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Musical baiano on line exibe Nordeste distópico

Gratuito, espetáculo fica no YouTube até 26 de março, todos os dias, das 19h às 23h

Publicado quinta-feira, 17 de março de 2022 às 06:01 h | Autor: Eugênio Afonso
Os mascates vagueiam com  suas malas cheias de histórias e lembranças
Os mascates vagueiam com suas malas cheias de histórias e lembranças -

No musical baiano O Caminho dos Mascates, um muro separa Brasil e Estados Unidos do Nordeste brasileiro. Para validar a história, o autor criou os Unidos Estados do Nordeste (Uene), pedaço de terra sertaneja separado por uma muralha ficcional. Na trama, o público vai poder conhecer a trajetória de alguns mascates que vagueiam por esse território.

Com direção de Elisa Mendes, o espetáculo do Coletivo DUO está em temporada virtual gratuita até 26 de março, todos os dias, das 19h às 23h, com acessibilidade em libras e legendagem, no YouTube do Coletivo DUO.

Mendes confessa que, inicialmente, teve muita dificuldade em conceber uma direção não presencial.

“Para mim, foi muito difícil, mas esse elenco dos Mascates é tão talentoso que eles me surpreendiam e a gente acabava seguindo em frente. Com o virtual, o teatro perde em alguns aspectos, mas ganha em outros, como poder chegar a tantos espaços e pessoas que não têm acesso”, relata a diretora.

Escrito no primeiro semestre de 2020, justamente quando a covid-19 tornou-se pandemia no Brasil, o texto do dramaturgo e músico baiano Denisson Palumbo tem como referência Os Sertões, obra-prima do escritor carioca Euclides da Cunha.

A ideia do autor é questionar o que poderia vir a ser a identidade cultural contemporânea de uma nova nordestinidade. 

“Objetivo do texto é provocar reflexões, emoções, principalmente através da comédia. Ele fala de separação, divisão, segregação, levanta a bandeira da dúvida. Fala exatamente da cultura nordestina, de construção de identidade, de diferenças através de personagens com vícios e virtudes. Escrever a partir das referências nordestinas é também entendê-las”, comenta Palumbo.

Para Elisa, o musical trata das fronteiras metafóricas que lidamos diariamente. “A gente está falando de relação de poder, principalmente porque essas limitações, barreiras e muralhas somos nós que permitimos que se mantenham rígidas, intransponíveis”.  

Histórias e desejos

No elenco, Israel Barreto, Marcos Lopes e Saulus Castros, atores que interpretam os mascates, e Lineu Guaraldo, responsável por todos os outros personagens da trama.

“Eu faço o mascate Antônio das Velhas, um pernambucano que vende todo tipo de produto. Para ele, um oportunista, tanto faz se a muralha do Nordeste vai cair ou não, o importante é saber o que ele vai ganhar com isso. É um romântico que guarda na bolsa objetos de amores que viveu”, conta Marcos Lopes.

Israel vive o mascate Antônio Corrente, personagem com filhos espalhados por onde passa, e Saulus interpreta Antônio Massangano, um homem que tenta construir sua identidade em outro território e acredita que ser brasileiro é negar toda a sua história ancestral.

Espetáculo tem como referência Os Sertões, obra-prima de Euclides da Cunha
Espetáculo tem como referência Os Sertões, obra-prima de Euclides da Cunha |  Foto: Diney Araújo | Divulgação
 

Voltar às ruas

Mesclando diálogos ritmados com canções, O Caminhos dos Mascates, por ser virtual, acabou perdendo o contato direto com as pessoas, mas ganhou a câmera como interlocutora, explorando a dinâmica da edição a partir de diferentes ângulos e enquadramentos.

No entanto, o musical foi concebido para ser um espetáculo de rua em que os intérpretes possam dialogar diretamente com o público.

“Acredito que a rua vai ser, cada vez mais, o palco necessário para que a gente volte a esse trabalho potente do presencial. Ela precisa ser retomada como o espaço dos grandes encontros com todo tipo de público”, endossa Elisa.

Com relação à trilha sonora, Saulus Castros, também responsável pela direção musical, explica que o espetáculo é embalado pela pluralidade dos ritmos nordestinos, como baião, aboio, samba de roda, maracatu, cavalo marinho, frevo, embolada, carimbó, xote, xaxado, seresta e tantas outras sonoridades características de um Brasil mais profundo.

Cenário, figurinos e acessórios de cena, compostos de fragmentos terrosos de tecidos em algodão, couro e malhas, madeiras, metais e plástico, são do diretor de arte Guilherme Hunder. 

O Caminhos dos Mascates tem patrocínio da RV Digital e BM Logística, através da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet, por meio da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo – Governo Federal.


Serviço

O quê: O Caminho dos Mascates

Quando: Todos os dias até 26 de março, às 19h às 23h

Onde: YouTube do Coletivo DUO / Gratuito

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