O MUNDO DE MARIA
Maria Menezes comemora 30 anos de carreira e volta ao teatro
MM: “A peça é comemorativa, autobiográfica, mas não cronológica ou realista. É um fluxo de ideias”
Por Eugênio Afonso
Afastada dos palcos há quase 10 anos, mas com presença constante e marcante na TV local, a atriz sergipana Maria Menezes, 55, decidiu comemorar os 30 anos de carreira – na verdade, 33, mas a pandemia, para variar, atrapalhou os planos de comemorar em 2020 – no espaço onde tudo começou: o teatro. Hoje, às 20h, no Teatro Módulo, ela estreia oficialmente (já foram realizadas algumas pré-estreias) a comédia solo Maria AO VIVO! (ou Mamãe tá aqui).
Com um texto escrito em parceria com o diretor de teatro baiano João Sanches, 43, (Egotrip – Ser, ou não ser?), Maria, que se considera uma baiana nascida em Aracaju, – vive aqui desde os 18 anos – apresenta ao público um espetáculo recheado de questões e acontecimentos ligados à sua biografia.
“A peça é a encenação dos meus pensamentos, como diz João. É comemorativa, autobiográfica porque parto de experiências vividas, mas não cronológica ou realista. É um fluxo de ideias. Ela transcende os fatos relacionados às minhas experiências. É uma comédia com momentos tocantes, já que abordo muitos aspectos da vida humana”, conta Menezes.
A ideia é explorar o humor da atriz, mas também seu lado mais íntimo, pessoal e vulnerável. “Por isso, além de engraçado, o espetáculo é muito emocionante”, garante Sanches, responsável pela direção. “Mais do que encenar uma história, a peça coloca em cena diversas ideias e situações”, enfatiza o diretor.
Interativo, Maria AO VIVO! mistura comédia, vida real e ficção, expondo vivências pessoais e percepções da mulher contemporânea. Menezes acrescenta sua experiência televisiva de escuta e interação com o público das ruas para ampliar a discussão sobre temas como casamento, gravidez depois dos 40, vida pessoal e profissional.
Em cena, para contracenar com a atriz, apenas uma máquina de lavar e um painel de varais. Enquanto lava roupa, a personagem vai associando suas histórias aos ciclos da lavagem.
“Tenho uma ligação muito forte com a máquina de lavar. É meu eletrodoméstico favorito (risos). Minha ação na peça é lavar e pendurar roupas. Nossa vida são ciclos, então é fácil associar ciclos da vida com ciclos de uma lavagem. Tem início, meio e fim, tem etapas mais agitadas, outras mais suaves. Essa analogia é uma coisa quase poética pra mim”, declara Maria.
Testemunho pessoal
E depois de três anos de processo e um ano corrido de trabalho em sala de ensaio, atriz e diretor optaram mesmo por encenar o mundo interno de Maria: seu pensamento, suas memórias e imaginações.
João, que é doutor e mestre em Artes Cênicas pela Ufba, diz que o espetáculo é um verdadeiro monodrama polifônico. “Ou seja, colocamos em cena a subjetividade de alguém (uma personagem ou um autor), encenamos seu mundo interno composto de uma diversidade de pensamentos, vozes, pessoas, ideias, memórias, imaginações e sentimentos, conferindo um caráter também lírico e onírico. Há um teor documental, o que a aproxima do público e permite uma série de identificações entre eles”, revela Sanches.
Ele conta ainda que a peça tem muitas situações diferentes, muitas personagens e várias histórias. “O desafio da encenação foi não abrir mão dessa diversidade, colocando tudo em cena de maneira divertida, poética e também não linear como é nosso pensamento na maioria das vezes. O desafio é fazer isso sem deixar a peça confusa”, explica.
E dirigir Maria foi trabalhoso? “Foi muito fácil e divertido. Ela é uma atriz extraordinária. Na minha opinião, uma das mais talentosas do País. E, além disso, nossas referências são muito próximas. Nossa ancestralidade no teatro baiano tem matrizes comuns”, confidencia o diretor.
“Para mim, a importância de Maria Menezes é enorme. Seu trabalho contribuiu para que eu quisesse me profissionalizar no teatro. Sou fã de seu humor, sua inteligência cênica, rapidez e sensibilidade. Acho incrível a versatilidade e a expressividade corporal de Maria. É uma atriz completa”, elogia Sanches, fã confesso da atriz.
Arte do ator
Maria também acredita que o público vai mesmo se identificar em vários momentos, já que a peça aborda experiências comuns a todos. “É um espetáculo que fala da vida, da alegria de viver, o grande ato político do momento”, frisa a intérprete.
Ausente dos palcos desde que engravidou tardiamente em 2014, aos 46 anos, Maria diz que, de lá pra cá, decidiu ficar mais devotada à maternidade, mas que está voltando com essa peça comemorativa, e que, a partir de agora, pretende não se afastar mais do teatro.
“Se não estiver no palco, estarei na plateia. Nada se compara ao corpo a corpo, ao momento presente que o teatro traz. É muito mais ritualístico. A TV tem outra função, você grava, estuda, decupa, tem toda a tecnologia em volta, e eu gosto muito também. Mas, sem dúvida, o teatro é a arte do ator”, finaliza a intérprete.
Minibio
Tudo começou no teatro em 1990. E apesar de já ter sido dirigida por renomados diretores baianos, como Luiz Marfuz (O Casamento do Pequeno Burguês), Paulo Dourado (Los Catedrásticos) e Hebe Alves (Uma vez, Nada Mais), Maria é mais conhecida do público baiano por suas performances na TV, mais precisamente no quadro De Passagem (ex-Mapas Urbanos) do programa Mosaico Baiano (TV Bahia/Rede Globo).
Durante sua trajetória artística, recebeu prêmio de Melhor Atriz nos Festivais de Florianópolis (SC) e Guaramiranga (CE). Recebeu também três indicações ao prêmio Braskem de Teatro. No cinema, participou dos longas Central do Brasil, de Walter Sales, Cidade Baixa, de Sérgio Machado, O Céu de Suely, de Karim Ainouz, A Morte de Quincas Berro D’Água, de Sérgio Machado.
Na TV, participou do Fantástico (Rede Globo), foi dirigida por João Falcão na série Brasil 500 anos (2000). Protagonizou a série E eu com isso?, 2006. De 2007 a 2018 foi a dona Encrenca, no quadro do Inmetro, quando se tornou nacionalmente conhecida. Na TV Bahia, participa atualmente do Mosaico Baiano, programa semanal de grande popularidade no estado.
Maria AO VIVO! (ou Mamãe tá aqui) tem cenário e figurino de Zuarte Jr, iluminação e operação de luz de Otávio Correia, e trilha sonora do mestre Luciano Bahia. Fica em cartaz, somente aos sábados, até 6 de junho e é uma realização da Carambola Produções.
Maria AO VIVO! (ou Mamãe tá aqui) / 6 de maio a 6 de junho, somente sábado / 20h / teatro Módulo / R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia) - vendas Sympla e bilheteria do teatro / 14 anos
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