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20/03/2021 às 8:00 | Autor: Eduarda Uzêda

TEATRO

Festival de Teatro do Subúrbio abriga 15 montagens em formato virtual

O baiano Hilton Cobra em cena de Traga-me a Cabeça de Lima Barreto | Foto: Adeloya Magnoni | Divulgação
O baiano Hilton Cobra em cena de Traga-me a Cabeça de Lima Barreto | Foto: Adeloya Magnoni | Divulgação -

Depois de um recesso de oito anos por falta de captação de recursos financeiros e ausência de patrocínio, o Festival de Teatro do Subúrbio (FTS) volta a todo vapor na sua 5ª edição. A mostra contempla 15 espetáculos, sendo nove nacionais e seis locais que podem ser conferidos de modo virtual e inteiramente grátis.

Os interessados em conferir a programação devem acessar o YouTube do Festival de Teatro do Subúrbio para assistir às peças. Com variadas estéticas, os espetáculos nacionais são representados pelos estados de São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Maranhão, Rio de Janeiro, Sergipe e Brasília. Já os espetáculos baianos são de Salvador e Lauro de Freitas.

Contemplado pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, prefeitura municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, o evento que tem como principal objetivo dar visibilidade ao trabalho dos artistas da periferia, de acordo com o coordenador e idealizador do evento, Márcio Bacelar, também abriga oficinas e mesa de diálogos, além de bate-papos sobre o processo artístico.

“Foram mais de 80 espetáculos inscritos de todo o país. Este ano notamos que a maior parte dos espetáculos se debruça sobre a questão da mulher, o que achamos muito importante e significativo”, frisa Bacelar , que informa que desde 2009, quando da primeira edição, o Festival alcançou mais de seis mil pessoas, contabilizando mais de 40 espetáculos”.

Sem caráter competitivo, o FTS terá em sua programação a apresentação de espetáculos convidados, dos selecionados e dos integrantes de grupos, companhias e/ou artistas iniciantes e/ou amadores.

São muitos os destaques. Na abertura do Festival, terça-feira, por exemplo, às 18h acontece a mesa de diálogos “Outros Olhares: Desafio do Fazer Teatral nas Periferias do Brasil”, na qual todos os grupos vão discutir sobre o tema. Às 20 horas será a vez do espetáculo premiado Traga-me a cabeça de Lima Barreto, da Cia dos Comuns do Rio de Janeiro, com o ator baiano Hilton Cobra, o popular Cobrinha.

Sessão de autópsia

Escrita pelo diretor e dramaturgo Luiz Marfuz, especialmente para comemorar os 40 anos de carreira do intérprete, com direção de Onisajé, a peça mostra uma imaginária sessão de autópsia na cabeça de Lima Barreto, conduzida por médicos eugenistas, defensores da higienização racial no Brasil, na década de 1930.

Por telefone do Rio, Cobrinha afirma que é a primeira vez que vai participar do Festival de Teatro do Subúrbio, afirmando que ficou muito feliz de levar para a periferia “solo que contabiliza mais de 20 mil espectadores e que registra mais de 180 apresentações em mais de 90 cidades brasileiras”.

Na quarta-feira, o discurso feminino começa a se impor. Às 18 horas, a diretora, atriz e arte- -educadora Natureza França representa a comunidade de Tubarão, localizada em Paripe, com a peça Vovó do Mangue e a Baía de Todos os Santos. Ela assina a direção, a dramaturgia e divide a atuação com o ator baiano Davi Bahia.

A montagem, de acordo com a encenadora que fundou o grupo A Corda Samba de Roda de Tubarão e coordena o Centro Cultural Quilombo Aldeia Tubarão, além da plataforma multimídia Favela Revela e a produtora Tubarão Cultura Sustentável, “destaca a presença dos Tupinambá na Baia de Todos os Santos e na região do Subúrbio Ferroviário, bem como a presença africana na área”. Ela interpreta Vovó do Mangue, uma figura mítica da Região do Recôncavo que denuncia a poluição e destruição dos manguezais.

Já Davi Bahia representa Zé de Maré, personagem que está perdido, procurando um caminho, que também é uma busca pela ancestralidade. “No espetáculo, por exemplo, não faltam a capoeira e o samba de roda”, entrega Natureza França.

Quarto de despejo

Neste mesmo dia, às 20 horas, é a vez da peça Despejadas (Grupo Nóis de Teatro, de Fortaleza - CE). O espetáculo é inspirado no antológico livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960), de Carolina Maria de Jesus. Em cena, três atrizes representam muitas Carolinas que refletem sobre o que é ser mulher nas periferias do Brasil.

Outro espetáculo que se enquadra na temática feminina é Piedade, a Seu Dispô (Aracaju - SE), que será apresentado no sábado, às 20 horas. Parceria entre o dramaturgo Euler Lopes e a atriz Isabel Santos, aborda temas como a violência, direitos humanos, sustentabilidade, negligência, feminismos, maternidade e desigualdade social.

Na trama, uma empregada doméstica é abordada pela polícia no meio da noite enquanto volta para casa, sendo interrogada e revistada no meio da rua.

A intérprete Isabel Santos revela que esta mulher perdeu quatro filhos pela violência e que a montagem é fruto de pesquisa dela e de Euler sobre a “condição de invisibilidade e miserabilidade de certas camadas da sociedade”.

Fechando com chave de ouro o FTS, a premiada atriz Eddy Veríssimo apresenta o solo Sobejo, as 20 horas, “que aborda os mais diferente tipos de violência dirigida a uma mulher que vai desde a violência física, a violência psicológica e patrimonial”.

Ela conta que a peça fala de uma dona de casa que é vítima de um marido violento. A intérprete chama a atenção para o aumento de casos de violência durante a pandemia e afirma que esta atinge todas as classes, mas vitimiza mais as mulheres pobres e pretas, moradoras da periferia.

Residente em Plataforma, Eddy acredita que o espetáculo pode contribuir para as reflexão deste mal. São apenas algumas das atrações.

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