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André Dias: "Voltei apaixonado por uma Bahia que tive a oportunidade de redescobrir"

Publicado quarta-feira, 06 de junho de 2018 às 14:02 h | Atualizado em 06/06/2018, 14:05 | Autor: Amanda Silva | A TARDE SP
André Dias, que fez a primeira aparição em Novo Mundo (cabelo curto), agora está em Segundo Sol
André Dias, que fez a primeira aparição em Novo Mundo (cabelo curto), agora está em Segundo Sol -

André Dias tem 27 anos de carreira em peças teatrais, porém o mundo das telenovelas é completamente novo para ele. Seu primeiro papel num folhetim diário foi no ano passado com o personagem Patrício, em Novo Mundo, exibida pela Rede Globo de Televisão. Atualmente o ator está presente todas as noites em Segundo Sol, novela das nove da mesma emissora.

O primeiro personagem do ator possuía uma vestimenta de época, corte de cabelo certinho, sem nenhum bigode e uma personalidade completamente centrada e fria. Com Groa, é totalmente o oposto: islandês recém-chegado à Bahia e encantado com a cultura local, cabelos longos, bigode e barba, estilo totalmente descolado, além de sua personalidade doce e companheirismo marcante.

Na entrevista a seguir, o ator conta sobre como foi esta transição, fala sobre sua parceria em cena com Giovana Antonelli, além de demonstrar toda sua paixão e encantamento pelo mundo da televisão.

Como está sendo a experiência de interpretar o Groa?

É o primeiro grande papel que eu faço numa novela das nove, com isso, acaba sendo um grande divisor de águas na minha carreira. Certamente é um papel que me marcará pelo resto da vida. A experiência não podia ser melhor! É um personagem transformador. Acho que o Patrício, apesar de ser um personagem menor, me preparou para viver o Groa. É um momento da minha carreira que eu valorizo muito, porque é um período extremamente iluminado para mim. O personagem tem uma missão espiritual durante a novela, isso faz com que eu acabe trazendo isso para a minha vida também.

E a recepção deste personagem diante do público? Como você está sentindo isso?  

Há duas semanas eu estava muito nervoso e apreensivo com tantas novidades. É um personagem que tem sotaque, que tem uma composição, um figurino, um cabelo, uma maquiagem. É tudo muito. Então eu estava bem apreensivo de malharem o sotaque e a caracterização, mas isso não aconteceu. As pessoas entenderam a relação de amizade entre a Luzia e o Groa, perceberam que ele tem um bom caráter e compreenderam, inclusive, como ele procede mediante as adversidades da vida. Então eu estou muito feliz! Vejo uma aceitação muito grande por meio das redes sociais. As pessoas estão amando tanto a relação dos dois que pedem pela permanência do Groa na segunda fase.

A novela é gravada com três meses de antecedência, então o nervosismo por não saber como ficará toma conta. Quando estreia e há todo esse retorno positivo, acaba sendo gratificante demais ver que todo o esforço e ansiedade valeram a pena.

Você passou praticamente toda sua carreira se dedicando ao teatro e ao cinema. Como foi sua entrada nas telenovelas?

Entrei ano passado a convite do Vinicius Coimbra e da Márcia de Andrade para fazer o Patrício, em Novo Mundo. Foi a minha primeira experiência fazendo televisão diariamente em um estúdio. O personagem era pequeno e foi crescendo aos poucos. Com isso, minha paixão por essa linguagem foi aumentando. Antes eu não me via fazendo televisão, muito menos passando pelas longas esperas dentro de um estúdio. Pensava que iria achar chato se algum dia tivesse essa experiência. O que foi totalmente contrário! Acho instigante demais. Quero continuar fazendo porque transforma a maneira de você atuar por ser outro veículo, outra técnica de atuação. Você aprende com pessoas muito mais novas e vai aprendendo com os mais velhos que sempre foram referência no meio. Por exemplo, contracenar no mesmo estúdio que a Cássia Kiss, ao ver a experiência daquela mulher sendo passada por meio de sua interpretação, isso me transforma. Ou até mesmo com Isabelle Drummond em Novo Mundo, com 23 anos, não tendo de vida o que tenho de carreira, porém me ensinando coisas novas diariamente. A generosidade de assistir aos colegas é o que nos faz aprender. Você sai modificado. Teu ator sai modificado. É um privilégio!

Aproveitando a comparação entre os dois campos, qual é a maior diferença que você está sentindo ao atuar hoje na televisão, tendo feito parte por tantos anos do mundo do teatro?

São veículos completamente diferentes. Interpretar é interpretar, mas a forma com a qual se interpreta no teatro é completamente diferente da televisão, até mesmo pelo volume, pela projeção, por como você interioriza o personagem. A câmera revela muito, então na televisão você não pode fazer muito. No teatro não, lá você tem que comunicar, tem que vestir uma máscara e passar para o público essa máscara. A última pessoa da fileira tem que ver o que você está fazendo, então, existe uma projeção muito maior da voz, da expressão, do corpo. Na televisão, se você fizer demais, eles vão cortando, não vai ficar bom. São linguagens diferentes e você vai equalizando isso.

Você diria que eles se complementam?

Não diria que se complementam, porque são distintos, mas se retroalimentam. A linguagem televisiva interfere na do teatro e vice-versa. Depois que fiz teatro após a atuação em Novo Mundo eu já estava interpretando de uma forma um pouco mais coesa, mais concisa do que a câmera me exige. Às vezes o próprio diretor de teatro te diz para fazer mais porque está pouco. Então há uma equalização entre os veículos, e isso é muito enriquecedor para o ator.

Groa é um islandês que mora num dos estados mais tropicais do país. Como foi a adesão ao sotaque? Você teve dificuldade?

Entrei no elenco da novela pouco tempo antes de começarem a gravar, então minha preparação foi muito curta. Eu já tinha feito alguns personagens com sotaques, mas não o islandês. Obviamente que o idioma perfeito é quase impossível de conseguir falar, então aprendi palavras específicas para colocar em algumas cenas. Porém também tive que fazer um estudo a partir da fonética, porque a direção, além de me pedir um sotaque, pontuou que Groa era um islandês que aprendeu a falar português na Bahia, então mesmo com sotaque de gringo tinha que ter uma musicalidade baiana. Então tive de adequar um segundo sotaque, e isso foi mais difícil. Obviamente, só um islandês poderia decodificar o sotaque, mas juntei o estudo fonético da língua com a musicalidade baiana e deu certo.

Houve uma mudança notável de personalidade e de aparência entre o Patrício e o Groa. Como essa mudança está sendo sentida por você?

Uma das coisas que mais gosto de fazer são personagens completamente distintos e procuro sempre manter a versatilidade não fazendo um personagem parecido com o outro. Então tanto na caracterização quanto no gestual e na voz, eu criei uma figura. Para mim, isso é primordial, é o que me instiga a continuar criando esses papéis. Depois do Groa eu quero que as pessoas não me reconheçam, porque não existe elogio maior para um ator do que ouvir um "eu estou chocado que o Patrício é o Groa", como estão comentando no Twitter. Isso significa que estou criando personagens com almas distintas, conteúdos distintos, e esse é o meu trabalho. A mudança de caracterização, de composição e a versatilidade são fatores que eu mais priorizo na minha carreira.

O que devemos esperar do personagem para a nova fase da novela?

Isso eu não sei, nenhum ator sabe (risos). O barato da novela são as surpresas que vamos recebendo ao longo do tempo quando os capítulos vão chegando. A única coisa que posso adiantar é o que já te falei: ele tem uma missão espiritual na novela, ele se torna melhor amigo de Luzia, e eu acho que ele se tornará uma espécie de guru. Groa se envolverá com o candomblé e terá uma missão espiritual muito grande dentro do núcleo de personagens. Por enquanto essa é a única coisa que eu sei.

A trama é inteira ambientada na Bahia, como está sendo sua relação com a cultura local? O que soma para a construção do seu personagem?

Em primeiro lugar, para o meu personagem é a questão do clima. Acho que a praia (eu, André, tenho uma relação muito profunda com o mar), o país tropical, tudo isso fez com que Groa se deslumbrasse. Em decorrência desses fatores, o calor humano das relações, porque isso não existe na Islândia. Aqui no Brasil as pessoas são mais calorosas, mais afáveis e mais hospitaleiras. Então, eu acho que o personagem se apaixona pelo que o Brasil tem de melhor. A hospitalidade, o carinho e o calor das relações para ele são coisas muito diferentes, pois vem de um país frio cheio de relações frias. Quando fomos gravar na Bahia, passei 30 dias lá. Para mim isso foi extremamente importante porque conhecia pouquíssimo de Salvador. Na verdade, é curioso, porque eu fui a Salvador há 18 anos. Passei o Réveillon de 1999 para 2000, que é o mesmo período no qual se passa a primeira fase da novela. Depois disso, nunca mais voltei. Ao retornar para as gravações, vi uma Bahia totalmente diferente, vi uma Salvador completamente transformada. Todos retornaram para suas respectivas cidades depois das gravações, mas eu não. Decidi estender e ficar 30 dias, impregnado daquele calor, do clima, da cultura e voltei completamente apaixonado por uma Bahia que tive a oportunidade de redescobrir.

Como é a sua parceria com Giovana Antonelli?

André e Giovana são Luzia e Groa. Viramos melhores amigos! A Giovana é uma luz. Ela é uma pessoa que me ensinou a vocação para ser feliz. Onde chega, emana luz e coisas boas. Uma mulher que resolve tudo ao mesmo tempo ao gravar e, em paralelo, ter diversos projetos. Aprendo muito com ela todos os dias. Além disso, Giovana me ajuda muito. Como eu disse, não sou um ator que domina o veículo ainda, estou entrando na televisão, apenas na segunda novela, enquanto ela está há 20 anos no ar. É de uma generosidade e um carinho que não dá para explicar. Estamos nos tornando amigos igual nossos personagens, e isso é muito bacana.

O que o André Dias de hoje diria para o André Dias de 27 anos atrás? 

Você conseguiu.

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