TELEVISÃO
Marco Pigossi conta sobre campo profissional após se assumir gay
Ator produziu documentário "Corpolítica" sobre candidaturas LGBTQIAP+ nas eleições municipais do Rio em 2020
Por Da Redação

O ator Marco Pigossi contou, em entrevista ao jornal O Globo, sobre como tem levado a causa LGBTQIAP+ para o campo profissional após se assumir publicamente gay em 2021.
Marco Pigossi produziu o documentário "Corpolítica" sobre candidaturas LGBTQIAP+ nas eleições municipais do Rio em 2020. O longa, que foi dirigido e roteirizado por Pedro Henrique França, foi selecionado para Queer Lisboa — Festival Internacional de Cinema Queer, em setembro.
O ator também tem projeto de transformar em filme o pioneirismo do Brasil na distribuição de remédios e antivirais contra a Aids.
Parcerias com o namorado
Em setembro, roda “Best place in the world”, sobre um jovem brasileiro que deixa a família evangélica rumo a Provincetown, famoso reduto LGBTQIA+ em Cape Cod, EUA. Ali, sente-se livre para viver plenamente sua sexualidade, no qual veio o título do filme, inspirado na música de Gilberto Gil.
O projeto marca a segunda parceria de Pigossi com o namorado, o cineasta italiano Marco Calvani, diretor do longa. Na entrevista a O Globo, Pigossi contou mais sobre o processo do longa.
"O personagem era latino, mas virou brasileiro quando entrei no projeto. O Marco acompanhou meu processo de sair do armário e transformar isso numa questão política para abrir caminhos para jovens", conta Pigossi, de 33 anos, por telefone de Toronto, onde roda o spin-off da série “The boys”. "Tenho necessidade de me expressar sobre o meu processo, sobre o que causou em mim, sobre o que pode causar nas pessoas. É uma maneira de eu me curar".
Foi o que Calvani fez no curta “A better half”, produzido por Pigossi e exibido mês passado no Provincetown International Film Festival. Centrado no reencontro de um homem de meia-idade com o responsável por tornar sua vida conturbada, o filme é inspirado no abuso que o próprio Calvani sofreu na infância e o ajudou a trabalhar o trauma. Como se vê, a relação dos dois é regada a cumplicidade.
No início do ano, o ator trouxe o namorado ao Brasil. Calvani “ficou fascinado” com Belém, “porta de entrada para a Amazônia”, onde Pigossi rodava a segunda temporada da série “Cidade invisível”.
"Ele ficou existindo no meu ambiente de trabalho com uma naturalidade que me fez tão bem... A vida inteira meu trabalho e minha vida pessoal eram separados, tinha medo de que descobrissem... Pela primeira vez, esses mundos existiram juntos, e foi emocionante", lembra.
O ator também apresentou Calvani à família:
"Com meu pai, é sempre tenso, não há naturalidade. É distante do universo dele, que é eleitor do Bolsonaro. Não que ele ache que ser gay é falta de porrada, mas se vota num candidato desse... Existe um ideal político que distancia a gente. Ele nunca vai me pegar pelo braço e se unir nessa causa. Diferentemente do amor incondicional da minha mãe", compara. "Mas eles se deram superbem. Meu pai até arriscou um italiano, porque meu avô era italiano".
Em casa, o Pigossi adolescente jamais teve abertura para conversar sobre o assunto. Quando se descobriu gay, foi tomado pela solidão:
"Eu rezava, pedia a Deus para me consertar. A homofobia é tão enraizada que, por mais que a gente assuma, ainda vai lidar com o preconceito interno. Vesti a máscara heterossexual, sempre fui observado pela beleza. Fiz esse personagem hétero para me esconder, o que deixou minha vida mais confortável. E sou branco, privilegiado, classe média, filho de médicos. Imagina quem está na favela, é negro..".
Na escola, também se escondia. Não descia no recreio, dispensou até a viagem de formatura. A salvação veio pelo teatro, onde podia viver outras realidades: "Conheci corpos gays ali. Era um alívio deixar de ser eu. O que era uma fuga, mas carregada de carga cultural, do despertar como pessoa".
Fazer as pazes consigo é algo que Pigossi recomenda: "A pessoa que se aceita e está feliz com o que é conhece uma força enorme. Se sente com poder para ocupar espaços. E o encontro com a comunidade é uma corrente bonita, a gente se sente fortalecido, cria um senso comunitário. Porque, no fundo, o que a gente mais quer é pertencer. Como homossexual, sentia que não pertencia a nenhum grupo. Todos esses corpos passam por isso. E quando passam a pertencer... É do caralho!
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes