildo tem vários netos, entre eles meu filho, filhos de seus filhos nas artes cênicas. Ele deixa órfãos vários artistas da cena e irmãos de ofícios”.

Frank Menezes é mais um ator que lamenta a partida do mestre. “É muito difícil dizer o que sinto, é mais do que tristeza. A importância de Harildo na minha vida é muito mais do que exemplo; vem do entendimento do que leva nós atores a sermos o que somos, fazermos o que fazemos. Tenho certeza que isto é o que faz ele ser tão amado por todos. O destino fez com que nunca nos encontrássemos no palco, mas nos encontramos na TV e no cinema. Somos uma quantidade enorme de órfãos”.

Mais uma que se considera órfã é a atriz Iami Rebouças. “Na minha vida, ele foi um mestre. Tenho um carinho imenso – com o verbo no presente mesmo – porque vou continuar tendo, além de uma admiração e gratidão por tudo que me ensinou. Deixou muitos órfãos, mas deixou também uma herança muito grande para todo nós que convivemos com ele. Desejo que ele vire uma estrela muito brilhante e luminosa”.

Parte uma das maiores autoridades do teatro brasileiro, segundo o ator Igor Epifânio. “Ele trazia, em suas aulas, um olhar profundo sobre a comunicação entre ator e espectador. Trazia um prazer único em materializar o invisível e mostrar o movimento que existe dentro de casa personagem. Hoje, o homem sai de cena e ficamos nós, na vida, com seus ensinamentos e missão: perseguir a matéria dos sonhos”.

E para o dramaturgo e professor de Artes Cênicas da Escola de Teatro da Ufba, Paulo Alcântara, Harildo era um incansável homem de teatro. “Ele nunca deixou os palcos. Era desses artistas que tinha uma vocação muito ferrenha. Não é todo artista que passa a ser adjetivado como mestre. Ele é um marco no teatro baiano. Acumulou muita experiência e era aberto ao novo. Temos que baixar a cabeça e reverenciá-lo sempre! Ele viveu para o teatro”.

Outro que conviveu de perto com Harildo, estando ao lado em cena e sendo dirigido por ele, é o ator Gideon Rosa. “Conheci Harildo em 1980, e desde então descobri uma pessoa fascinada pelo trabalho de ator. Todas as peças que fizemos juntos são espetáculos que renderam sucesso de público. Foi uma sorte ele ter trocado Sergipe pela Bahia. O privilégio foi da Bahia de tê-lo aqui por tantos anos”.

O jornalista, escritor e crítico de teatro Marcos Uzel lamenta a morte do mestre e comenta que é uma grande dor pensar que os palcos não terão mais a presença viva, intensa, visceral e potente desse ícone.

“O nosso louco dionisíaco, shakespeariano, apaixonado, que dedicou a vida ao teatro. O mestre incansável, que dizia ser um vampiro da juventude porque sabia dialogar e repassar a sua sabedoria para os artistas jovens. Ele sempre será o cavalheiro do teatro baiano”, decreta Uzel.

Merda, Harildo!!

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