Em Série - Bem meia boca
O Diabo, dizem, está entre nós. Se você tomar a série Lucifer como referência, vai descobrir que ele não apenas está como tem uma casa noturna, sotaque britânco, seduz mulheres e brinca de arrancar desejos secretos das pessoas enquanto tira merecidas férias em Los Angeles.
A produção não é exatamente uma novata. Criada por Tom Kapinos, ela estreou na FOX em janeiro do ano passado e é adaptada de um personagem de Neil Gaiman (o autor de American Gods, que também foi trazida para as telinhas) para os quadrinhos The Sandman.
O personagem é forte e tem seu peso. Na trama, é sustentada a versão de que Lucifer (vivido por Tom Ellis) cansou da rotina infernal e veio passar umas férias na Terra. Gostou tanto da liberdade que prolongou a estadia. E é aí que começamos.
A série estreou recentemente no catálogo da Netflix com a primeira temporada completa. Esses episódios iniciais, no entanto, servem para revelar um roteiro bem preguiçoso.
A história em si é até interessante – para além do lado místico do Diabo em si, é possível ver o seu dilema frente à própria humanização e o despertar da empatia. Isso começa a partir do envolvimento do personagem com o corpo de detetives da cidade.
Essa relação até que não é de todo aleatória – começa quando uma conhecida de Lucifer é assassinada e ele ajuda a detetive Chole (Lauren German) a solucionar o caso. A introdução é útil para nortear os ganchos da primeira temporada.
Primeiro, há a evidente mudança no comportamento do Diabo, que passa a se fascinar pelas nuances da humanidade. Depois, a sua ligação com a detetive dá o tom policial da série (cada episódio é um caso para desvendar).
O tema é até interessante, pensar no personagem enquanto um ajudante da polícia. No entanto, os primeiros episódios da série não convencem.
A persona criada para o Diabo é dúbia: ao mesmo tempo em que tentamos entender sua história, vemos seus trejeitos forçados. A postura quando usa sua influência paranormal para descobrir desejos ocultos dos suspeitos é bastante risível.
Outra coisa que incomoda é o pseudo-romance que o roteiro tenta estabelecer entre ele e Chloe, a única pessoa da Terra que não é afetada pelo magnetismo do protagonista - na verdade, ela demonstra repulsa. O recurso é tão clichê que causa boas reviradas de olhos.
Ainda assim, Lucifer é uma série ruim? Não, existem coisas bem piores. Os casos policiais são relativamente interessantes, o ritmo dos episódios é bom. Para um domingo despretencioso, vale. Desde que ele seja bem livre de expectativas.