ARTES CÊNICAS
Peça de teatro usa imagem de peixe para falar de diversidade
Obra fica em cartaz no Teatro da Gamboa até o próximo domingo, 17
Por Eugênio Afonso
Em cartaz no Teatro Gamboa até o próximo dia 17, como parte da programação do mês da diversidade na Bahia, a peça de teatro Pititinga – Peixe Pequeno usa a imagem do animal marinho como metáfora para falar de pessoas atípicas ou corpos marginalizados, sobretudo, no que diz respeito à sexualidade, gênero e racialidade.
Como se sabe, a pititinga, apesar de ágil, é um peixe pequeno, vulnerável, que habita regiões costeiras e costuma ser presa fácil para outros peixes e aves. Além disso, é bastante apreciado pelo homem em porções fritas.
Sob o comando do ator, pesquisador, produtor executivo, gestor e educador conquistense Thiago Carvalho (Corpo Presente) na direção, e com uma dramaturgia autoral e compartilhada, a peça conta com quatro artistas brasilienses do Coletivo Poéticas da Meia Noite no elenco: Ellen Gabis, Davi Dias, Jefferson Vieira e João Paulo Machado.
“O espetáculo é uma revelação dessas criaturas-peixes, arquétipos criados a partir da identificação dramatúrgica, que se fundamenta nas próprias vivências. Ele reflete sobre os delírios sociais dimensionados pela ideia de ‘ter’ e ‘ser’, pela busca incessante desse reconhecimento padronizado”, explica o diretor.
Marcas do abandono
No palco, os três atores e a atriz interpretam seres que mergulham à procura de respostas para questões que escapam à norma e tentam encontrar sentido para suas existências.
A história é costurada através das vidas destas personagens que costumam ser marcadas também pelo amor não correspondido, pelo abandono – às vezes dos próprios pais –, pela incompreensão e invisibilidade e pelo medo da solidão e da morte. Todos eles querem encontrar um lugar no mundo e entender os próprios desejos.
“Eu digo que esses corpos invisibilizados são feitos das cinzas das fogueiras, dos atritos das pedras, das cicatrizes de risos, dos cacos de vidros, das farpas, dos escárnios, do vírus, dos tiros, das covas anônimas, dos campos prisionais, das câmaras de gás, do chorume da necropolítica”, enumera Thiago.
Para Davi Dias, ator que vive um costureiro de histórias de amor que se depara com a relação rizomática entre amor e solidão, seu personagem também pode ser lido como a quinta pititinga, aquela que vive à procura de um coração que possa amar seu corpo machucado, ferido e morto.
“O espetáculo transita entre a energia ritualística de construção desses seres que vivem no devaneio entre a vontade de tornar para casa e o medo da morte. Ele atravessa a solidão de corpos LGBTQIAP+, o abandono parental, a ancestralidade e o estado de quase morte”, pontua Dias.
O ator lembra que nem todo peixe pequeno é pititinga, mas toda pititinga é um peixe pequeno. “Para ser pititinga é necessário se reconhecer assim. Nós somos pititingas porque nos enxergamos pequenos, presentes, mortais”.
Linguagem radical
Com o intento de radicalizar na linguagem, Thiago Carvalho relata que, neste trabalho, tentou criar mecanismo de contraponto ao que está posto como norma, propondo um novo modo de expressão.
Tudo foi construído e estruturado através de experimentos, exercícios e compartilhamentos de depoimentos, fotografias, relatos, entrevistas, cartas e diários.
“A linguagem radicalizada e utilizada na codificação da identidade constrói uma dramaturgia que foge dos condicionamentos sociais, revelando os indivíduos que relacionam-se com o ambiente a que estão inseridos socialmente”, finaliza Carvalho.
A cenografia e a luz são assinadas por Yoshi Aguiar, figurino e maquiagem são de Rino Carvalho, e trilha sonora e sonoplastia ficam a cargo de Gabão. A coordenação geral é do próprio Thiago Carvalho e a realização é do Coletivo Poéticas da Meia Noite.
‘Pititinga - Peixe Pequeno‘ / até 17 de setembro - 19h (de hoje até sábado) e 17h (domingo) / Teatro Gamboa Nova / R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) / 14 anos / Vendas Sympla e bilheteria do teatro
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