TEATRO
Teatro Baiano resiste diante de um quadro de opressão

Por Eduarda Uzêda

O ano era 1968, um dos mais violentos da época da ditadura militar, que, durante 21 anos, impôs um regime de exceção ao País. Prisões e assassinatos dos opositores do golpe, além de cerceamento da liberdade de expressão, imperavam.
Em Salvador, na véspera da estreia da peça As Senhoritas, direção de Álvaro Guimarães, a censura federal veta o texto de Alcyr Ribeiro Costa pela temática abordada: o encontro de três travestis antes e depois do Carnaval. A proibição estende-se por todo território nacional.
"A classe teatral baiana, nem sempre organizada, movimenta-se para reagir contra a proibição, decidindo pela apresentação, em caráter fechado, do espetáculo no Teatro Castro Alves, onde estrearia".
"Após a apresentação de As Senhoritas, os espectadores propunham-se a analisar o texto e os motivos da proibição. A proposta é frustrada devido à invasão da sala de espetáculos pela polícia, numa atitude arbitrária".
"Portando metralhadoras e com ostensivo aparato, os policiais consumam a invasão, expulsando do TCA a classe teatral, espancando e prendendo vários artistas e intelectuais presentes ao evento".
O relato está presente no livro Transas na Cena em Transe - Teatro e Contracultura na Bahia, de Raimundo Matos de Leão, doutor e mestre em artes cênicas da Ufba, escritor e dramaturgo e arte-educador.
Atos abusivos
Este é apenas alguns dos atos abusivos provocados por forças da repressão durante o regime militar em Salvador.
O corte de verbas para o teatro, além de censura parcial ou total de textos, com a proibição de encenação, também aconteceu, bem como a detenção e fichamento de artistas.
O diretor e dramaturgo, Deolindo Checcucci, por exemplo, conta que fazia parte da plateia, assistindo ao espetáculo de Álvaro.
"Todos foram colocados em inúmeras viaturas e levados à Secretaria de Segurança Pública, na Piedade, onde ficamos uma noite detidos. Fomos também fotografados e fichados".

Rompe a mordaça
No livro Transas na Cena em Transe - Teatro e Contracultura na Bahia, Raimundo Matos de Leão, que fez uma pesquisa de fôlego, afirma que, "diante de um quadro de opressão e vigilância, o teatro rompe a mordaça e, quando é obrigado a ficar calado, cultiva o silêncio pleno de significado".
A atriz, dramaturga e escritora Sônia Robatto, membro-fundadora da Sociedade Teatro dos Novos, primeira companhia profissional de teatro da Bahia, lembra a criação do Teatro Vila Velha, em 64. "O Vila foi um centro forte de resistência", diz.
Aluno fundador da Escola de Teatro, Mário Gadelha, 80, afirma que a repressão estimulou a criatividade.
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