ARDIDO FEITO JOÃO
João Pimenta apresenta stand up 'Pimentaverso' este fim de semana
Quem assiste João no palco pode até achar que é de improviso, mas a verdade é que ele roteiriza muito bem
Por Chico Castro Jr.
Ninguém segura João Pimenta. O humorista baiano, um verdadeiro sucesso nacional, se apresenta neste fim de semana no Teatro Jorge Amado, com o espetáculo de humor stand up Pimentaverso.
Natural de Pojuca, o jovem (33 anos em outubro) comediante, batizado João Paulo de Oliveira, conquistou um lugar ao sol no show business apoiado única e exclusivamente no talento para traduzir, em textos muito afiados e performances frenéticas, o dia a dia de um negro periférico que é baiano, mas poderia ser de qualquer outra grande cidade brasileira.
A agenda lotada de shows em todo o Brasil é prova disto. Ao rodar pela região Sul, por exemplo, João nota que o antigo rótulo de “humor baiano” – mesmo que a performance dele seja permeada pelo sotaque evidente e muitas gírias locais – começa a ser, para usar uma palavra da moda, “desconstruído”.
“Durante muito tempo se achou, por parte de outros locais, que não seríamos entendidos fora daqui, chamavam a gente de comédia local, o que é uma bobagem, porque a comunicação acontece bem de boa (em outros estados). Meu público tem colado nos shows em todo canto, numa vontade danada de rir”, conta João, em entrevista por e-mail.
Firmemente amparado no estilo de humor stand up, João pode fazer muitos daqueles que o assistem no palco pensarem que tudo aquilo que ele faz ali é de improviso, tamanha a fluidez e fluência.
Ledo engano: tudo é pensado e roteirizado com antecedência.
“O stand up tem um roteiro, com diversas técnicas, inclusive. Embocadura, estrutura textual até o fim, os callbacks (alusão a uma piada contada anteriormente), os punchlines das piadas, tudo é pensado previamente. Existem coisas que acontecem na hora, mas bem pouco”, conta.
Agressivo?
Uma característica que pode espantar quem ainda não o conhece é uma certa postura agressiva de João no palco. Em seus vídeos, não é incomum ele mandar pessoas da plateia calarem a boca ou mesmo para “aquele lugar”. Evidentemente, é tudo parte do show e o resultado são mais gargalhadas por parte da plateia.
Acontece que esta é até uma tradição do stand up mais arrojado. Desde antigas lendas do gênero, como Richard Pryor, Lenny Bruce, George Carlin e Eddie Murphy, até mais atuais, como Chris Rock e Sarah Silverman, entre outros, todos eles distribuem socos e pontapés verbais para todo lado nas apresentações.
“Na verdade, o povo já acha agressivo só de ver um preto em cima do palco, é como geralmente nos enxergam”, afirma João. “Xingar não tem a ver com a agressão. Tem tanta gente que não xinga e que levanta uma bandeira preconceituosa, então não vejo muito sentido nisso”, acrescenta.
Felizmente, o público do humorista entende que é parte do número e nunca houve relato de reação de alguém da plateia: “Nunca me deu problemas em relação a agressão, meu público é bastante educado. E meu trabalho não se resume a isso”, observa.
Por falar em outros humoristas e influências, João faz questão de citar como os maiores influenciadores os próprios parceiros da cena do stand up baiano.
“Meus amigos da minha cena: Jhordan Matheus, Matheus Buente, Tiago Banha, Juninho Brandão, Daniel Ferreira, Samuel Belmonte, Danrlei Carvalho”. E acresenta que, “da gringa”, gosta muito de Trevor Noah: “Ele é fora da curva”, elogia.
Sudestino
Em 2021, João deu um passo importante na carreira, ao ingressar no grupo Porta dos Fundos, dos consagrados Fabio Porchat, Antonio Tabet e Gregório Duvivier.
Não demorou e João, ao lado da (ótima, diga-se de passagem) colega pernambucana Ademara Barros, protagonizou um dos vídeos de maior sucesso do canal de YouTube do Porta, Sudestino.
Na esquete, vemos Ademara e João reduzirem o típico paulista farialimer de coletinho vivido por Gregorio Duvivier (que é carioca) a pó, ao tratarem sudestinos e sulistas como “tudo igual”, mais ou menos como eles fazem com os nordestinos desde que o mundo é mundo.
O vídeo lavou a alma de muita gente do lado de cá e tem quase dois milhões e meio de visualizações. De lá para cá, ele fez diversos outros vídeos para o canal, além de participar dos especiais de fim de ano.
“[Entrar no Porta dos Fundos foi] Uma oportunidade incrível, depois de 15 anos trabalhando e tentando fazer algo notável nacionalmente. Os donos estavam de olho no meu trabalho e fizeram o convite. Tô lá vai fazer três anos e tô bem satisfeito com o trampo”, afirma João.
“Já gravei algumas séries, dois filmes com o Porta e comecei um trampo profissional de dublagem também. Sempre tive esses planos. De uns anos pra cá, tô conseguindo realizar”, conta o humorista.
Trabalhador que só, João está com a agenda cheia pelo menos até julho. De Salvador, ele parte para uma turnê baiana e nordestina em maio, passando por Feira de Santana (dia 18), Jequié (19), Itabuna (20), Ilhéus (21), Natal (26) e Recife (28). Em junho, volta ao Sudeste e ao Sul, com muitas apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro e cidades do interior “sudestino”.
Mesmo com todo esse apelo, João ainda mora e pretende continuar morando em Salvador. “Eu continuo morando na Bahia, sou do interior e moro em Salvador há 11 anos. Não tenho planos de me mudar. Tô perto de todos que amo por aqui e isso me basta. Quando preciso trabalhar, vou e volto”, conclui.
Ninguém segura João Pimenta.
João Pimenta em Pimentaverso / Sábado (às 20h) e domingo, 19h / Teatro Jorge Amado / R$ 100 e R$ 50 / Vendas: bilheteria TJA ou Sympla / Classificação: 14 anos
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