TELEVISÃO
Les Revenants é série de mortos-vivos à francesa
Por Chico Castro Jr.
O que você faria se, um belo dia, um ente querido já morto batesse à sua porta - vivo e exatamente como era, antes de morrer? Poderia ser sua filha, um ex-namorado, sua mãe. É esta situação que se apresenta na premiada série francesa Les Revenants, que volta ao ar a partir de deste sábado, 19, a noite, no canal +Globosat.
Já exibida no Brasil pelo canal MAX, a série, que tem apenas duas temporadas com oito episódios cada, ganha agora esta reexibição, uma boa oportunidade para quem não conseguiu assistir da outra vez.
Ambientada em uma isolada cidadezinha nos alpes franceses, Les Revenants mostra o que acontece quando pessoas mortas, de repente, voltam à vida, sem a lembrança de terem morrido, perplexos, em estado de confusão mental.
Quando seus parentes se deparam com os "retornados", instala-se um drama familiar sombrio - com toques de sobrenatural - ao estilo dramatúrgico francês, com seus diálogos pesados, entremeados por silêncios e sussurros.
A trama centra-se em alguns personagens. Há Victor (o jovem ator Swann Nambotin, um achado da série), o menino sinistro e mudo cujos pais ninguém sabe quem são, e que é temporariamente adotado por Julie (Céline Sallette).
Camille (Yara Pilartz), outra personagem de destaque, morreu em um acidente com um ônibus escolar, com várias outras crianças. Quando volta, encontra sua irmã gêmea Lena (Jenna Thiam) crescida, criando uma estranha situação.
Há Simon (Pierre Perrier), um jovem noivo que se suicidou pouco antes do casamento, e volta em busca de sua noiva, Adèle( Clotilde Hesme), agora casada com Thomas (Samir Guesmi), um tira local.
Já Serge (Guillaume Gouix), o serial killer local, voltou após ser assassinado pelo próprio irmão, Toni (Grégory Gadebois). Como seria de se esperar, algumas vítimas de Serge também voltam, como Lucy (Ana Girardot), personagem que terá grande importância no decorrer da trama.
Ao longo dos episódios, vamos descobrindo aos poucos as relações entre esses personagens e sobre o passado da cidade, que, algumas décadas antes, sofreu uma inundação com centenas de vítimas fatais após o rompimento de uma barragem, ao estilo Mariana.
Em ritmo lento, porém constante, Les Revenants se vale das excelentes atuações de seus atores e da ambientação intrigante, misteriosa, do seu desenvolvimento narrativo.
Como um bom produto francês, não oferece respostas fáceis e mastigadinhas, a exemplo de suas contrapartes norte-americanas. Em Les Revenants, mais vale a viagem em si do que o destino final.
Climão fúnebre
Outro ponto forte da série - e grande responsável pelo seu climão fúnebre - é sua trilha sonora, criada pela banda escocesa de rock instrumental avant garde Mogwai, muito cultuada no circuito indie desde os anos 1990.
A base de piano, violoncelo, xilofone, guitarra e bateria espartana, a música do Mogwai é melodiosa e sombria na medida certa, potencializando um certo sentimento de pesar que permeia a obra.
Mais para Incidente em Antares (livro de Érico Veríssimo publicado em 1970) do que para The Walking Dead, Les Revenants é na verdade baseado em um filme francês de mesmo nome, lançado em 2004 e dirigido por Robin Campillo.
Com o tema aprofundado ao ser adaptado em série por Fabrice Gobert, Les Revenants é uma grande reflexão sobre vida e morte - ou melhor, como passamos pela vida e como reagimos à morte. Com seus personagens atormentados e cheios de defeitos, a série é como um espelho partido de nossa própria fragilidade.
Les Revenants / Dir.: Fabrice Gobert / Com Anne Consigny, Clotilde Hesme, Frédéric Pierrot, Céline Sallette / Sábado, 21h30 e 22h30 (dois episódios) / Reprises: Domingo, 23h30, Quinta- feira, 13 horas e sexta-feira, 2 horas / Canal +Globosat
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