TEATRO
Espetáculo da Ufba homenageia diretor Deolindo Checcucci

Por Luis Fernando Lisboa

Ao longo de 60 anos, a Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba) viu uma coletânea de personagens ganharem vida nos seus corredores: desde as apocalípticas criações dos tragediógrafos gregos até aqueles saídos das mentes dos inúmeros estudantes da instituição.
Essa verve criativa completa seis décadas em 2016 com a disposição de um jovem aprendiz. Para marcar o início dessas comemorações, que acontecerão por todo ano, o espetáculo musical Vozes do Desejo entra em cartaz quinta-feira, 21, às 20 horas, no Teatro Martim Gonçalves, e segue até o dia 31.
Sob direção de Hebe Alves, a peça reúne trechos de nove obras teatrais produzidas pelo dramaturgo, diretor e professor Deolindo Checcucci ao longo de dez anos. Ele, que é considerado um dos grandes nomes da história teatral baiana, lançou, em 2012, três volumes que apresentam esses textos: Peças de Amor e Ódio, Protagonistas Nordestinos e Musicais Infantojuvenis.
Deolindo afirma que essa é a primeira vez que terá alguns dos seus textos montados por um outro diretor. Por isso, preferiu não acompanhar as etapas do processo. "Realmente será uma surpresa para mim. Quis que fosse assim. Hebe me propôs assistir os ensaios, mas preferi esperar a estreia. Acredito muito nesse trabalho".
Além disso, ele classifica essa homenagem, nos 60 anos da escola, como lisonjeadora: "Espero que esse resultado seja positivo para que o teatro baiano cresça ainda mais".
A diretora Hebe Alves conta que escolheu excertos dos espetáculos que fazem parte dos livros Peças de Amor e Ódio e Protagonistas Nordestinos. Por isso, importantes temas contemporâneos, como homofobia e violência contra mulher, aparecem nas cenas. Grandes personalidades baianas, como Maria Quitéria e Raul Seixas, também serão retratadas.
"O elenco se reveza em cerca de 100 personagens. Como se trata de homenagem, convidei intérpretes que estiveram com Deolindo ao longo da carreira. Além disso, fizemos um processo de seleção com estudantes do primeiro ao penúltimo semestre", explica Hebe.
O ator baiano Mário Gadelha fez parte da primeiro turma do curso de teatro da Escola e integra o elenco de Vozes do Desejo numa participação especial (ele interpreta Dom Eugênio Sales no episódio sobre Irmã Dulce). Ele já trabalhou em vários espetáculos de Deolindo Checcucci e afirma que a emoção é igual. "Acompanho ele desde que ele veio de Feira de Santana. Colaborar com Deolindo sempre foi importantíssimo para mim".
Mario também destaca que as trocas com os jovens atores do elenco têm sido renovadoras. "Eles têm brilho e vontade de acertar. Isso me contagia e me faz bem", ressalta.
Poder musical
Elemento estratégico na obra de Deolindo Checcucci, a música aparece com protagonismo no espetáculo Vozes do Desejo. O diretor musical da peça, Luciano Bahia, comenta que as canções serão executadas ao vivo pelo próprio elenco e por músicos estudantes da Ufba.
"A música segue o que cada peça pede. Obviamente, o rock e a música nordestina se destacam nos trechos de Luiz Gonzaga e de Raul Seixas. O mundo underground de Curra, Misererenóbis e Um Corte no Desejo tem um tratamento com música atonal e ruidosa".
Para Deolindo, a música nas suas peças é relevante por conta da própria trajetória. "Quando criança ouvia Luiz Gonzaga em praça pública e sempre estava presente nos festejos de Carnaval. Nós somos um povo bem musical. Também fiz mestrado nos Estados Unidos em direção teatral. Daí, acho que uma coisa casou com outra".
Seis décadas
Vozes do Desejo marca o início de um ano comemorativo. Eliene Benício, diretora da Escola de Teatro, comenta que a proposta que apresentou na congregação de professores tinha a intenção de evidenciar as atividades realizadas há algum tempo, além de novidades.
"Nós vamos realizar uma Virada Artística do dia 12 para 13 de junho. Serão 24 horas de muitas atividades em todos os espaços da escola. Não serão só peças", adianta. Já no Prata da Casa nomes da própria Escola de Teatro, como Ewald Hackler e Meran Vargens, levarão suas obras para o palco celebrando 60 anos com pompa.
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