TEATRO
Checcucci comemora lançamento da Coleção Teatro Baiano

Por Eduarda Uzêda

O diretor Deolindo Checcucci, 64, há mais de quatro décadas vem atuando no teatro nas mais variadas funções: encenador, dramaturgo, cenógrafo, figurinista, produtor e ator.
Ex-diretor da Escola de Teatro da Ufba (1996-200) e professor aposentado da instituição, Deolindo também exerceu nesse período o papel de arte-educador.
Com cerca de 60 montagens no currículo (entre textos autorais e não autorais), Checcucci é o que pode se chamar de um verdadeiro homem de teatro.
E ele tem motivos para comemorar, com o recente lançamento de A Coleção Teatro Baiano, obra composta de três volumes de suas peças: Musicais Infanto-juvenis, Peças de Amor e Ódio e Protagonistas Nordestinos, selo da Edufba.
Política cultural - Em Musicais Infanto-juvenis, estão as peças Um Dia, um Sol; Na Lua, na Rua, na Tua; Em Busca do Sonho Pedido, todas já encenadas. O volume também reúne as inéditas A Coroa de Raquel e Joana, A Boneca de Pano que virou Barbie, que o diretor ainda espera montar.
Na opinião de Deolindo Checcucci, falta uma melhor política na área teatral. "Por falta de condições, os solos ou peças com elenco de dois atores são priorizados", afirma o encenador, para quem muitas vezes os poucos editais e verbas disponíveis acabam definindo uma estética. Com isso, boas peças com número maior de personagens acabam sendo descartadas.
Premiada - No volume intitulado Protagonistas Nordestinos , os amantes da cena teatral local poderão encontrar algumas das peças de maior sucesso de Checcucci.
Estão lá a premiada O Voo da Asa Branca ou Luis Gonzaga, o Rei do Baião (sucesso de público e crítica, que atesta o talento do diretor), Raul Seixas, que discorre sobre a vida e obra do Maluco Beleza, além de Maria Quitéria, Irmã Dulce e A Mulher de Roxo.
"Sempre me interessei por personagens baianos. Com texto de Cleise Mendes, também montei os espetáculos Castro Alves e Boca do Inferno, sobre Gregório de Mattos", recorda-se Checcucci. "Os temas sobre os quais escrevi foram surgindo livremente à medida que me interessavam ou surgiram através de convites", complementa o dramaturgo.
Outras peças autorais que movimentaram a cidade como Um Corte no Desejo, Curra, Sexo é com Walkíria, Ciúme de Você e Misererenobis estão no volume Peças de Amor e ódio.
Figura instigante - Medindo quase 1m90, magro (60 quilos, quando jovem pesava menos), tímido, Deolindo Checcucci é natural de Jequié. Neto de italianos, sempre chamou atenção pelo tipo físico, voz pausada, estilo dândi e elegância natural.
"O conheci desde garoto. Um tipo nada típico da Bahia, muito magro, branquelo, comprido e longilíneo, com uma expressão etérea, uma figura instigante que me encantou. Daí tê-lo incluído em elencos de meus primeiros espetáculos de dança, no final dos anos 60", comenta a coreógrafa Lia Robatto, na orelha dos livros.
Imitar o jeito classudo e aéreo de Deolindo, aliás, sempre foi uma brincadeira entre os alunos/atores da Escola de Teatro da Ufba. Em tempos de muitos diretores temperamentais, Deolindo, entretanto, faz a diferença: sempre prioriza o diálogo com os intérpretes.
A diretora teatral Elisa Mendes, que trabalhou com Checcucci algumas vezes, afirma que o dramaturgo e diretor teatral "constrói bons grupos pela forma afetiva de conduzir o processo cênico, com muita harmonia e respeito".
Também o ator Gideon Rosa conta que se trata de "um diretor que ouve, acata sugestões dos atores e gosta de colaborações". Gideon afirma que "a dramaturgia autoral de Deolindo se complementa com o trabalho do intérprete."
Pegada jovem - A atual diretora da Escola de Teatro da Ufba, Eliene Benício, destaca em Deolindo o senso de iniciativa. "Bom caráter, íntegro, sério, foi diretor da Escola de Teatro entre 1996 e 2000", informa.
"Ele é um propositor de ideias. Foi com ele que se sedimentou a ideia da escola construir um novo teatro. Deolindo criou o Palco Verde (espaço teatral alternativo que antes existia na instituição de ensino)", diz.
Eliene lembra que o diretor teatral montou muitas peças da Companhia de Teatro da Ufba. "Como dramaturgo tem uma pegada jovem. É de uma geração que produziu uma nova dramaturgia baiana", afirma.
Respeitoso - Muita gente nem sabe, mas Deolindo assume toda a responsabilidade de cuidar de duas senhoras, uma de 79 e outra de 89 anos, que trabalharam na casa de seus pais. Sobre a velhice, é categórico: "Não é uma coisa fácil de enfrentar. Não tem sociedade que prepare a gente para envelhecer", afirma.
Para o diretor e dramaturgo Edvard Passos, Deolindo esbanja energia: "Ele tem um fôlego muito grande para realizar as coisas. Sabe materializar uma ideia. E além do mais é um gentleman, sabe lidar com os conflitos com elegância".
Deolindo Checcucci não faz coro aos que criticam a nova geração de atores. "Eles aliam maior bagagem teórica à prática da cena. Antes, éramos mais práticos", finaliza.
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