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Juízo final de Avenida Brasil é marcado por erros clássicos

Publicado sábado, 20 de outubro de 2012 às 00:51 h | Atualizado em 20/10/2012, 00:58 | Autor: Murilo Melo
Carminha
Carminha -

Se a ideia era levantar o Ibope das 21h da Globo, o autor João Emanuel Carneiro cobriu-se de glórias com a novela Avenida Brasil. Ele conseguiu, além do sucesso da crítica, fazer o mais resistente do espectador ligar a TV e conferir o desfecho da trama nesta sexta-feira, 19. Em clima de decisão de Copa do Mundo, todos os olhares voltaram-se ao folhetim que, durante a exibição do juízo final, trouxe erros em meio a altas doses de drama, revelações e reviravoltas.

Para cumprir esta missão, João Emanuel apostou numa trama extremamente simples e popular. A história contando a saga de Nina em busca por justiça começou desde o primeiro capítulo bem-construída e com direção e produção digna de dar inveja a qualquer produto do cinema, além de ter provado que a dramaturgia ainda continua viva no país. O autor também apostou em personagens cheios de detalhes, conseguindo extrair a melhor faceta de cada, o que resultou numa trama bem costurada.

Entretanto, o mesmo João Emanuel que presenteou o público com ótimas cenas nesses sete meses, pecou em desfechos clichês e visivelmente inexplorados. Foi o caso da descoberta de que Carminha (Adriana Esteves) foi a grande assassina de Max (Marcello Novaes). Uma coisa imperdoável. Sem inovar, essa culpa em cima dos vilões não vem de hoje nas telenovelas. Quem não lembra que depois de tanto mistério a megera Laura Prudente da Costa (Claudia abreu) matou Lineu Vasconcelos (Hugo Carvana) na novela Celebridade? E o vilão Olavo (Wagner Moura) foi o culpado por matar Taís (Alessandra Negrini) em mais um mistério do "Quem matou" em Paraíso Tropical? São os vilões sempre que matam? Então não existe mais mistério. 

Outra mancada foi a transformação repentina da própria Carminha. Nos capítulos anteriores, a megera disse aos berros, ao ser expulsa da casa de Tufão (Murilo Benício), que "todos lhe pagariam", isso, com uma carga de ódio típica da personagem. No capítulo final, eis que a mesma moça que internou Rita/Nina no lixão aparece arrependida de seus crimes, culpa a vida por todo o mal, toma a arma da mão de Santiago, seu pai, e o fere para salvar Nina e Tufão. Em seguida, confessa para a polícia que ela também foi responsável pela morte de Max, o que resulta em três anos de cadeia.

Não bastasse as cenas clássicas, Carminha aproveita o capítulo para pedir perdão para todos aos quais ela fez mal. Sai da cadeia com os cabelos escuros e vai direto para seu novo/velho abrigo: o lixão. Lá passa a cozinhar (coisa que não sabia) e conhece o neto. Sim, Nina, depois de todo o mal que Carminha lhe fez, enterrando-a viva, só para citar um exemplo, tem coragem de entregar uma criança nas mãos da vilã que, pasmem, gritou no primeiro capítulo que odeia criança.

Com o destino de Carminha, sabe-se lá porque justamente esse destino, ficou a velha mensagem do politicamente correto, aquela de que os maus pagam no final e os bons colhem por ter esperado a justiça divina. Para uma novela que se assumiu inteiramente humanista, com criança sendo abandonada no lixão, é um fim não condizente com o contexto brasileiro.

O final ainda trouxe aquilo tudo que todo mundo já viu em dezenas de produções: muitas mulheres grávidas, casamentos e decorações exuberantes, gente feliz e unida bebendo champagne, externas em aeroportos... e por aí vai. Ivana acabou com Silas, as três peruas Noemia, Verônica e Alexia assumiram a vida de suburbanas e voltaram para o Divino, enfim casando-se com Cadinho.

Avenida Brasil acabou seguindo o mesmo destino de outras tramas de sucesso, com um fim que não teve o mesmo achado da novela inteira, sem agilidade, sem surpreender, apenas enchendo linguiça e ponto.

Audiência - A trama atingiu 51 pontos de audiência, com picos de 53, de acordo com números prévios do Ibope para a Grande São Paulo. Cada ponto equivale a 60 mil domicílios. Somados, SBT e Record fizeram cinco pontos de média.

A participação entre os televisores ligados na Globo, o share, foi de 75% - ou seja, a cada cem televisores ligados, 75 transmitiam a novela. Foi um resultado superior ao das quatro últimas novelas das nove.

A obra antecessora, Fina Estampa, conseguiu 47 pontos de pico de audiência. "Avenida Brasil" não conseguiu, no entanto, bater o recorde de outra criação de João Emanuel Carneiro, "A Favorita", que terminou com 55 pontos.

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